28.1.13

Panorama 1


            O Êxodo é uma das narrativas mais importantes e marcantes da literatura religiosa, nela abriga grande concentração de ensinamentos morais não só de um povo, mas para qualquer individuo que saiba extrair dele os aspectos da sabedoria de um Deus único que tem na sua particular forma de agir sua característica de justiça e bondade que lhe são atributos inerentes e que muitas vezes não consegue ser compreendido pela influencia temporal-cultural que as sociedades em suas épocas abarcam, mas que a moral religiosa exprime na atemporalidade.  

            O cumprimento positivo da imprevisibilidade divina dentro da igreja contemporânea passa pela conexão que gera interpretação desta imprevisibilidade que vem para cumprir um propósito especifico ou geral da ação de Deus, sendo assim, vindo de Deus e se crendo que este Deus é bom e soberano presume-se que seja de total benéfica, basta a igreja estar sensível para esta conexão e destituída da carga histórico-institucional-cultural para ser instrumento efetivo daquele a quem ela diz representar.

            O Reino é a consequencia de algo primordial, porém os chamados são vocacionados, a consequencia inerente de ser chamado é sentir-se impulsionado, ter amor a exercer algo a priori ainda pouco compreendido. A partir daí o ser deve buscar compreender sua vocação através da evolução pessoal em Cristo, sendo que a vocação gerará a completude no corpo e como consequencia o regozijo do individuo perante seu papel, aquele que se encontra neste caminho exerce a obediência da volição totalitária que começa a partir da vida física por ações do Reino desde já.

            A perspectiva mais importante e evidente do Reino descrita na exemplificação da oração do Pai nosso é a chamada para que este Reino se exerça desde já, sendo feita a vontade de Deus aqui no mundo físico e material assim como ela já é feita desde sempre no mundo espiritual, que então os homens e mulheres tragam através dos conhecidos atributos divinos essa vontade em ação para a nossa realidade.

            A inexistência de leitura não-contextual da Bíblia nos direciona a encontrarmos leituras coerentes com a realidade local, assim como a Teologia da libertação que conseguiu este eixo na América Latina lançando novas perspectivas numa teologia tão europeia e burguesa que dominava o período do Vaticano II. A teologia de visão latino americana dava voz e ‘salvação’ aos pobres e excluídos povos tão mal colonizados e que não viam perspectivas na igreja piramidal que apresenta suas noções de Reino apenas da noção burguesa, anulando por desconhecimento a possibilidade da base miserável da humanidade.

            Não podemos simplesmente validar nossas afirmações particulares na Bíblia, é preciso se contextualizar, e a leitura pós-colonial da carta de Paulo a Filemom deve ser analisada do ponto de vista dos direitos iguais que apesar do tempo da carta, já trazia esta característica como fator evidente do Reino de Deus na transgressão de qualquer costume temporal que anule a liberdade e a saúde da sociedade, percebendo que a base da fé cristã é dos direitos humanos em sua atual proposta de bem estar mundial.

            Todo grupo que tenta tomar para si do domínio de algo, seja no campo político, religioso, educacional ou outros, mesmo que na inocência ou boa vontade de se acreditar em seu bem, este seu aspecto acaba sempre por anular a diversidade que o cosmo (a unidade, o todo) possui e que só exerce com potencialidade assim. A democracia é a voz múltipla que resultará na ação em bem de todos pelo comum da consciência e assim deve ser também na expressão religiosa em oposição a dominação dos que se colocam sobre os demais em nome da divindade ou de alguma suposta opção da própria divindade por estes que se apresentam agora como escolhidos, em consequencia superiores, anulando o comum de que o cosmo é feito por vontade do Criador.

            Com a junção de fatores sociais, científicos, culturais, políticos... os grandes centros do mundo (e hoje o mundo globalizado) passam por mudanças de eras, quando por exemplo, aconteceu a Reforma Protestante como manifesto religioso ele deixa evidente ser muito mais que isto tendo culminado primeiramente um período cultural onde Gutenberg possibilitava a reprodução literária através da imprensa (que Lutero saberia bem os resultados), onde o pensamento saia da obscuridade da idade média e entrava na racionalidade como referencia daquilo que viria a designar a modernidade, na religião ‘oficial’ que se misturava a política isso também acabaria por mudar, como na Inglaterra que a vontade (liberdade) do rei redefiniu a religião característica de seu país, dando inicio a um processo de expansão da independência que marcaria esta nova fase do mundo.

            Se ainda hoje há aqueles que interpretam a Bíblia pelo modelo histórico-gramatical, ficam restritos quase a uma filologia que limitará na contemporaneidade a compreensão do mundo em que se vive através do livro tido como regra de fé, conduta e sacralidade, por este ser estudado pela escrita, das palavras por si só, enquanto o método histórico-crítico possibilita varias leituras que concordam com os contextos, já que é estudado o contexto da sua criação enquanto registro religioso, político e histórico-cultural.

            O modelo histórico-crítico nos permite chegar a essência da mensagem religiosa ao nos depararmos com toda a roupagem contextual do período de sua escrita, nos permite conhecer seus motivos, seus estilos, suas particularidades e consequentemente nos permite eliminar o desnecessário para a pura Religião, além de nos enriquecer muito pela cultura que se nos expõe, deixando livre acesso a reflexão teológica.

Diego Marcell
01/2012 

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