Joe
Homeless morreu? É sério? Bom, neste filme você pode ouvir a história, mas isso
não basta, precisamos ir além, precisamos ir à experiência de Joe. Mas aí você
pode questionar: a final, este filme é uma ficção? Um documentário? Um docudrama?
Um musical? Uma videoarte?
Eu,
particularmente sempre me interessei pela intersecção de ente e objeto causada
pela arte, porque neste caso mostra o fazer de produção de valores e não um
mero produto de apreciação estética.
Quando
fui chamado para dar meu depoimento, entendi o fenômeno instantaneamente - até
porque convivi com o mesmo muito daquilo -; a experiência é que ditaria a obra,
aproximando assim a realidade do publico, o acontecimento como uma ficção
possível. E esta nada mais é que a própria realidade de Joe Homeless, um
guitarrista virtuoso e aventureiro, possuído pelo espírito do blues a contar
pelos seus passos o que é a vida de todos nós. Quem não se aventurou sem
destino e com pouca grana pelas estradas ou saltando pelos arriscados vagões de
ferro? Quem não teve seu violão partido ou roubado em meio a madrugadas alcoólicas?
Quem não fumou seu baseado em frente ao mar como se o mundo se resumisse àquela
noite estrelada?
A
vida de Joe Homeless pode ser absurda para alguns, abominável para outros e terrível
para tantos, mas a verdade é que jamais será vã. E este registro audiovisual,
underground, violento e sujo é fundamental para expor esta ideia. Apenas um
fragmento da vida do cara que desafiou os limites do sistema, mas que traz nas
narrativas de sua morte muito mais questões que respostas; se por acaso sua
morte foi um mistério é porque sua vida nunca foi exata, no sentido de ser
clara e evidente, mas que sua passagem, os porões clássicos em que tocou na
capital do Paraná – uma Londres do terceiro-mundo, que como tal alimentaria
parcamente uma alma tão vibrante – e suas andanças mundo afora provaram o valor
da existência.
Ao
ver este filme você precisa estar apto para suportar o veneno do rock’n roll,
com a ironia de um punk para a textura estética de um grunge que se realiza em
cada transição de delírio psicodélico de mundos paralelos, que desembocam em
metáforas de entrevistas alternadas por depoimentos reais ou não, num limiar de
fato e alucinação a desencarnarem a narrativa que levará a sua morte, que para
uns não passaria de um mito ou até uma farsa, como em tantas lendas do mundo
pop, isso não importa; apenas digo que se você tem algum soul (alma), funk
(transpiração), se seu âmago pesa, então embarque nesta história que por ser
causa de um reduto a torna demasiado universal, e que apesar de ter personagens
tão específicos pode ser somente uma das muitas encarnações deste espírito, num
eterno retorno, assim quem sabe depois de assistir você não redescobre a vida e
morte de Joe Homeless como fundamento básico à reflexão, em que a música, esta
arte metafísica, nos faz ir além das prisões dos regimes de poder, dando
movimento à matéria e, portanto, libertando nosso corpo para a vida!
Diego Marcell
18/01/2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário