No
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1.
Você estava olhando minha mulher!?
2.
Você aborda todas as pessoas que ocasionalmente
olham sua mulher?
1.
É que pra você não parece ocasional.
2.
Eu no seu lugar agradeceria.
1.
Por que?
2.
Imagine que desagradável ter uma mulher que não
causa deleite estético a ninguém.
1.
Mas o problema é você.
2.
O seu caso é digno de mais agradecimento, sendo
que eu tenho um apurado juízo de gosto.
1.
Você quer comê-la?
2.
Acho que pra entrarmos na particularidade dos
meus desejos precisaríamos construir uma relação que nos desse intimidade
suficiente para falarmos desse assunto.
1.
Mas pra ficar encarando ela você não precisou
dessa intimidade.
2.
Ao que parece estamos num lugar público, e até
onde eu sei não foram criadas leis que proíbam de se ver coisas que estão no ambiente
público, o que incluem pessoas.
1.
Mas você não considera isso falta de respeito?
2.
Eu seria desrespeitoso com ela se não a olhasse
por sua causa.
1.
Em que sentido?
2.
Porque para evitar vê-la por conta de outro eu
estaria julgando ela uma propriedade de alguém, um objeto, e não uma pessoa,
mas eu sempre considero as pessoas nas suas particularidades como iguais de
direitos.
1.
Mas ela é minha, não é um objeto, mas é minha
namorada.
2.
Neste caso nada tenho com sua falta de respeito
com ela.
1.
Mas eu não falto com respeito com ela, pode
perguntar.
2.
Se você quer ter controle até mesmo da sua
imagem com medo que esta cause desejos a outros que a observam em demasia em
locais públicos, fica evidente que a utilização dos outros quatro sentidos numa
relação dela com outras pessoas passa a estarem comprometidos de serem exercidos
numa liberdade em que ela exercite de forma autônoma. Ou seja, o seu
relacionamento gera uma coação, ao qual presumo estar o macho a determinar as
regras, coisificando a parceira, do contrário, ela mesma viria aqui e
explanaria o incomodo se houvesse. Então isso lhe dá duas opções: havendo
liberdade entre dois seres da minha espécie que mantém uma relação de afeto,
você pode voltar lá e se de fato houve tal incomodo sentido por ela, expor-lhe
a situação e a deixar a vontade para vir falar comigo; ou, havendo uma posse de
um ser humano por parte de outro, o que possui (no caso, você) pode trancar seu
objeto em lugar privado ou cobri-la completamente quando quiser sair às ruas,
para que ninguém acesse sua imagem e evite a troca de sentidos com outros seres
da mesma espécie.
Diego Marcell
7 de agosto de
2017
Pequenos diálogos
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