O Êxodo é uma das narrativas mais
importantes e marcantes da literatura religiosa, nela abriga grande
concentração de ensinamentos morais não só de um povo, mas para qualquer
individuo que saiba extrair dele os aspectos da sabedoria de um Deus único que
tem na sua particular forma de agir sua característica de justiça e bondade que
lhe são atributos inerentes e que muitas vezes não consegue ser compreendido
pela influencia temporal-cultural que as sociedades em suas épocas abarcam, mas
que a moral religiosa exprime na atemporalidade.
O cumprimento positivo da
imprevisibilidade divina dentro da igreja contemporânea passa pela conexão que
gera interpretação desta imprevisibilidade que vem para cumprir um propósito especifico
ou geral da ação de Deus, sendo assim, vindo de Deus e se crendo que este Deus
é bom e soberano presume-se que seja de total benéfica, basta a igreja estar sensível
para esta conexão e destituída da carga histórico-institucional-cultural para
ser instrumento efetivo daquele a quem ela diz representar.
O Reino é a consequencia de algo
primordial, porém os chamados são vocacionados, a consequencia inerente de ser
chamado é sentir-se impulsionado, ter amor a exercer algo a priori ainda pouco
compreendido. A partir daí o ser deve buscar compreender sua vocação através da
evolução pessoal em Cristo, sendo que a vocação gerará a completude no corpo e
como consequencia o regozijo do individuo perante seu papel, aquele que se
encontra neste caminho exerce a obediência da volição totalitária que começa a
partir da vida física por ações do Reino desde já.
A perspectiva mais importante e
evidente do Reino descrita na exemplificação da oração do Pai nosso é a chamada
para que este Reino se exerça desde já, sendo feita a vontade de Deus aqui no
mundo físico e material assim como ela já é feita desde sempre no mundo
espiritual, que então os homens e mulheres tragam através dos conhecidos
atributos divinos essa vontade em ação para a nossa realidade.
A inexistência de leitura não-contextual
da Bíblia nos direciona a encontrarmos leituras coerentes com a realidade
local, assim como a Teologia da libertação que conseguiu este eixo na América
Latina lançando novas perspectivas numa teologia tão europeia e burguesa que
dominava o período do Vaticano II. A teologia de visão latino americana dava
voz e ‘salvação’ aos pobres e excluídos povos tão mal colonizados e que não viam
perspectivas na igreja piramidal que apresenta suas noções de Reino apenas da
noção burguesa, anulando por desconhecimento a possibilidade da base miserável da
humanidade.
Não podemos simplesmente validar
nossas afirmações particulares na Bíblia, é preciso se contextualizar, e a
leitura pós-colonial da carta de Paulo a Filemom deve ser analisada do ponto de
vista dos direitos iguais que apesar do tempo da carta, já trazia esta característica
como fator evidente do Reino de Deus na transgressão de qualquer costume
temporal que anule a liberdade e a saúde da sociedade, percebendo que a base da
fé cristã é dos direitos humanos em sua atual proposta de bem estar mundial.
Todo grupo que tenta tomar para si
do domínio de algo, seja no campo político, religioso, educacional ou outros,
mesmo que na inocência ou boa vontade de se acreditar em seu bem, este seu
aspecto acaba sempre por anular a diversidade que o cosmo (a unidade, o todo)
possui e que só exerce com potencialidade assim. A democracia é a voz múltipla que
resultará na ação em bem de todos pelo comum da consciência e assim deve ser também
na expressão religiosa em oposição a dominação dos que se colocam sobre os
demais em nome da divindade ou de alguma suposta opção da própria divindade por
estes que se apresentam agora como escolhidos, em consequencia superiores,
anulando o comum de que o cosmo é feito por vontade do Criador.
Com a junção de fatores sociais, científicos,
culturais, políticos... os grandes centros do mundo (e hoje o mundo
globalizado) passam por mudanças de eras, quando por exemplo, aconteceu a
Reforma Protestante como manifesto religioso ele deixa evidente ser muito mais
que isto tendo culminado primeiramente um período cultural onde Gutenberg
possibilitava a reprodução literária através da imprensa (que Lutero saberia
bem os resultados), onde o pensamento saia da obscuridade da idade média e
entrava na racionalidade como referencia daquilo que viria a designar a
modernidade, na religião ‘oficial’ que se misturava a política isso também acabaria
por mudar, como na Inglaterra que a vontade (liberdade) do rei redefiniu a religião
característica de seu país, dando inicio a um processo de expansão da independência
que marcaria esta nova fase do mundo.
Se ainda hoje há aqueles que
interpretam a Bíblia pelo modelo histórico-gramatical, ficam restritos quase a
uma filologia que limitará na contemporaneidade a compreensão do mundo em que
se vive através do livro tido como regra de fé, conduta e sacralidade, por este
ser estudado pela escrita, das palavras por si só, enquanto o método histórico-crítico
possibilita varias leituras que concordam com os contextos, já que é estudado o
contexto da sua criação enquanto registro religioso, político e histórico-cultural.
O modelo histórico-crítico nos
permite chegar a essência da mensagem religiosa ao nos depararmos com toda a
roupagem contextual do período de sua escrita, nos permite conhecer seus
motivos, seus estilos, suas particularidades e consequentemente nos permite
eliminar o desnecessário para a pura Religião, além de nos enriquecer muito
pela cultura que se nos expõe, deixando livre acesso a reflexão teológica.
Diego
Marcell
01/2012
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