Lembro-me de conhecer
Nelson por uma paixão em comum, o Fluminense, num Rio de Janeiro de Paulo César
Caju entre o Jóquei e o Maracanã, lendo umas bobagens no jornal ou caminhando
pelo underground, pelo resquício de uma tentativa de cinema, e nenhuma crítica
social.
Já havia passado
algum tempo, no início dos anos 90, naquela nova tentativa do Canal 100, quando
meu time tentava voltar a existir, parecia uma outra vida esta que me
apresentava Renato Gaúcho e Romário duelando na cidade maravilhosa, queria ter
todas as cores ditadas pelo expressionismo que Nelson dava às palavras, num
estilo nada alemão, mas carioquíssimo, num colorido vídeo-clip de sensações.
Tá, tudo bem que já
me cansei um pouco daquele ar suburbano do Nelson, mas não é a isto que me viro
neste momento, apesar de ter ido semana passada ver uma peça onde adaptaram
numa mescla as suas obras literários e que a peça me reviveu aquele Rio do
delírio; mas não venho falar de mim, nem dos discípulos do Nelson, que tentaram
pegar sua parte boa e desconsiderar o que não lhes pertence; venho simplesmente
falar de teatro, de cinema e de palavras; legal da parte dele deixar o pessoal
fazer aquela adaptação, ta certo que andam avacalhando o homem da redação,
ficam querendo fazer teatro de nudez e ensaios de tendência sexual e a quem
recorrem? A ele, analista de outra Bagé, muitos gaúchos foram para lá, fazer
pornôchanchada, mas Neville D’Almeida nunca foi dessa, o pornô dele não tinha
nada de chanchada, seja honesto que Rio Babilônia era pós-rodriguiano.
Queria chamar o
Armando Nogueira pra uma conversa sobre o Nelson, mas ele foi sem falar com
ninguém, já o Ruy Castro tá muito Caetano Veloso das pernas, aí não da para
trabalhar, então fiquei de olho pra ver se surgia uma mulata na redação, mas lá
em Curitiba a redação se reduziu a proposta do mercado imobiliário, os jornais
andam as moscas, a vantagem é que a dengue morre de frio antes de ficar
assanhada. Se umas menininhas bonitinhas são ordinárias, sempre nos vem a mente
aquelas atrizes que ficaram imortalizadas como se fossem elas mesmas criações
do Nelson, como se ele fosse escultor de Sônia Braga e Lucélia Santos, Cristina
Aché como Silene então, não tem como ser melhor. Mas voltando a redação...
aquele jornalismo nos dizia muito, muita opinião na época em que opinião era
opinião, hoje se fala muito dela, mas o que ela é não sabemos direito, um misto
de preconceito com egocentrismo, é acho que é isso. Na redação ficam
pressionando, imaginem se pressionavam o Nelson logo após um domingo de
futebol, mas aqui em Curitiba estão jogando futebol, tem tudo aquilo, mas é
diferente, o que me faz gostar daqui é estar longe daquela coisa suburbana de
outrora, mas vamos esquecer esta parte de nosso passado “malandro” e nos
dedicar ao que interessa, _ dizer que aprendemos com Nelson? Seu mérito de nos
ensinar à partir do que aprendeu conosco, as ruas são assim, muitas
possibilidades, pouca reflexão, mas quando entramos no universo rodriguiano,
então começamos a refletir.
Posso dizer-lhes
pessoal, que conheci muito pouco o Nelson, nem posso dizer que o conheci, nos
vimos umas duas vezes, como já disse, entre Maracanã barulhento e redação
acelerada, então nada mais posso afirmar além dele querer me levar para beber chope
no subúrbio, na época eu não bebia chope, até hoje não bebo, mas eu gostava
daqueles giros vagabundos, mas passou a época dos berros, talvez esses gritos
seriam somente má compreensão do que Nelson indicava naquelas histórias,
engraçadinha coisa e tal, é que o povo adora aqueles escândalos, mas se Nelson
gostava ou não, nada posso afirmar, só sei que naqueles dois encontros rápidos
ele não deixou esta ideia, deixou mais naturalidade que outros que andam aí
pela mídia que ainda por cima negam.
Neste sábado fui
visitar minha família no subúrbio e aproveitei para visitar um sebo, de lá saí com
Descartes, Rachel de Queiroz, Rubém Alves, Algusto Boal e um Asfalto Selvagem
do Nelson, ainda não lí, por motivos evidentes, não quero discutir com ele no
ano do centenário, mas se troquei o Fluminense, mais precisamente o futebol por
imaginá-lo escrevendo sobre MMA, então Nelson, perdoa-me por me traíres, porque
neste mundo nenhuma nudez mais será castigada, e isto não é sua culpa, espero.
Diego Marcell
08-2012
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