18.1.19

A morte de Joe Homeless – O filme


            Joe Homeless morreu? É sério? Bom, neste filme você pode ouvir a história, mas isso não basta, precisamos ir além, precisamos ir à experiência de Joe. Mas aí você pode questionar: a final, este filme é uma ficção? Um documentário? Um docudrama? Um musical? Uma videoarte?
            Eu, particularmente sempre me interessei pela intersecção de ente e objeto causada pela arte, porque neste caso mostra o fazer de produção de valores e não um mero produto de apreciação estética.
            Quando fui chamado para dar meu depoimento, entendi o fenômeno instantaneamente - até porque convivi com o mesmo muito daquilo -; a experiência é que ditaria a obra, aproximando assim a realidade do publico, o acontecimento como uma ficção possível. E esta nada mais é que a própria realidade de Joe Homeless, um guitarrista virtuoso e aventureiro, possuído pelo espírito do blues a contar pelos seus passos o que é a vida de todos nós. Quem não se aventurou sem destino e com pouca grana pelas estradas ou saltando pelos arriscados vagões de ferro? Quem não teve seu violão partido ou roubado em meio a madrugadas alcoólicas? Quem não fumou seu baseado em frente ao mar como se o mundo se resumisse àquela noite estrelada?
            A vida de Joe Homeless pode ser absurda para alguns, abominável para outros e terrível para tantos, mas a verdade é que jamais será vã. E este registro audiovisual, underground, violento e sujo é fundamental para expor esta ideia. Apenas um fragmento da vida do cara que desafiou os limites do sistema, mas que traz nas narrativas de sua morte muito mais questões que respostas; se por acaso sua morte foi um mistério é porque sua vida nunca foi exata, no sentido de ser clara e evidente, mas que sua passagem, os porões clássicos em que tocou na capital do Paraná – uma Londres do terceiro-mundo, que como tal alimentaria parcamente uma alma tão vibrante – e suas andanças mundo afora provaram o valor da existência.
            Ao ver este filme você precisa estar apto para suportar o veneno do rock’n roll, com a ironia de um punk para a textura estética de um grunge que se realiza em cada transição de delírio psicodélico de mundos paralelos, que desembocam em metáforas de entrevistas alternadas por depoimentos reais ou não, num limiar de fato e alucinação a desencarnarem a narrativa que levará a sua morte, que para uns não passaria de um mito ou até uma farsa, como em tantas lendas do mundo pop, isso não importa; apenas digo que se você tem algum soul (alma), funk (transpiração), se seu âmago pesa, então embarque nesta história que por ser causa de um reduto a torna demasiado universal, e que apesar de ter personagens tão específicos pode ser somente uma das muitas encarnações deste espírito, num eterno retorno, assim quem sabe depois de assistir você não redescobre a vida e morte de Joe Homeless como fundamento básico à reflexão, em que a música, esta arte metafísica, nos faz ir além das prisões dos regimes de poder, dando movimento à matéria e, portanto, libertando nosso corpo para a vida!

Diego Marcell

 18/01/2019


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