23.3.15

É sobre o que


            Por que escrever, que frase chula. Por que estou escrevendo? Sou brasileiro e é só. Terei de aceitar, de ser um submisso ouvinte de babacas acadêmicos ou unanimidades burras do povo.
            Querem que eu fale de arte? De Aristóteles até os pós-modernos? Querem falar de pop, de dadá, de grafismo, de rua, de não-arte? Não! São todos inúteis, pois sou brasileiro, sou do saber popular, do artesanato baiano. Tudo tão inútil quanto. Belo? Arte? Estética?
            Foda-se – isto é arte. Niilismo particular, isto é arte. A arte não é nada. Nada é arte. Já a não-arte é coisa de idiotas acadêmicos.
            Prometo que antes do fim, terminarei de ler Wittgenstein, só pra dizer: NADA.
            Sócrates ainda é o mestre maior, o único em que posso me jogar, porque nele não há acadêmicos e não há povo, não há arte e há tudo. Ele é fútil, assim como eu.
            O que se espera de um terceiro-mundo pós-moderno? Esta arrogância do provocador pelo prazer do saber.
            Neste momento Confúcio seria meu mentor se eu tivesse lido, mas justamente por isso ele acaba sendo, pois o compreendo sem saber.
            Não, não respeito a gramática. Sou ignorante. Mas os gênios são de outro lugar. É apriori, é banal e é teórico, por isso o paradoxal morre em meus pés, por não saber pra onde ir.
            Eu não tenho as respostas diretas, o negócio é de uma subjetividade bobamente divina que serve apenas para viver, ou sobreviver, não me serve para ostentar nada, pois não sei ser acadêmico.
            Faz semanas, meses, tenho que bater na tecla, só o nada me deixa feliz, ao niilismo presto um culto urbano nas noites vadias.
            A que horas? Jogar fora tudo que me prende é minha única herança oriental, obedecer ao corpo, ao acaso numa orgia dialética pela física e a alma no espírito da cidade. Querer é fazer, falar é errar, não há como ser santo no país que te obrigam a falar. Herança nacional militar. Tortura midiática. Pau de arara cultural. Mas o querer é sonho. Sonho padrão Globo. Quero, somente isso, sobreviver. Amor? Paixão? Nenhum destes, ao sul do Equador é apenas desejo. Praia e sol. Mas eu quero a nuvem cinza, o mar escuro. Eu quero o arranha-céu da vanguarda existencial. Reaprender. Voltar a Heidegger. Eu sou do sul, mas este sul é muito ao sul de qualquer perspectiva tupiniquim. Não tem mais Macunaíma. Aqui Leminski é judoca. Cruz e Sousa se dá bem. Sganzerla vai até Welles. Cigano é campeão peso-pesado. Por que eu preciso do teu discurso eurobaiano sem identidade? Esqueçam tudo que eu disse. Quero ser pago só pra ouvir.

Diego Marcell

12/11/2012

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