O Brasil nunca foi um país protestante e nunca será, devemos, porém entender a diferença do protestantismo para aquilo que em geral chamam de “evangélicos” apenas em oposição ao catolicismo romano, qualquer outro segmento cristão é então chamado evangélico pela massa. Apesar de que de qualquer forma, o Brasil também nunca será um país evangélico, mesmo que tenha havido grande crescimento deste segmento religioso, a tendência natural é que cada vez mais rápido haja mudanças sociais, e na religião brasileira já se nota uma pequena diminuição evangélica daquilo que eclodiu nos últimos anos principalmente pelo neopentecostalismo que agora vem saturando sua mensagem de falsa-prosperidade e libertação, causando ojeriza sem fronteiras midiáticas do que se iniciou com o ascetismo de Davi Miranda, e de divisões cada vez mais constantes dos grupos tradicionais que já possuíam uma pregação não tanto próspera aos fiéis, mas desde aquele tempo para seus pastores, deixando a muito sua má impressão.
O protestantismo da reforma ao contrário fluido em sua mensagem de raiz outros valores, que a institucionalização acabaria obviamente por fazer esquecer, também não se via no movimento do protestantismo de missão, oriundo dos Estados Unidos da América e que teriam relativo sucesso no Brasil até nos dias de hoje mantendo forças, mesmo que já muito influenciado pelo neopentecostalismo e suas façanhas marqueteiras.
Devemos diferenciar que o mundo abriga alguns cristianismos distintos, analisando ocidentalmente apenas os mais fortes, existe a religião medieval do catolicismo romano, a religião iluminista/racional da reforma protestante, as religiões místicas dos movimentos carismáticos e pentecostais que iniciam no começo do século XX, e a religião hiper-moderna do neopentecostalismo onde flui o placebo do imediatismo em meio a correria deste mundo de excesso de informação, individualismo e consumismo.
O protestantismo reformado chegou ao Brasil com a imigração européia patrocinada pelo governo brasileiro que queria manter o país “branco”, em consequencia estes povos traziam sua religião, o protestantismo de imigração, portanto é a única expressão mais próxima da reforma protestante em seu tempo histórico marcante que culminaria em novas vertentes, estas “igrejas” não exerciam um propósito missionário em sua chegada, mas atendia apenas suas comunidades étnicas, claro que isto mudou um pouco, porém os reformados não obtiveram grande crescente extra no país. Os demais evangélicos, os mais extremistas, possuem certos preconceitos com esta primária oriunda do cristianismo romano, porém não vêem o caráter cultural que envolve sua liturgia e tradição, e deixando de valorizar a confissão de fé e o exemplo ético que na maioria das vezes é superior às posteriores formas evangélicas que se materializaram no Brasil. Sem dúvida, em alguns casos como Anglicanos e Luteranos que se aproximam bastante dos romanos, mas tradição por tradição, esta que se formou no pentecostalismo miscigenado brasileiro também é apenas uma representação litúrgica da temporalidade de transição de eras, sendo carregada basicamente pela cultura mexida da metade do século XX, ela guarda resquícios de modernidade com enxertos pós-modernos, sendo assim não mais um culto padrão clássico, porém já ultrapassado, por isso a igreja brasileira se encontra na meia idade se aproximando da velhice, sem ter experimentado profundamente o caráter da reforma protestante ela se dilui em trôpegos passos que se apresentam socialmente apenas como “evangélicos”, sem se diferenciar o traço puritano, a idéia de Calvino, a diferença de Lutero, dos extremismos de Davi Miranda, da fanfarronice de Silas Malafaia, do sincretismo de Edir Macedo, predominando o estereótipo pelo olhar ignorante e opinativo da sociedade construída sobre estas bases fechadas para a reflexão.
Devemos diferenciar estas linhas cristãs justamente porque os próprios pastores pentecostais, por exemplo, na maioria desconhecem esta origem de reforma, e em grande parte os fiéis não possuem conhecimento básico nem sequer daquela comunidade que fazem parte, não sabem de onde saiu e por quais motivos, não conhecem as confissões de fé nem o que exatamente professam, e nada disso tem ligação com a tradição que valorizava o conhecimento, a razão e certa lógica, esta igreja evangélica brasileira não é a igreja que se reforma constantemente, mas uma igreja de devora seus pais e seus filhos, sem dialogo ela tem medo, inclusive medo do próprio dialogo, nega o externo por falta de conhecimento, não reconhece quem abriu previamente seu caminho, a igreja tipicamente brasileira é confusa e dividida, rivaliza com ela mesma, não se reforma, mas estática ela gera filhos indesejados quando sua rigidez lhe faz mal e se sobrepuja acumulando cacos de uma paródia religiosa que fica visível na história da igreja, na história do Brasil e na história da igreja no Brasil.
19-11-2011
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