Você
vê minhas olheiras? Eu venho de um lugar árido, árido de idéias. Eu sempre
estive sozinho nessa, e até aqueles que salvei me traíram ou abandonaram. Então
eu sempre estive só; meu erro era não ter percebido isso, eu ainda acreditava
na sincronia dos passos, na assertividade da sonoridade das palavras, por isso
me atrasei, por achar que carregar alguém 1 km, me carregariam também. Até hoje
não vi a tal retribuição do universo, por isso já não acredito em nada, por
isso não obedeço as leis, não posso obedecer o que não existe de fato e só o
que existe de fato sou eu, não o que as pessoas vêem de fora, mas o que eu
sinto de dentro.
Eu
nunca quis ser poeta, eu nunca quis ser artista. Eu só não entendo porque as
pessoas julgam tanto alguém que elas ajudaram a destruir, a criar, o monstro
que elas ajudaram a criar, a construir. Eu nunca quis ser esse monstro, mas
agora é impossível deixar de sê-lo. Imunidade adquirida do contrato, essa nuvem
de poeira tóxica não me destruiu, ou me consumiu, como queira, mas me forjou,
hoje eu sou antídoto.
Eu
sinto fome, minha cama é desconfortável, a moto que passa, o cachorro que late,
a música que toca, a conversa ali, tudo me irrita, mas isso não quer dizer nada
as cinco da manhã num mundo que arde nas chamas da ignorância percorrida e
propagada pelas veias da sociedade. Sociedade? Quem tem parte com quem? Sociedade
também poderia se chamar burocracia.
Minha
lareira estará flamejante para consumir com o lixo dos papeis enquanto bebo um
cabernet. A escola, a família, a religião; você pensa que se elas te deram
moral e ideologia fizeram algo bom ao mundo, a mim, a você? Nenhuma boa
intenção feita sob estes valores e signos são dignos de respeito. Queimem todas
as assinaturas, os contratos, os tratados e as teses, tudo que esteja de baixo
da hipocrisia da fé, esta condição da nossa espécie de sobreviver pela
destruição e de construir totem pela destruição da liberdade; mas eu estou com
Nietzsche pela destruição da moral do homem instituído para a construção de uma
nova aurora.
Diego Marcell
9/2019
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