É
através de um ethos que o artista desempenhará a obra sendo sua vida, ao através
dela emitir valores desenvolvidos pelo processo do autoconhecimento. Se faz necessário
esse agir-obra como elemento purificador de um mundo sistematizado por
estruturas de poder que para se manter instituiu valores hierárquicos, onde a
verdade é seu principal regente metafísico, para que os elementos múltiplos dados
pela natureza fossem depositados e enquadrados numa ordem de interesse. O interesse
declara uma vantagem que pode ou não proporcionar vantagem ao outro, porém no
sistema de poder a vantagem é revertida em favorecimento – no viés hierárquico –
para denominações. Assim o artista vem como o desestabilizante natural do sistema artificial. Como componente orgânico
ele deve manter-se saudável no corpo doente para lutar contra a condição em que
o próprio corpo se encontra, que é o desequilíbrio, os excessos e escassezes
que regem o sistema para a sua subsistência.
Quando Sidarta Gautama criou valores
para a existência, os anticorpos do sistema criaram o budismo. Jesus humilhava
os velhos eruditos da religião, destruía o comercio da fé e andava com
prostitutas e gente das ruas. Cínico virou sinônimo para mau elemento e
Nietzsche autoproclamado “imoral” choca a massa. Flávio de Carvalho quebrando a
lógica ritualista despertou o mal daqueles que faziam uma procissão para um
deus que é atribuído como sendo a própria bondade. O comunismo dizendo elevar
os desfavorecidos por meio aristocrata inventou uma utopia para calar o
individuo.
A tradição mantém valores que
sustentam as regras para conduzir a massa por caminhos que não prejudicam os ícones.
Sendo que pequenos deuses são iconoclastas.
A escola alimenta o sistema, porque
um individuo instruído ao autoconhecimento criaria seus próprios valores através
do habitar a si mesmo, encontrando (ou buscando) uma essência pelo existir que
por consequência entraria em choque com os valores rígidos da tradição, o que
da mesma forma que desperta os que dormem, causa nos covardes o desconforto da imprecisão
que é viver, já que o sistema de poder é inflado pelos covardes, os
transformando na argamassa de sustentação de modo a se retroalimentar.
Os corpos mais doentes dos governos totalitários
travestiam alguns de artistas como que para enganar os covardes, que clamam por
crer em ilusões, para transformar as sombras na realidade que não os fira; a
ausência de vida presente na estabilidade do nada é uma morte em vida. Pois se
é o movimento que gera vida, no movimento perde-se algo enquanto ganha-se algo,
os covardes que nada ganham com o medo de perder transferem suas vidas, ou
criação de existência, ao sistema, para que este lhes de a vida que “julgaram”
ideal.
A coragem que o artista tem de ser
sua obra desencadeará reações das mais diversas e cruéis – muitas vezes – sendo
esta condição em que se encontra para agir ele altera a própria condição por
seus atos.
22/12/17
Quanto mais este artista for
absorvido pelo sistema sem deixar qualquer de suas propriedades espirituais,
mais ele enfraquecerá o sistema ao expandir seus valores não padronizados
gerando fissuras desordenadas. É o vírus. A mutação. É anarquia. É a
determinação do indeterminado, é o proibido proibir.
Quando a obra é o desempenho do Um
no acontecimento passa a ser um elemento da imanência universal, dando
novamente movimento ao espírito de Deus sobre as águas.
O mito do Paraíso é representativo
na medida em que o lado mau de nossa natureza seja manifesto no fruto do conhecimento
ao a partir de nossa evolução à consciência, esta mesma esqueça a animalidade
da nossa natureza. Seria isso que nos fez viver fora do Paraíso, justamente o
fato de não atentarmos à nossa capacidade de criar a existência por viver o
ideal e não mais perceber o autoconhecimento como o elemento fundante do próprio
Paraíso?
Existir virtualmente é de fato existir
quando o que está no devir são justamente os valores e não o fenômeno em si?
Os meios aprimorados e o
desenvolvimento técnico propiciam percepções estéticas diferente, que, todavia
tornam-se inúteis espiritualmente sem a liberdade no e do Um, pois é nesta
liberdade que exala a poièsis.
23/12/17
Diego Marcell
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