12.11.18

            Aquele tempo era bom, mas eu sou melhor agora. Aquele setembro foi meu verão amante, hoje meu outono de solidão. Os quadros na parede, as drogas no estomago, as dores nas costas, a chuva lá fora. Duas cobertas, sofá, o olho pesa, talvez mais uma dose. O olho pesa o sono não vem. Superclose, minha miopia é a falta de foco do meu cinema marginal, não tem trilha que não seja incidental, performática, a trilha é o som da madrugada.
            Tevê que ilumina meu sonho, luzes apagadas na falta de alguém, nada há além do cenário, eu aguardo o fogo, o trem eu ouço, a caça não vejo, eu não toco violão.
            Não espero ninguém, não penso em ninguém, penso em todos, queria pensar em alguém, mas sou apenas a materialidade da sensação, a informação empírica do corpo. Quem lê? O que lê quem lê? Algumas fumaça, algumas pixel, algumas zero, algumas um, já não fazem neon boteco de esquina.
            Respiração pesada, ninguém acredita no que não vê (a não ser com muita propaganda), eu não sou publicitário, mas meu rosto pode ser de espião.
            A saúde do corpo não preocupa tanto quando a mente se põe a conflitar. Penso nos mendigos, nos voluntários, nos vira-latas e nas bestas; eu tenho duas cobertas e dores nas articulações.
            Escrever é um modo de me por no presente, me autocondicionar no agora, não ao publico ou à linguagem, mas a tentativa de equilibrar uma frágil bomba apoiada em mãos trêmulas.

Diego Marcell

17/09/18

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