17.8.17



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1.      Você estava olhando minha mulher!?
2.      Você aborda todas as pessoas que ocasionalmente olham sua mulher?
1.      É que pra você não parece ocasional.
2.      Eu no seu lugar agradeceria.
1.      Por que?
2.      Imagine que desagradável ter uma mulher que não causa deleite estético a ninguém.
1.      Mas o problema é você.
2.      O seu caso é digno de mais agradecimento, sendo que eu tenho um apurado juízo de gosto.
1.      Você quer comê-la?
2.      Acho que pra entrarmos na particularidade dos meus desejos precisaríamos construir uma relação que nos desse intimidade suficiente para falarmos desse assunto.
1.      Mas pra ficar encarando ela você não precisou dessa intimidade.
2.      Ao que parece estamos num lugar público, e até onde eu sei não foram criadas leis que proíbam de se ver coisas que estão no ambiente público, o que incluem pessoas.
1.      Mas você não considera isso falta de respeito?
2.      Eu seria desrespeitoso com ela se não a olhasse por sua causa.
1.      Em que sentido?
2.      Porque para evitar vê-la por conta de outro eu estaria julgando ela uma propriedade de alguém, um objeto, e não uma pessoa, mas eu sempre considero as pessoas nas suas particularidades como iguais de direitos.
1.      Mas ela é minha, não é um objeto, mas é minha namorada.
2.      Neste caso nada tenho com sua falta de respeito com ela.
1.      Mas eu não falto com respeito com ela, pode perguntar.
2.      Se você quer ter controle até mesmo da sua imagem com medo que esta cause desejos a outros que a observam em demasia em locais públicos, fica evidente que a utilização dos outros quatro sentidos numa relação dela com outras pessoas passa a estarem comprometidos de serem exercidos numa liberdade em que ela exercite de forma autônoma. Ou seja, o seu relacionamento gera uma coação, ao qual presumo estar o macho a determinar as regras, coisificando a parceira, do contrário, ela mesma viria aqui e explanaria o incomodo se houvesse. Então isso lhe dá duas opções: havendo liberdade entre dois seres da minha espécie que mantém uma relação de afeto, você pode voltar lá e se de fato houve tal incomodo sentido por ela, expor-lhe a situação e a deixar a vontade para vir falar comigo; ou, havendo uma posse de um ser humano por parte de outro, o que possui (no caso, você) pode trancar seu objeto em lugar privado ou cobri-la completamente quando quiser sair às ruas, para que ninguém acesse sua imagem e evite a troca de sentidos com outros seres da mesma espécie.

Diego Marcell
7 de agosto de 2017
Pequenos diálogos

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