Um
dia eu sai pela noite, boêmio, muita gente conhecida vinha, mas eu não queria
rostos repetidos, eu tava bêbado, chapado ou em transe, não sei bem, só queria
me divertir, naquela noite não soltei um misero néscio sorriso, eu estava me
divertindo, eu era o performer, eu falava o que queria, eu fazia o que queria,
eu sentia o vazio da noite como se fosse o mágico, o dono da escuridão, e eis
que aparece o autodeclarado, o filósofo sem filosofia, o escritor sem poesia, o
famoso que ninguém lembra... ele queria, como sempre, pagar de presença,
distribuir VIP’s, camarotes ruins em lugares falidos, ele queria, como sempre,
alguém que o adulasse, os confetes que ele mesmo arremessa sobre si; e de longe
ele vinha, ele gritava, me chamava, pejorativamente, porque a palavra lhe sai
soprada entre os dentes; ele vinha desengonçado e eu via os confetes caindo do
seu bolso, e eu só o olhava - querendo virar fumaça – ele chega, começa o
discurso ensaiado, repete perguntas que não espera respostas para emendar em
vanglorias de festim a espera de saliva, mas nesse dia eu era o performer, eu
era o dono da noite, eu era o nirvana junkie, o capeta em forma de guri e
simplesmente ignorava, enquanto ele apertava o rec, eu existia, enquanto ele
conjecturava ficções, espécie de mentiras matéricas, eu apenas existia, não
contava feitos, inclusive omitia o que era, o que fazia, omitia nome, idade,
profissão, eu apenas agia, cheirava, beijava, dançava, eu era nada e por isso
era o dono da noite, e ele atrás de incautos que pudesse converter em fãs numa
apologia furada de um nome que ninguém lembra.
Diego
Marcell
2017
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