20.9.18

Ele não e nem ninguém


Esta talvez seja a única manifestação social que não tenha me causado náusea nas últimas eras do digital, de fato a expressão por parte das mulheres numa tentativa de através da união manifestar aquilo que seria o bem de todas ao repudiar um candidato machista me alegra ao escancarar o mal possível na concretude de tal pessoa no poder. Posso estar enganado, mas “ele não” se tornou um grito contra o retrocesso, todavia, um grito um pouco segmentado, sendo que o retrocesso expresso no caso é apenas um exemplo, pois o retrocesso é muito maior que o brio feminino e diz respeito a todos os cantos da sociedade.
2014 é passado, Dilma está morta, Aécio virou pó, não existem mais passeatas, nem panelas amassadas, não eram apenas vinte centavos, teve Copa, e daqui quatro anos continuarão a fazer da corrupção espetáculo. Neymar caiu, Pelé o poeta calado cambaleia, Romário tabela com Tiririca na grande área, Ronaldo brilha muito. Cala a boca Galvão, cala a boca Magda, quem se importa com o superfaturamento da camisa do meu time?
            Tem gente acendendo vela pra tudo que é santo, senta na igreja e se diz comunista sem qualquer teologia da libertação. Tem gente que diz que vai matar em nome de Jesus, nunca mais dar a outra face, fascismo, teologia feminista, eu preferiria ser uma cyborg que uma deusa, mas elas acham que menstruação significa alguma coisa. Tem gente que é pra frentex e vota em conservador, tem gente que ama tanto o filho gay que coloca machista no poder, tem gente que ama tanto quem vive no mesmo teto que faz de tudo pra este ser morto na rua.
            Todo mundo agora é santo e policial. Todo mundo tem suas razões, mesmo que sejam irracionais, todos tem um anjo que fala ao ouvido as revelações mais exclusivas. Todo mundo que é do deus de amor sabe como desrespeitar ao próximo, todo artista social sabe como inflar sua hipocrisia.
            A massa, os bois, o homem gado, acha que só por exprimir signos sonoros está a viver, crê ser o transcendental, o escolhido, mas não passa de um condicionado reprodutor de milenares conformismos auto-indulgentes. Soluções de varejo, comerciantes de produtos de quinta qualidade viralizados em hashtag’s impulsionadas por robôs muito bem pagos.
Mas eis que o céu se abre e numa misancene no que há de melhor nos conflitos do antigo testamento, o enviado vem de uniforme militar, podia ser Che, Fidel, Sargento Pincel, mas em 2018 o seu nome é Bolsonaro; onde ficou Ciro, Marina, Enéas? Não sei, fodam-se os partidos e suas causas de legenda, só não vê um bom e velho homem grão, parafuso de máquina, ao modo dos antigos tempos modernos a serviço de um funcional taylorismo, eis que o homem massa acha que o messias está entre nós, se agarrando como pode em suas saias, no cabo da pistola de um mito necessário aos primitivos ou nas utópicas barbas de um profeta do proletariado, a massa repartida em caprichoso e garantido segue ululante até quando troca de camisa ao final da partida.
Toda instituição humana é uma farsa, Jesus está repartido em relicários defenestrados do céu, já não há uma gota de homem-deus em toda boca que pronuncia o significado de Cristo, mas mesmo assim a massa segue a escolher seu Barrabás pra depois fazer cópia de gesso. Ao final ainda devemos nos curvar diante do rei nu e pagar-lhe um boquete, todos querem o maná, mas ninguém quer lavar a louça.
Em tempos de politização e exposição ideológica proporcionada pelo século XXI aos seres do século XX percebo apenas o vexame da nossa espécie animal. Passaram-se quatro anos, não aprendemos nada com toda perda de amizades nas redes sociais e novamente estamos aqui realizando o lava-pés no carrasco. Confesso que entre gritos de “Bolsonaro 2018” e “Lula livre” da até uma saudade do FHC, quando a social-democracia tinha lá suas vantagens, mas fato é que o sistema é podre e acaba sendo confortável dizer que alguém é “menos pior”, ou qualquer bobagem do tipo, só porque no fundo todos tem medo do que o sistema pode fazer com suas digitais digitalizadas, antes fosse uma bela teoria da conspiração, mas no dia marcado todos irão à famigerada urna eletrônica cumprir seu papel de cidadão, pobres coitados, empalados de moralidade irão se reproduzir instintivamente condicionados, o homem continua a ser o seu lobo, mas agora na barriga do Leviatã, por isso eu vos digo, ao invés de preencher o trono do deus morto com qualquer parlapatão, vão vocês mesmos ao trono, nem que seja ao vaso sanitário, defequem como nunca, uma diarréia purificadora e fétida, para enfim limparem-se unicamente com seus próprios títulos de eleitor, para depois ainda impregnado de odor enviar via postagem simples pela nossa única e oficial empresa os Correios com destino à nossa capital federal.

Diego Marcell

19/09/18

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