7.5.17

LAVAGEM CEREBRAL NA UNIVERSIDADE




            Em época de “escola sem partido” do qual confesso não ter me detido e do qual me parece realmente carecer de melhor fundamentação, mas da qual concordo com seu problema gerador que é a unilateralidade das ideias ao serem impostas por um lado da sociedade que almeja implantar sua verdade como salvação da humanidade (ao menos aparentemente, já que intrinsecamente creio ser por puro desejo de poder) e do qual não me prenderei, pois creio haver literatura suficiente para irmos mais a fundo na questão sem cairmos no jogo empobrecido do discurso estático dos filhos bastardos de Marx, mas que precisa sim de uma atitude da qual lhes coloque sempre em questão, sobre seus próprios argumentos, e o fazemos, é claro, de forma elegante, não como desejam os iguais/opostos da extrema direita nacional.
            Atualmente curso o terceiro ano da licenciatura em artes visuais na Universidade Estadual do Paraná, e neste momento temos uma aula chamada Organizações Educacionais Contemporâneas, aquela típica matéria delegada aos pedagogos que nunca tiveram qualquer relação com nosso curso, mas vem apenas para depositar as funções a que foram destinados nos últimos tempos. Eu, carinhosamente, chamo esta aula de “lavagem cerebral”, não gratuitamente, são matérias que seguem este molde que corroboram às reivindicações de uma “escola sem partido”, pois com pedagogos completamente despreparados de argumento sólido e coerente é que se rompem a reflexão em âmbito acadêmico para impor-se o ideal assumido, os discursos prontos.
            Toda vez que abro minha caixa de correio eletrônico e avisto uma sequencia de emails da professora desta matéria, começo a ficar verde de enjoo, poderia listar aqui os textos usados durante todo o ano, dos quais vocês podem imaginar não existir um sequer que tenha sido escrito ou pensado por um pensamento liberal, anarquista, cético, conservador, pós-moderno ou outro, mas seguindo apenas a exclusividade acusatória de todas as linhas citadas, transformadas em muitas vezes num amalgama intitulado neoliberalismo, daquela esquerda mais barata, que é a reprodutora dos discursos prontos pra convencer incautos ao modelo Testemunhas de Jeová (ou seria Testemunhas de Karl Marx?), onde a cada semana posso ler apenas o primeiro parágrafo e rapidamente constatar que diz absolutamente a mesma coisa que havia sido dito na semana anterior, assim como na outra e na outra, como que para marcar, pontuar uma ideia, e da qual taxativamente irá se estender numa tortura ao intelecto mais livre até o seu fim.
            Eu poderia passar horas destrinchando estas aulas e tudo que a compõe, mas vou me ater apenas a um trabalho específico, do qual eu deveria de modo explicitamente ingênuo realizar um resumo de três textos, mas que ao invés disso resolvi apenas comentar, seguindo o trabalho na integra, já que o mesmo teve que ser editado para a entrega, pois excedia o número de páginas exigido.
           
Texto 1 - Concepção de Política Educacional, concebida como Política Social e a relação entre Estado e Política Social

            Quando proposto a falar, primeiramente sobre “Política Educacional, concebida como Política Social e a relação entre Estado e Política Social (texto 1)”[1] na matéria chamada Organizações Educacionais Contemporâneas, num texto dos anos 1980 que impõe a visão, não apenas antiquada, digamos assim, mas também um tanto envolta de sentimento conspiracionista, típica do fanatismo ideológico, advindo de grande sentimento de religiosidade transferido historicamente às concepções das ditas esquerdas, sinto assim o empobrecimento da minha execução de um texto que serviria a algo no âmbito universitário, que não seja apenas um cumprimento avaliativo institucional, sem qualquer reflexões, a não ser a velha reprodução de ideias unilaterais ao modo “copia e cola”, onde até mesmo a necessidade das citações vem somente como prova a corroborar com este jogo mecânico tão usado pelos discípulos de Augusto Comte quanto os de Karl Marx.
            Quando ainda se insiste num discurso de proselitismo coberto de necessidade, - necessidade de quê e pra quem eu me pergunto – já que focar unicamente neste inimigo gigante e abstrato do Capitalismo e de seus profetas – os capitalistas – das multinacionais e seus nomeados (por parte de quem?) burgueses que vem como ainda pequenos piões a enfrentar iguais num tabuleiro preto e branco definido por interesses externos, justamente por serem estes atores, pequenos piões que sob a égide do Estado burocrático servem de massa de manobra para fins de poder.
            Será então neste âmbito que devo analisar o capítulo pertencente ao “O que é política social” da famosa coleção “Primeiros passos” da Brasiliense ao dialogar com o que deveria ser contemporâneo em educação? Creio que não, sendo isso talvez nem merecedor de nota. Mas imagino que o desejo da proposta seja o de inserir-me neste universo irrelevante, fútil e se assim o são não pela temática, mas pelo contexto, onde apesar de tudo, devo projetar-me neste lamaçal para satisfazer mais uma propagação dessa educação positivista e moderna que vê e redefine classe pela tabela estabelecida nos corredores das fábricas a vapor.
            Enquanto o favorecimento de um Estado sob a concepção política diferente mesmo ao exercer pontos que irão favorecer o trabalho, mas por não pertencerem ao querer como fim da ideologia, esta o interpreta apenas como o negativo, enquanto qualquer prática deficiente da ideologia que se deseja, mesmo tropeçando a cada ato, tem como louvável e indigno de recusa e crítica, porque se crê no bem por trás de tal ideal. Evidente que não entraremos nas definições conceituais as quais caberia um extenso trabalho e do qual tranquilamente podemos encontrar sustentação teórica para a discussão, mas que também torna-se inútil a partir da leitura fechada, calcificada pela ideologia centenária. Portanto, baseado nisso, me utilizarei apenas do que me está próximo das mãos, por questão de saúde física mais que mental. Assim não me utilizarei do duplipensamento como é exercício recorrente neste âmbito, me focarei na pontualidade dos fatos e do que podemos retirar destas pontuais circunstancias, lembrando que se for necessário aplicar juízo de gosto como são feitos por estes teóricos manipuladores de palavras sem significado, já que a carência de etimologia, como sabemos, sempre foi uma constante nos governos totalitários e os que tendem de alguma forma pra isso.
            Segundo o autor, a educação, por exemplo, perpassa por uma luta que inclui várias classes[2], mas que, porém lutas desse tipo põe em risco a ordem capitalista[3], quando podemos observar por um viés sem classes e reconhecer que o avanço social é uma luta de todos, ou seja, quando grandes produtores de capital e pequenas peças desse grande sistema que é a sociedade devem ser beneficiados pois o mecanismo não roda sozinho numa máquina como o Estado, sendo que outras coisas deveriam estar em jogo e discussão e não essa delegação de certa responsabilidade generalizada à mecanismos específicos.
            De qualquer forma, parto ao próximo, já que a ambiguidade que se realiza com o interesse apenas da localidade dos objetos de reflexão, sendo à estes transposto o motivo de discussão de acordo com a geografia ideológica que se encontram.

Texto 2 - A relação das Politicas de Renda Mínima com a Educação

                        O próximo texto começa falando da “crise do capitalismo contemporâneo”[4] e do aumento do desemprego, quando é evidente que se vive muito melhor (falando em ambitos gerais) do que em décadas anteriores, que dirá em outros tempos, e que sim, evidente que aumenta o desemprego, pois aumenta cada vez mais a população quando não se tem nenhuma política de educação quanto ao controle de natalidade, parece que isso soa desumano, mas penso que desumano é fomentar a esperança na ilusão por viés romântico quando a crise humana tem um âmbito muito além do demônio capitalista em si.
            Aqui sendo a proposta como o título diz, fazer uma relação das políticas de renda mínima com a educação utilizando um texto que o propõe a tal assunto referente aos anos 1980 e 1990 me parece não fazer muito sentido objetivo no momento. Porque não se apresentam pesquisas referentes ao mundo atual, que seria referente à década de 2010?
           
Texto 3 - A relação da reforma do Estado no Brasil na década de 1990 e da Educação com a Pós-modernidade

            A autora do texto “A reforma do estado e da educação no contexto da ideologia da pós-modernidade” inicia apresentando a necessidade percebida por alguns órgãos mundiais e depois sua aplicação no primeiro mandato do governo Fernando Henrique Cardoso, do qual o Estado deveria se atualizar para poder efetivar certas ações com maior competência com a atualidade, porém, a partir de certo momento ela começa a projetar a carga ideológica do discurso do qual analisa também ideologicamente na forma de oposição, como se pós-modernidade de fato fosse uma ideologia, mais do que a possibilidade de abarcar alguma (ou deveria ser “algumas”?) em sua multiplicidade de ações, até mesmo, porque o termo visto pelos teóricos do termo, não possui seus pontos fechados, justamente como pensa a modernidade e os teóricos tardios que assim, irão falar do outro sob este aspecto, ou seja, incapacitando-o a si. Mas se o trabalho aqui é responder de acordo com uma linha de pensamento posta, podemos perceber que a autora viu nisso um mote para aplicação ideológica oposta, da qual esta teria como papel principal a efetivação do Capitalismo como agente desse mecanismo, quando utilizando o termo da “efemeridade”[5] recontextualizando ao desejo político do poder Estatal, este viria como contingência do poder dado ao dito Capitalismo.
            A regra deste mundo globalizado sendo ditada pelo mercado que, segundo a autora, inclui o que ela chama de neoliberalismo, assim como outras coisas, da qual ela afirma sem explicar, como a falta de rigor metodológico, sendo todo este pacote necessário para o funcionamento do novo Estado, conclusão que parece evidente e natural se se almeja participação econômica, do qual, convenhamos, nem os anteriores estavam isentos, assim como os posteriores.
            Já que a história mostra que o Estado burocrático, por não gerar dinheiro e apenas gastá-lo, tende ao empobrecimento geral, esta alternativa de que

através da implementação da propalada administração pública gerencial, visa-se à reorganização do Estado via a adoção de critérios de gestão que oportunizem a redução de custos, uma maior articulação com a sociedade para a definição de prioridades e a cobrança de resultados. Pretende-se, nesta lógica, tendo em vista a reprodução da ideologia do capital, a instituição de um aparelho de Estado eficiente e orientado pelos valores do novo paradigma de sociedade; um Estado racional de fato.[6]

Ainda assim o que a autora julga ser o filão de tudo é a manutenção da desigualdade, sendo que a ideia de valorizar a diferença (e quiçá, incluir nisso a liberdade dos seres humanos) é revertida em interesse capitalista pela desigualdade, apesar de não identificar onde de fato se aplica o interesse capitalista nisso, visto que o capital tem interesse no aumento de capital justamente para circular a roda do capital, enquanto o Estado, este sim, pelos meios de se manter no poder, pode visar a manutenção de classes para facilitar a ideologização que corrobora ao poder estabelecido.
            A autora não sustenta os termos desejados, vez por outra optando por “liberalismo” como o interesseiro de viés burguês, quando deveria atentar melhor aos sentidos conceituais dos termos dentro das respectivas contextualizações, do contrário fica fácil jogar uma miscelânea de ideias de sentido único pra sobrecarregar uma mensagem que se tenta escancarar de qualquer forma. É importante perceber que cada termo possui uma especificidade conceitual e é isso que constrói a linguagem e a construção do conhecimento humano, e não é fazendo ideologização de tudo que se promove algum avanço ou se chega a algum lugar. Inclusive parece absurdo, mas a autora afirma uma proposta liberal aludindo a uma obra chamada “Social-democracia e educação”, ficando evidente a falta de interesse pelas linhas de pensamento e suas particularidades, lembrando que no Brasil a aplicação do liberalismo nunca se deu e o mesmo nunca teve representatividade relevante no país... quando ao decorrer do assunto, até mesmo a diminuição da burocratização da qual ela usa como argumento, de fato está muito distante de se aproximar de uma prática realmente liberal por parte do Estado, ficando restrito a pequenas reformas pontuais muito mais do que uma aplicação ideológica (aqui de sentido restrito) ou como pensamento de linha política como entendimento de um governo centrado em tal noção.
            Segundo a autora do artigo, a pós-modernidade exigiria novo paradigma, sendo que um dos fatores intrínsecos da pós-modernidade é findar paradigmas, pois é incapaz de estabelecer verdades, sendo assim, pode-se constatar que em momento algum a aplicação de pós-modernidade se dá na esfera do Estado, pois o mesmo necessita dos mecanismos (pelo menos nos moldes de aplicação até hoje realizados no Brasil) do qual vem se servindo há tempos para funcionar, quando, então se fala de qualquer índice que supostamente pertenceria a pós-modernidade, o que se pratica é tão somente isolar qualquer aspecto e inseri-lo no contexto estabelecido, e isso de modo algum constituí uma possível prática pós-moderna ou sua aplicabilidade.
            Ela aponta que vários fatores pensados por esta educação da qual ela já chamou de liberal, neoliberal, burguesa e pós-moderna que visa a igualdade de gênero, o acesso de deficientes, a proximidade destes com a sociedade, a equidade, a liberdade, o pluralismo, a tolerância, a solidariedade[7], inserção de grupos minoritários, preocupação com questões ambientais e outra que condizem a realidade, que tudo isso seria apenas para tirar o foco daquilo que – fica evidenciado no texto – seria o grande fim de toda a sociedade, a grande verdade a ser pregada e praticada, que é a luta contra o Capitalismo[8], ou seja, fica claro que o intuito é tão somente este, que resulta em perceber a massificação/agente dos interesses da ideologia escolhida, deixando à mostra o sentimento religioso salvífico presente nesta leitura de mundo da qual invariavelmente devemos nos juntar. Entendo assim, que o Estado via de regra, deve submeter-se também como um bloco fechado a esta abstração, sendo ele a materialização da ideia como meio para o fim, que é certamente, a Utopia. Ou seja, segundo a lógica dos argumentos da autora do artigo, a escola deve mesmo ter como única serventia a criação destes objetos que comporão a massa uniforme, sendo assim, quanto maior for o rigor institucional da educação, maior será sua efetividade como manutenção do poder estabelecido, pois a grande serventia da mesma não deve ser a propagação da equidade, a possibilidade da autonomia, nem o desenvolvimento pessoal e o autoconhecimento, e sim a luta contra o Capitalismo, e pra isso o entendimento da sociedade como classe vem para corroborar à obrigatoriedade da população aos ditames das leis cada vez mais coercitivas.
            Realmente o que aprendi com a pesquisa da autora em seu doutorado é que a educação como

espaço da solidariedade e do desenvolvimento de talentos pessoais e coletivos, a preocupação em tornar os indivíduos eficientes, produtivos, e uma responsabilização individual pelo alcance ou não dos objetivos pessoais e coletivos. [...], a recomendação de que não se deixe de explorar [...] nenhum dos talentos que constituem como que tesouros escondidos no interior de cada ser humano. Memória, raciocínio, imaginação, capacidades físicas, sentido estético, facilidade de comunicação com os outros, carisma natural para animador[9]

nada disso está certo, pois vem apenas para esconder a verdade, que é a manutenção da desigualdade imposta pelo Capitalismo, apesar de se pregar o acesso a todos e o desenvolvimento do indivíduo, ainda assim serve apenas como para manter o “padrão atual de acumulação do capital”[10], não importando que o indivíduo desfavorecido “vença” na vida, já que não seria correto termos vencedores, isto implicaria a subjugação do outro, oprimindo-o, resultado do imperialismo aplicado às relações pessoais, e ao atribuir a responsabilidade pelo ato individual fomentamos assim a desigualdade[11] e é claro, isso não é desejável por parte dos bons, e como todos são bons em essência (como nos ensinou Rousseau) e a essência maligna é o componente principal do Capitalismo, ou seja, a força externa que a todos corrompe, nada mais correto que a submissão aos ideais do mestre incorporadas pelo Estado burocrático. Agora só resta saber quem criou o Capitalismo com sua essência do mal.


Diego Marcell




[1] BLUM, Márcia Sabina Rosa. ORIENTAÇÕES PARA A AVALIAÇÃO DA UNIDADE I.

[2] FALEIROS, Vicente de Paula. O que é política social. 1991, p. 62.
[3] Idem. p. 63.
[4] OLIVEIRA, Dalila Andrade; DUARTE, Adriana. Política educacional como política social: uma nova regulação da pobreza. 2005, p. 208.
[5] ZANARDINI. A reforma do Estado e da educação no contexto da ideologia da Pós-Modernidade. 2007, p. 248.
[6] Idem. p. 252.
[7] Idem. p. 263.
[8] Idem. p. 262.
[9] DELORS in ZANARDINI, 2007. p. 265.
[10] ZANARDINI, 2007. p. 266.
[11] Idem. p. 267.

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