Hollywood
quer estrelas, e os mestres do espetáculo sabem fazê-las, por isso Ronda Rousey
era a nova carinha nos filmes... enquanto isso, num outro estúdio da industria
do cinema eram reunidas a máquina de destruição dos pesos penas Cris Cyborg com
12 nocautes das suas 14 vitórias, sendo 7 no primeiro round; mais a ex-campeã
peso galo do Strikeforce Miesha Tate e também a multicampeã mundial de boxe e
que em sua carreira no MMA antes de entrar para o UFC tinha vencido suas 7
lutas sendo 6 por nocaute, Holly Holm.
Depois
da épica promoção da ultima luta da Ronda, não parecia muito atrativa a
trilogia desta com Miesha, apesar de todo merecimento, mas com duas derrotas em
duas disputas de título, então chamaram a invicta ex-campeã peso-galo do Legacy
que apesar de duas vitórias no UFC não havia convencido, sendo que venceu suas
duas lutas na organização por decisão, sendo a estreia vencida por decisão dividida.
Como
negar tal oportunidade? Caída em seus braços, já que era apenas a 7ª do
ranking, ela não fez estardalhaços, de forma oposta a Bethe Correia ela não falou,
ela não exagerou, não pecou por nenhum excesso, apenas seguiu o protocolo.
Perdi
a pesagem oficial da luta, mas chegou a mim que havia um burburinho, que a
desafiante havia agredido a campeã e todos estavam eufóricos, corri ver o vídeo
e a meu ver não havia passado de mais uma peripécia da temida judoca,
claramente frustrada, já que enquanto a desafiante bebia sua água
tranquilamente, Ronda com sua tradicional cara amarrada disparou sobre a
adversária naquelas famosas encaradas rosto a rosto, mas o detalhe que foi
inclusive esclarecido pela própria Rousey era que esta sabia que a Holm
costumava por seu braço por fora na hora da encarada e ela não queria permitir
isso, o que casualmente não foi empecilho a desafiante, acabando por tocar o
rosto da até então campeã. Mas o mais incrível foi que apesar de toda exaltação
de Ronda Rousey, Holly Holm permaneceu placidamente inexpressiva aguardando
qualquer próximo gesto, inclusive tratando com ironia a situação quando
entrevistada por Joe Rogan; já Ronda aproveitou para realizar seus discursos de
ódio no melhor estilo Bethe Correia, ao dizer que a adversária era falsa e que
toda esta aparência de boazinha era apenas atuação e que ela seria desmascarada
no dia posterior.
Chegamos
enfim ao dia posterior, e como uma verdadeira disputa de título com duas
verdadeiras lutadoras invictas, a desafiante se mostrou sábia, experiente e
treinada, bailou, manteve a distancia que mostrou que todo seu currículo de
boxer era aplicável contra uma judoca medalhista olímpica, e agressiva. Holly
frustrou a super-heroína, com seu boxe ela machucou como ninguém havia feito o
rosto da temível e turbulenta “Rowdy”, e ao cair no chão não caiu no desespero,
se levantou, bateu novamente e quando agarrada, então derrubou a especialista
em quedas no fim do round para novamente se levantar e ser a primeira a vencer
um round da então campeã.
Começa
o segundo round, e Holly Holm volta com seu balé, anunciada como Kickboxer ela
quase não chutou, evidentemente para evitar a possibilidade de quedas, mas em
dado momento ela sola o rosto de Ronda, em outro momento ela ginga como Mané
Garrincha e num drible de corpo faz a adversária ajoelhar, nunca havia tido
humilhação maior, a mais fodona,
aquela que humilhou a todas, agora era frustrada, coisa que não se viu nem
entre Anderson Silva e Chris Weidman, lá todo enredo da luta foi outro, portanto o tipo de humilhação de fodão havia sido outro, mas agora o que
ocorria era prático, material, físico, consciente, racional; a filha do pastor,
assim como a azevinho está nas festas de fim de ano, mas é toxica dependendo da
quantidade, introduzida na América do Norte e Austrália,
onde é, por vezes, considerada como uma planta invasiva em Melbourne contra a heroína
dos norte-americanos ela foi tudo isso, ao guardar o melhor dos chutes que
haviam lhe rendido cinco outras vitórias para apagar com KO clássico a arrogância
dos perfeitos.
Mas
pra mim a cena mais bela, que corrobora com toda a história que foi construída
se faz na inexpressividade extática do rosto e da atitude da nova campeã
perante uma desconstruída Ronda Rousey fragilizada nos braços dos seus, quando
Holly Holm comemora como uma automata fria, podemos ter certeza que por dentro
ela fervia como na casa das máquinas o calor mais humano de derrubar impérios;
de joelhos contempla a cena, como quem grava para a eternidade aquela imagem,
como quem é tocada por um anjo do futuro, como uma inexplicável figura ela experiência
o mistério em seu momento mais sublime, em silencio, certamente ela está pronta
para virar uma escultura de Bernini.
Diego Marcell
15-11-2015
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