17.5.19

Quanto mais você é, menos você tem.
Soterrado de julgamentos, na vala da solidão, o outro infernal é até mesmo quem te gera.
Não foi por menos que Cioran disse serem nossos íntimos os maiores inimigos de nossa estátua.
A traição pinga fundo na alma que a muito vaga calejada de lutar com a própria sombra.
Não bastasse o peso de sua natureza te arremessam pesadas placas de bronze que te definem sem qualquer permissão: viado, branco-hetero, comunista, playboy, vagabundo, drogado, pecador.
A incoerência do que te chama "louco".
A voz gritada que repete e não argumenta: "Você está errado!"
A minha expressão tachada de propaganda barata.
A minha produção chamada de hobby por quem nunca apreciou qualquer arte.
Pessoas que querem te fazer de posse sem perguntar como você se sente.
Um pai que pode destruir a cria ao saber que não era uma cópia fiel à imagem corrupta idealizada.
Você sobe o monte com seu cajado, seguido por uma serpente e guiado por uma águia. Você não tem nada, você não tem ninguém, mas eis que sua mente plena se materializa e sabes, enfim, que palavras não existem, a alma revestida de filia torna-se leve, porque sabes agora, mais do que nunca, que se nada possuís, nada também lhe possui e simplesmente és.

Diego Marcell

20/04/19

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