Quanto mais você é,
menos você tem.
Soterrado de
julgamentos, na vala da solidão, o outro infernal é até mesmo quem te gera.
Não foi por menos que Cioran
disse serem nossos íntimos os maiores inimigos de nossa estátua.
A traição pinga fundo
na alma que a muito vaga calejada de lutar com a própria sombra.
Não bastasse o peso de
sua natureza te arremessam pesadas placas de bronze que te definem sem qualquer
permissão: viado, branco-hetero, comunista, playboy, vagabundo, drogado,
pecador.
A incoerência do que te
chama "louco".
A voz gritada que
repete e não argumenta: "Você está errado!"
A minha expressão
tachada de propaganda barata.
A minha produção
chamada de hobby por quem nunca apreciou qualquer arte.
Pessoas que querem te
fazer de posse sem perguntar como você se sente.
Um pai que pode
destruir a cria ao saber que não era uma cópia fiel à imagem corrupta
idealizada.
Você sobe o monte com
seu cajado, seguido por uma serpente e guiado por uma águia. Você não tem nada,
você não tem ninguém, mas eis que sua mente plena se materializa e sabes,
enfim, que palavras não existem, a alma revestida de filia torna-se leve,
porque sabes agora, mais do que nunca, que se nada possuís, nada também lhe
possui e simplesmente és.
Diego Marcell
20/04/19
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