Aquele tempo era bom, mas eu sou
melhor agora. Aquele setembro foi meu verão amante, hoje meu outono de solidão.
Os quadros na parede, as drogas no estomago, as dores nas costas, a chuva lá
fora. Duas cobertas, sofá, o olho pesa, talvez mais uma dose. O olho pesa o
sono não vem. Superclose, minha miopia é a falta de foco do meu cinema
marginal, não tem trilha que não seja incidental, performática, a trilha é o
som da madrugada.
Tevê que ilumina meu sonho, luzes
apagadas na falta de alguém, nada há além do cenário, eu aguardo o fogo, o trem
eu ouço, a caça não vejo, eu não toco violão.
Não espero ninguém, não penso em ninguém,
penso em todos, queria pensar em alguém, mas sou apenas a materialidade da
sensação, a informação empírica do corpo. Quem lê? O que lê quem lê? Algumas
fumaça, algumas pixel, algumas zero, algumas um, já não fazem neon boteco de
esquina.
Respiração pesada, ninguém acredita
no que não vê (a não ser com muita propaganda), eu não sou publicitário, mas
meu rosto pode ser de espião.
A saúde do corpo não preocupa tanto
quando a mente se põe a conflitar. Penso nos mendigos, nos voluntários, nos
vira-latas e nas bestas; eu tenho duas cobertas e dores nas articulações.
Escrever é um modo de me por no
presente, me autocondicionar no agora, não ao publico ou à linguagem, mas a
tentativa de equilibrar uma frágil bomba apoiada em mãos trêmulas.
Diego
Marcell
17/09/18
Nenhum comentário:
Postar um comentário