Qual
o pior adjetivo que você deve me dar? Quero apenas ter todo conhecimento para
gastá-lo na piscina. Meus amigos, a cerveja está gelada. Eu matei este animal
(de outro gênero), irei devorá-lo com limão, cebola e sal. Não quero que me
ames como o romantismo quis, não quero que mude nada por mim, não faça nada por
mim, não vá pensando que sou seu. Mas eu te quero sim, não se apaixone, apenas
se divirta, cite poemas, projete filmes, Bergman, Agnes Varda, Glauber. Me conte
o que achou dos clássicos da literatura. O budismo ainda é minha arma. Nietzsche,
pinot noir, neon.
Vi
que os animais da nossa espécie são de fato ridículos, um animal ridículo; nada
se compara com os religiosos, aos dependentes do mito, eita animal sentimental
que se apega facilmente a qualquer inutilidade que lhe seja útil. Eu me apego
as utilidades das inutilidades para me fazer também inútil na artificialidade
da realidade criada, no paraíso artificial que manufaturamos com nossos cérebros
gigantes.
Espero
ver as abduções (ou arrebatamentos) como um espetáculo global, melhor que a
tech art. Ser um escolhido não cabe a mim, eu apenas sou. Gosto da arte do
desempenho por isso, emite valores. Quantos morreram por esta existência, para
demonstrar o valor primordial do inútil quando este não deseja poder.
Eu
sou um índio, alemão, português, árabe, negro de olho verde, meu gene neandertal
não foi para meu físico, não resisto muito ao frio.
Os
deuses devem ter culpa no cartório metafísico. Mas eu sou anarquista, não assino
contratos em branco.
Você
já pensou em dançar no meio da guerra? Enquanto eles rangem os dentes, você
sorri. Enquanto eles grunhem você faz piadas. Eles são o alvo da piada, porque
eles são a piada.
Você
já se conscientizou do valor da interpretação? Nesse ponto sou pós-moderno com
Derrida, nosso Homo cyber não pode emitir os mesmos moralismos de outrora. Mas a
aurora pode ser perigosa, já que AI e algoritmos são patrocinados, se o Estado
cair, com sua moral múltipla de âmbito global, com o mercado e suas marcas galácticas
já não tenho tanta certeza. (Eu deveria citar famílias galácticas?).
Se
uma maquina comer uma maça envenenada na sua frente, e esta maquina for o totem
bode, ou uma pedra na ilha de Páscoa, você ascende uma vela e ainda assim mata
a cobra porque o veneno – a seu ver – mesmo que remédio, não cura um gay como
Turing!? Eis uma pergunta que Bolsonaro não saberia responder, que Lula
xingaria um palavrão e que Dilma com certeza usaria para uma resposta
mirabolante e sem sentido. Mas talvez Obama saiba, e ainda assim finja que não.
“Não
existe lugar seguro” eu respondi quando precisávamos fugir das câmeras e falar
baixo sem celulares. Não há segredos imunes ao lado mau de deus. Os templos estão
vazios, os mercados cheios, os bancos bloqueiam a ilusão que você chama de espírito.
Se acabar a luz elétrica só os vampiros cantarão.
Não
haverá reverso tangível na tragédia, eis uma tragédia com estética peculiar a
nossa, uma estética definitivamente sem ética, flamingos e unicórnios de plástico
voando guiados pelo olho que tudo vê e nada sente a metralhar descendentes
esquecidos num acaso imperialista. O destino não estava a favor desses; uns
diriam karma, outros apenas justa conseqüência; eu só digo ser um espetáculo muito
triste de streaming.
Quero
ver as roupas desse Deus ex-machina, no centro de Jerusalém, tomado de elemento
115, quero ouvir a sabedoria de Salomão, ver se o modelo de Elias é Ford ou
Fiat, porque Wolksvagem sei que não é.
Diego Marcell
2019
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