19.9.12

Tetro de Coppola



            Tetro é o personagem principal desta co-produção Argentina, Espanha, EUA e Itália onde vemos um Coppola sensível, mais sul-americano que tantos aqui nascidos. Sempre explorando uma bela fotografia, personagens secos e amáveis ao mesmo tempo; o diretor percorre um tema subjetivo ao levar a trama toda pelos mistérios do personagem título.

            Coppola te faz acreditar que aquela história existe, que há um grande maestro celebridade nos Estados Unidos que é ovacionado como gênio, e que nos é omitido como pessoa. Também nos faz crer num anônimo que vive no underground artístico de Buenos Aires, escritor de um grande livro nunca publicado que revela alguma coisa do seu passado; e ainda nos presenteia com a participação de Carmen Maura como a maior crítica teatral da América do Sul.

            O grande mérito deste filme está na materialização da essência de um escritor nato em filme, Coppola conseguiu traduzir para quem assiste, o que é o escritor de verdade, já que só se é grande escritor aquele que transmite a própria vida em texto, assim vemos que a literatura de Dostoyévski é ele mesmo, que os poemas de Federico Garcia Lorca são ele mesmo, que Borges sempre escreve sobre ele mesmo... o bom escritor se revela, se desnuda no que escreve, jamais escreve sobre o que não é, os que fazem desta forma são aqueles que amanhã não serão relevantes, e o personagem do filme trás esta concepção, sua relevância da arte que faz, sua obra é sua vida, é uma forma de catarse fundamental para seguir, é a conversa da sua alma com o mundo na busca de encontrar um deus como resposta aos labirintos da existência. Ao conseguir revelar isto no personagem de seu filme, Coppola emite sua sensibilidade de autor que alcança a autoconsciência.

            O filme só peca num final um pouco lento e estendido por uma sequencia que poderia ser transformada por uma opção menos sobreposta de fatos. Mas ele consegue juntar num filme, além da literatura, o teatro e a música, sem discrepância as artes se movimentam como uma única forma de expressar-se diante da vida.
08/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário