A
grandeza da arte só começa a aparecer no ocaso da vida.[1]
Falamos
ainda na substituição de velhos valores, na queda de outros mitos e podemos
dizer que sob esta crise conceitual da arte – não nela em si, mas na boca de
alguns conservadores -, esta ou qualquer crise do tipo só existe porque a
mentalidade é perpetuada por alguns e estes podem emitir hoje com liberdade
seus ideais retrógrados.
Se
o primeiro passo foi acabar com o Belo, e reduzir tudo a conceito, o próximo
passo será findar o conceito e restar apenas a ancestralidade da expressão.
Isto já vem ocorrendo na prática, infelizmente a prática não é a realidade pois
o sistema tem dono e estes donos ainda ditam, suas vozes ainda reverberam no
espaço.
Lembremos
que já nos anos 1960 Lygia Clark nos esclarecia a respeito da volta dessa
relação da arte com a expressão saída do ser humano e, portanto, construída na
experiência da vida; sendo assim, se apresentando anônima, natural, necessária
e particular. O que nos faz entender que a arte, assim como a comida é uma
parte inerente de nossa espécie, ela vem como necessidade vital superior a
qualquer enquadramento histórico e cultural, ainda que se costume elevar o
termo cultura a um pedestal, de fato ele não existe, esta cultura é uma criação
de um mundo moderno tardio.
Esta
modernidade tardia gerou uma grande mudança nestas relações socioculturais; é o
que Debord chama de separação; com a independência dos objetos de toda uma
narrativa desta história, os mesmos não tem mais sentido de existirem; agora,
se permanecerem, eu chamo isto de conservadorismo, principalmente alguns destes
que querem carregar valores ultrapassados. No caso ainda da modernidade tardia,
ou neste caso valendo-se do processo iniciado logo ao sair da idade-média,
ao perder a comunidade da
sociedade do mito, a sociedade deve perder todas as referencias de uma
linguagem efetivamente comum, até o momento em que a cisão da comunidade
inativa possa ser superada pelo acesso à real comunidade histórica. A arte, que
é essa linguagem comum da inação social desde que se constitui como arte
independente no sentido moderno, quando emerge de seu primeiro universo
religioso e se torna produção individual de obras separadas, conhece, como caso
particular, o movimento que domina a história do conjunto da cultura separada.
Sua afirmação independente é o começo de sua dissolução.[2]
Porém, vejo que mesmo esta chamada “real
sociedade histórica” já segue em vias de extinção, sendo característica da
modernidade tardia, de que eu falava antes, por justamente ainda almejar
valores históricos, quando desta dissolução não deve de fato sobrar nada, pois
o que sobra é história, e a mesma nesta expressão não cabe, seu interesse é
substituído pela necessidade, o mito só pode ser o mito psíquico do individuo,
mas não deve estar no mundo, deve seguir atemporal, o que vale é o homem, não
existe mais o objeto social de apropriação.
Na
história teremos outros objetos de interesse para substituir a arte, vemos por
exemplo, os filósofos muito mais interessados em mecânica quântica e
neurociência, a arte como relevância e algo que instigue no contexto histórico
está ultrapassado, por outro lado temos o sublime tecnológico, que nos propõe a
novidade estética e a reflexão bioética, questões pertencentes a todo um
conjunto de desenvolvimento e pesquisa cientificas, “proezas que nos levam a
perguntar se a função de maravilhamento, no passado entregue à poesia, não está
na verdade com a ciência, cuja poiésis,
cuja efusão criativa ultrapassa em muito a das artes contemporâneas”[3].
A
mudança de mundo, de espécies também que compõe tal mundo, naturalmente irão
fornecer a mutação dos setores de interesses da nossa espécie, mas não a
criação de novos, por isso o mito permanece, ou melhor, o espaço do mito, que
pode ser reconhecido com outra nomenclatura e com outra significação. Como
ocorre neste espaço da religião/arte onde a elevação do espírito toma outra
relação com os mesmos termos, “essa sequência de adjetivos associados ao
sublime o descreve, na versão tecno, em sua superfície mais externa – os
sentimentos que acompanham a visão mítico – popular do conhecimento”[4].
Evidentemente que os interesses continuarão existindo, mas de alguma forma
serão substituídos, o que pode ocorrer de forma positiva (num processo de
construção natural dos objetos relacionais) ou negativos (pela imposição de um
sistema de domínio, Estatal ou financeiro).
Diego Marcell
02/11/2014
Referencias
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo – comentários sobre a sociedade do
espetáculo. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto,
2008.
SANTOS, Jair Ferreira dos. Breve, o pós-humano. Rio de
Janeiro/Curitiba: Francisco Alves/ Imprensa Oficial do Paraná, 2002.
Está mandando bem amigo. Pena que ainda existe no Velho Mundo alguém pagando R $89.000,00 por um biscoito salvo do Titanic.
ResponderExcluirApesar de não se identificar, publiquei porque chamou de amigo rss. Quanto a história do biscoito eu desconheço, por isso não consigo fazer a relação.
ResponderExcluir