Cena
1
H1 sentado com livro do
Hemingway, M chega fumando.
M
– Hemingway é conhecido pelo menor conto do mundo.
H1
– Quando? Antigamente né? Duvido que seja menor que do Dalton Trevisan.
M
– cita o conto
H1
– Mas que bosta. Vou fazer um conto menor então: “Caguei-me.”
M
– Qualquer ação pode se tornar um conto. Esta necessidade que as pessoas têm de
valorizar futilidades.
Cena 2
H2 na mesa, chega H1
fumando.
H1
– Como se sente hoje?
H2
– Hoje ainda não sei, só sei como me sentia ontem.
H1
– E como se sentia ontem?
H2
– Ontem como um personagem de Tchekhov, antes de ontem como personagem do
Mutarelli, mas eu queria mesmo me sentir como um personagem do Herman Hesse.
Chega M.
M
– Meninos como estão os desejos de vocês?
H2
– Quanto ao nazismo?
H1
– Ao comunismo?
M
– Quanto falta para vocês chegarem até mim?
H1
– A anarquia.
H2
– A anarquia leva muito tempo.
M
– Não podemos fazê-la assim? (estala os dedos)
Cena
3
H1
para M – Não se fuma mais nos cafés parisienses?
H2
para M – Sartre e Simone de Beuvoir pararam de fumar assim que pararam de
escrever?
Ela tira um cigarro
para cada um.
Cena
4
H2
– Karam falando sobre o quarto vermelho do hospital.
H1
– Kundera falando sobre a concepção da merda na teologia.
M
– Elena Kolody falando sobre clones.
H2
– Leminski falando latim.
H1
– E japonês.
M
– Vamos ligar pro Bortoloto?
H1
– E pedimos pro Arrigo fazer a trilha.
H2
– Ei péra aí, vocês estão mudando o foco.
Cena
5
H1
– Nos falaram muito de Moby Dick e outras tantas histórias do mar, mas a única que
li foi a de Jonas e nada me parece mais interessante que parar na frente do mar
e olhá-lo e não pensar.
M
– Pense na lição de Jonas.
H2
– E toda cultura sapiencial do oriente.
H1
– Eu penso apenas em não pensar, em deixar o mar pensar por mim.
M
– Uma vez eu caminhava pela areia, a praia deserta e gelada num inverno, eu
carregava vários livros de poetas como Neruda, Lorca, Cruz e Sousa... (ela
levanta e sai da mesa)
H2
– O Brasil está ficando sem graça.
H1
– Os norte americanos estão deixando o Brasil sem graça, assim como tudo que
eles fazem, tudo que eles tocam.
H2
– São as traduções.
Diego
Marcell
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