19.9.12

Um pouco de Nelson Rodrigues no centenário


            Lembro-me de conhecer Nelson por uma paixão em comum, o Fluminense, num Rio de Janeiro de Paulo César Caju entre o Jóquei e o Maracanã, lendo umas bobagens no jornal ou caminhando pelo underground, pelo resquício de uma tentativa de cinema, e nenhuma crítica social.

            Já havia passado algum tempo, no início dos anos 90, naquela nova tentativa do Canal 100, quando meu time tentava voltar a existir, parecia uma outra vida esta que me apresentava Renato Gaúcho e Romário duelando na cidade maravilhosa, queria ter todas as cores ditadas pelo expressionismo que Nelson dava às palavras, num estilo nada alemão, mas carioquíssimo, num colorido vídeo-clip de sensações.

            Tá, tudo bem que já me cansei um pouco daquele ar suburbano do Nelson, mas não é a isto que me viro neste momento, apesar de ter ido semana passada ver uma peça onde adaptaram numa mescla as suas obras literários e que a peça me reviveu aquele Rio do delírio; mas não venho falar de mim, nem dos discípulos do Nelson, que tentaram pegar sua parte boa e desconsiderar o que não lhes pertence; venho simplesmente falar de teatro, de cinema e de palavras; legal da parte dele deixar o pessoal fazer aquela adaptação, ta certo que andam avacalhando o homem da redação, ficam querendo fazer teatro de nudez e ensaios de tendência sexual e a quem recorrem? A ele, analista de outra Bagé, muitos gaúchos foram para lá, fazer pornôchanchada, mas Neville D’Almeida nunca foi dessa, o pornô dele não tinha nada de chanchada, seja honesto que Rio Babilônia era pós-rodriguiano.

            Queria chamar o Armando Nogueira pra uma conversa sobre o Nelson, mas ele foi sem falar com ninguém, já o Ruy Castro tá muito Caetano Veloso das pernas, aí não da para trabalhar, então fiquei de olho pra ver se surgia uma mulata na redação, mas lá em Curitiba a redação se reduziu a proposta do mercado imobiliário, os jornais andam as moscas, a vantagem é que a dengue morre de frio antes de ficar assanhada. Se umas menininhas bonitinhas são ordinárias, sempre nos vem a mente aquelas atrizes que ficaram imortalizadas como se fossem elas mesmas criações do Nelson, como se ele fosse escultor de Sônia Braga e Lucélia Santos, Cristina Aché como Silene então, não tem como ser melhor. Mas voltando a redação... aquele jornalismo nos dizia muito, muita opinião na época em que opinião era opinião, hoje se fala muito dela, mas o que ela é não sabemos direito, um misto de preconceito com egocentrismo, é acho que é isso. Na redação ficam pressionando, imaginem se pressionavam o Nelson logo após um domingo de futebol, mas aqui em Curitiba estão jogando futebol, tem tudo aquilo, mas é diferente, o que me faz gostar daqui é estar longe daquela coisa suburbana de outrora, mas vamos esquecer esta parte de nosso passado “malandro” e nos dedicar ao que interessa, _ dizer que aprendemos com Nelson? Seu mérito de nos ensinar à partir do que aprendeu conosco, as ruas são assim, muitas possibilidades, pouca reflexão, mas quando entramos no universo rodriguiano, então começamos a refletir.

            Posso dizer-lhes pessoal, que conheci muito pouco o Nelson, nem posso dizer que o conheci, nos vimos umas duas vezes, como já disse, entre Maracanã barulhento e redação acelerada, então nada mais posso afirmar além dele querer me levar para beber chope no subúrbio, na época eu não bebia chope, até hoje não bebo, mas eu gostava daqueles giros vagabundos, mas passou a época dos berros, talvez esses gritos seriam somente má compreensão do que Nelson indicava naquelas histórias, engraçadinha coisa e tal, é que o povo adora aqueles escândalos, mas se Nelson gostava ou não, nada posso afirmar, só sei que naqueles dois encontros rápidos ele não deixou esta ideia, deixou mais naturalidade que outros que andam aí pela mídia que ainda por cima negam.

            Neste sábado fui visitar minha família no subúrbio e aproveitei para visitar um sebo, de lá saí com Descartes, Rachel de Queiroz, Rubém Alves, Algusto Boal e um Asfalto Selvagem do Nelson, ainda não lí, por motivos evidentes, não quero discutir com ele no ano do centenário, mas se troquei o Fluminense, mais precisamente o futebol por imaginá-lo escrevendo sobre MMA, então Nelson, perdoa-me por me traíres, porque neste mundo nenhuma nudez mais será castigada, e isto não é sua culpa, espero.


Diego Marcell
08-2012


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