M
– O meu processo é no computador.
H1
– O meu é numa mesa velha cheia de papeis velhos e livros velhos espalhados,
alguns por baixo de mim, dicionários (começa a divagar falando para o
horizonte, a mulher já não olha para ele, mas para alguém que vem),
enciclopédias, léxicos, livros técnicos, de termos, hermenêuticos, panoramas, semióticos,
filologias, notas... (continua olhando para o horizonte).
H2 senta
M
para H2 – Por que quando estamos a sós você não conversa?
H2
– Eu não gosto de conversas com uma só pessoa, é preciso no mínimo três para
que haja cúmplices, e para que as historias se acumulem para estes momentos.
H1
– Alguns se reúnem só para falar futilidades nas ruas, no bares.
H2
– Mas é disso que a vida é feita.
M
– De futilidades?
H2
– Não... de sair e falar futilidades nas ruas, nos bares.
M
– Você mesmo não suporta pessoas fúteis.
H2
– Não estou falando de pessoas fúteis, mas de pessoas que falam futilidades,
isto é bem diferente.
M
– Qual a diferença?
H1
– Pessoas fúteis não pertencem ao “cogito, ergo, sum”, quem “pense, donc il est”
tem na fala fútil muitos motivos e citações para uma noite de teses.
Cada um tira o seu próprio
cigarro e ascende.
H2
– Somos uma geração burra de contemporâneos espertos.
M
– Passar a noite ouvindo bandas gaúchas dos anos 80 e saber todas as músicas e
cantar todas as músicas como se fossem representações exatas disso mesmo que
estamos fazendo.
H2
e M para H1 – É isso sua tese?
H1
– A minha tese é sobre a importância do intelectual em transformar a filosofia
no verbo do eterno retorno para a ausência do ente in progress fron a utopia do
vácuo.
M
– Mas isto vai contra meus valores kantianos.
H2
– Tenho certeza que ele também fazia isto quando visitava as tabernas antes de
se tornar um filósofo da hipócrita modernidade.
M
– Passar a noite falando mal dos outros intelectuais?
H1
– Este é o erro epistemológico que eu coloco como centro definidor na tese, de
como o termo cai facilmente para este lado.
H2
– Não se trata de falar mal por falar, mas de explorar os desvios de valores
alheios sob o efeito do álcool e da noite.
M
para H2 – Mas você inicia isso falando também do Estado.
H2
– Mas o Leviatã contemporâneo é muito maior, mais gordo, ele come fast food.
H1
– Então só resta falar dos nossos semelhantes, os intelectuais, ou, corrigindo,
os pseudo-intelectuais, porque os pseudo são melhores que os de verdade, pois
eles possuem capacidades que não temos, como a capacidade de se associar.
M
– Ao governo?
H1
– Não, a outros pseudos.
Diego
Marcell
Nenhum comentário:
Postar um comentário