6.6.19

Bar sem esperança: Sobre literatura

Cena 1
H1 sentado com livro do Hemingway, M chega fumando.
M – Hemingway é conhecido pelo menor conto do mundo.
H1 – Quando? Antigamente né? Duvido que seja menor que do Dalton Trevisan.
M – cita o conto
H1 – Mas que bosta. Vou fazer um conto menor então: “Caguei-me.”
M – Qualquer ação pode se tornar um conto. Esta necessidade que as pessoas têm de valorizar futilidades.
 Cena 2
H2 na mesa, chega H1 fumando.
H1 – Como se sente hoje?
H2 – Hoje ainda não sei, só sei como me sentia ontem.
H1 – E como se sentia ontem?
H2 – Ontem como um personagem de Tchekhov, antes de ontem como personagem do Mutarelli, mas eu queria mesmo me sentir como um personagem do Herman Hesse.
Chega M.
M – Meninos como estão os desejos de vocês?
H2 – Quanto ao nazismo?
H1 – Ao comunismo?
M – Quanto falta para vocês chegarem até mim?
H1 – A anarquia.
H2 – A anarquia leva muito tempo.
M – Não podemos fazê-la assim? (estala os dedos)
Cena 3
H1 para M – Não se fuma mais nos cafés parisienses?
H2 para M – Sartre e Simone de Beuvoir pararam de fumar assim que pararam de escrever?
Ela tira um cigarro para cada um.
Cena 4
H2 – Karam falando sobre o quarto vermelho do hospital.
H1 – Kundera falando sobre a concepção da merda na teologia.
M – Elena Kolody falando sobre clones.
H2 – Leminski falando latim.
H1 – E japonês.
M – Vamos ligar pro Bortoloto?
H1 – E pedimos pro Arrigo fazer a trilha.
H2 – Ei péra aí, vocês estão mudando o foco.
Cena 5
H1 – Nos falaram muito de Moby Dick e outras tantas histórias do mar, mas a única que li foi a de Jonas e nada me parece mais interessante que parar na frente do mar e olhá-lo e não pensar.
M – Pense na lição de Jonas.
H2 – E toda cultura sapiencial do oriente.
H1 – Eu penso apenas em não pensar, em deixar o mar pensar por mim.
M – Uma vez eu caminhava pela areia, a praia deserta e gelada num inverno, eu carregava vários livros de poetas como Neruda, Lorca, Cruz e Sousa... (ela levanta e sai da mesa)
H2 – O Brasil está ficando sem graça.
H1 – Os norte americanos estão deixando o Brasil sem graça, assim como tudo que eles fazem, tudo que eles tocam.
H2 – São as traduções.

Diego Marcell


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