24.11.11

Deus: agente na ausência

As religiões dizem que existem pessoas iluminadas, escolhidas; algumas dizem que Deus revela coisas aos que Ele quer, é comum no meio “evangélico” a pessoa falar que Deus revelou, mostrou ou que “sentiu no coração” tal desejo que seria vontade de Deus.

Quando a Reforma Protestante decretou a liberdade individual para com um Deus pessoal, e que todos poderiam, então interpretar o “texto sagrado”, abriu-se para o conflito gerado pela contradição das verdades absolutas de cada um que agora é possuidor de tal revelação religiosa.

Por mais que os Católicos Romanos interpretassem errônea e tendenciosamente a vontade divina para os fiéis, elas não comprometiam a responsabilidade individual daqueles que criam, os prejudicavam sim, como pessoas sociais, em âmbitos gerais; mas com a Reforma, agora todos passam a serem “deuses” ou sub-deuses capazes de decretar verdades segundo seu “desempenho intelectual e espiritual”.

O erro Católico Romano de universalizar a relação do individuo com Deus, cai diante da liberdade de consciência trazida pela Reforma Protestante, porém imaginar um Deus tão tendenciosamente particular em revelar-se envia a questão religiosa para a antropologia, para a psicologia e para algumas questões da filosofia. Inserir Deus como mediador segmentário no físico é decretar-lhe limitações intelectuais.

O Deus Criador não pode carregar traços de mito a não ser na mente de pessoas cobertas de certa cultura arcaica.

Neste novo milênio, pessoas conscientes pensam a religião como assunto da mais alta seriedade e não estão mais a procura do encanto, da fantasia ou do auto-sucesso, para isso a sociedade disponibiliza outras ferramentas especializadas, mas se estes desejam pensar em alguma forma religiosa, esta deve ser do bem, em beneficio do mundo e no campo do possível, do real e do honesto; se for pensar um Deus hoje, ele deve ter sua atuação na ausência, isto culmina em justiça, esta é a construção social, são seus atos (dos seres humanos) e conseqüências, seus planos, seu ódio, suas patologias e seu carisma. Deus não pode estar visível em lugar da humanidade, seria fácil a esta se ausentar em nome de um Deus que lhe encobre por vontades misteriosas, isto é continuar criando mitos para apontar a culpa das conseqüências do mundo habitado, adulterado e regido por homens e mulheres.

Diego Marcell
20-11-2011

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