A
vida toda fui inocente, fui casto, fui santo; obedeci fielmente todo
mandamento. Filho da ignorância dediquei a ela minha sabedoria. E só me fudi! Agora
entendo o que eles queriam, mais um igual no clã passivo, irreflexivo a
conduzir uma tradição de mesmice e injustiça. Vejo quais foram suas armas a me
tirar toda energia em meu ápice vital, a tirar o aprimoramento intelectual
ainda na fresca juventude.
Mas
agora, no fundo do poço, aprisionado por um passado de imersão de valores
distorcidos. Agora que a ilusão se materializa como paredes grossas a minha
volta, já não serei santo, a inocência apodreceu como o totem de madeira barata
que me fizeram adorar. E agora nada mais é considerado por aqueles que me
puseram aqui, tornei-me o inimigo publico de todos que tem um ideal na cabeça. Eu
sou a ameaça constante de tudo aquilo que eles esconderam por medo de assumir.
Nada
mais tenho a perder, não tenho bens, não tenho ninguém, vago numa bolha
prisional imputada lentamente, enredada lentamente nos meus tempos de
juventude, então já não tenho medo, nada me resta a não ser a integridade que
criei, nada me resta a não ser uma verdade que não se referencia nas paredes,
portanto como peixe no aquário, como o estranho no ninho farei questão de ser. Sem
medo da vida e da morte serei o antagonista, o vírus, o veneno, a podridão, o
pecado, o terror e o diabo; já que nem se eu salvasse a cidade, como Geni, ou
as almas, como Cristo, adiantaria, eu serei sempre condenado como Sócrates por
corromper a juventude.
Mas
algo que jamais abrirei mão é a justiça, pois esta habita minha natureza e,
portanto, todo aquele que me acusar do contrário, desde já conclamo: eis um
mentiroso!
Se
não posso ter minha liberdade pelas vias naturais que deveriam ser postas,
serei o pior prisioneiro, daqueles a causar as piores rebeliões, a queimar colchões,
à tornar refém o carcereiro.
Se
assinei contratos em branco atormentarei o contratante até este perceber o mal
que fez, o farei se arrepender do erro que cometeu.
Diego Marcell
03/08/2019
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