Estou
em Israel, mais precisamente Mevasseret, uma cidade satélite de Jerusalém, aqui
a cerveja é mais cara e pior que no Brasil, mas acabou, então saí para comprar,
já é noite, nesta época do ano tem anoitecido às 5 da tarde, apesar de agora
ser quase 9, mas vamos ao que interessa:
Fui
chegando na esquina e comecei a ouvir vozes, fui diminuindo o passo, olhei com
cuidado e vi um gato, falava com uma oratória impressionante, muito mais aberta
e próxima ao nosso português que do hebraico, logo vi outro, parecia tenso, mas
não como quando os gatos brigam, a tensão não era de conflito, o outro
continuava falando e o gato mais rígido se aproximava do outro com languidez
humana, eu continuei andando, parece que me notaram mas não moveram um pelo do
que almejavam em seus mundos, parecia um tango repleto de flertes e
sensualidade, o gato tenso também dizia algumas palavras, mais espaçadas e
pausadas que o outro, que falava do mesmo lugar de sempre e com a mesma eloquência
e cadência, o outro ia se aproximando até tocar a face daquele que falava e
ambos iniciaram um beijo, um beijo de língua, misturado à palavras que saiam
nos intervalos, e beijavam-se e falavam até que as vozes diminuíram, mas os
beijos não, então resolvi não atrapalhar mais aquele momento tão intimo com meu
voyeurismo, mas confesso que saí instigado e assustado com aquilo, vi ali uma
evolução num epífania meio darwiniana meio
Pierre Boulle, comecei a pensar que em breve estes gatos poderão substituir os
humanos.
Quando
cheguei aqui à 12 dias, me deparei com gatos enormes soltos por aí, alguns com
coleiras, outros não, muitos peludos e de várias cores e tipos que não sei
especificar por não ser especialista no assunto. A maioria é arisca, mas tem
uns gatos enormes que ficam esperando você se aproximar enquanto te olham, o
que me dá muito medo e quem acaba sendo o arisco sou eu.
Aqui
tem as lixeiras de rua onde os gatos se reúnem, e isto fez com que aqueles
desenhos animados agora fizessem todo sentido, o Manda Chuva e outros; no
Brasil quem comanda esta área são os cachorros, aqui eles são minorias, e
turmas enormes de gatos se agrupam como mendigos junkies de olhos claros. Passei
a fotografá-los nas tardes livres, e sempre aparece algum morador da vizinhança
reclamando que estou tirando fotos de seus lixos, aí quando digo que são os
gatos eles perdem o interesse: “The cats? Ah ok!” e vão embora.
Cada
recinto deste tem seu líder, notei a constância de lideres pretos nestes
lugares, e a simples aproximação de outro gato de seu lugar de descanso é logo
ameaçado com rosnar grave e cara feia, em seguida o outro disfarça e passa
batido.
Ontem
estávamos fazendo churrasco e ouvimos um gato, achamos que era lá embaixo da
janela, mas não, era mais próximo, na porta... minha tia tem uma cachorra
pequenez menor que os gatos, abri a porta para atender o gato que não se calava
numa métrica sincopada e angustiante, a cachorra saiu em disparada, não chegou
nem perto do gato, pude ver que era preto, depois ele voltou, desta vez na
janela, lá a cachorra não chega, somente os outros gatos que vinham atrás, ele
rosnou para um que se aproximava e poderia roubar um pouco da atenção à ele
destinada, apesar de calado e tímido. Este gato preto tinha uma coleira, era
sagaz e independente, ou melhor, individualista, talvez egocêntrico, ardiloso,
queria entrar no churrasco como se fosse convidado, mas não queria nenhum cúmplice
felino, queria roubar a cena e curtir a festa, talvez ele não soubesse da
cachorra, se não fosse por esta quem sabe ele tivesse grande êxito com esta
ousadia, acho até que se socializaria com maior desenvoltura que alguns humanos
presentes no local.
Diego Marcell
12-11-13
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