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e quem quiser ser um criador, no bem e no mal, tem de ser, antes de tudo, um
destruidor e arrebentar valores.
Assim, pois, o mal maior é próprio
do maior bem: este, porém, é o criador.[i]
A única coisa nisso tudo que me
deixa puto é pagar de bom moço, chorar as imperfeições da vida, e praticar os
mesmos eternos erros do desrespeito ao próximo. Nunca me perguntaram
diretamente sobre meu mundo, mas a prontidão para expor aos quatro ventos suas
interpretações preconceituosas baseadas na falta de conhecimento ao meu
contexto, ou ao contexto de que falo, para isso se apressam e não se
envergonham de fazê-lo.
Estou largando o peso do mundo, por
mais que este seja uma casca muito próxima da minha pele e doa arrancar. Os devotos
de Mamon (os porcos capitalistas ou os aristocratas socialistas) acham que é o
dinheiro. Outros tantos imersos e doados ao sistema de poder acham que é
loucura. Tanto faz o que pense o inferno, a verdade é que sou eu um produtor de
existência, para isto é que se vive.
Observarei e quiçá até defenderei
sem julgar as loucuras do mundo desde que nenhuma fira a minha forma de viver,
se queres, portanto me constranger, reprimir, boicotar, censurar... eu não serei
um passivo ouvidor; inclusive nem atentarei ao discurso, serei Marte e tal qual
o planeta vermelho farei com que o sangue cubra a canalha.
Basta que um terço da vida de um
homem tenha sido destinada ao enfraquecimento da potência do Um, escola,
igreja, ritos, normas, regras, tradições que vieram para domesticar, para o
poder domar a Vontade, gerar a doença da anti-natureza para nos obrigar a
comprar os remédios que criaram e chamaram de felicidade, de efeito com data e
hora marcada, após a aposentadoria, com a pele flácida a dois dias da morte.
É preciso ter a cada dia a experiência
única, é preciso estar presente a cada hora, é necessário perceber a
oportunidade de criar no acaso sem que o tempo conste no relógio. Se para os
covardes idealistas eu viajo (sic), “falar a verdade e ser certeiro com as flechas,
essa é a virtude”, ou seja, não varrerei para baixo do tapete, eu quero a
sujeira exposta, ditando claramente o porque das coisas estarem ali.
A massa adora pegar o que não conhece
e re-contextualizar na sua fantasia, e no abismo da psique há o crime e o hospício,
já não vêem a beleza da coisa em si, mas sonham sempre com uma mímesis que
caiba no seu bolso.
É preciso afirmar a vida, a sensação
do fenômeno como conhecimento par
excellence, quem precisa dos signos quando se tem as experiências? Afirmar é
Pollock, afirmar é dançar, afirmar é conhecer alguém na rua, afirmar é parar
embaixo da cachoeira, é reconhecer o erro, se desculpar, é Garrincha driblando,
doar um agasalho sem campanha de TV, é burlar a lei para fazer o bem, é ser maleável
com o outro porque o dia é lindo, afirmar é dizer não, é quebrar as regras, é
abdicar da técnica, é corromper os puros, criar atalhos, questionar as
certezas, derrubar os padrões, bagunçar a ordem; “negar e aniquilar são condições
no ato de afirmar”. A bondade é uma aureola de mentiras na cabeça dos homens,
quando, porém, se reconhecer dúbio, poderá buscar o equilíbrio yin yang, através
da aceitação da verdade que é uma realidade de conflitos para enfim ser honesto
consigo e o outro. Aceitar-se-á a partir daí a multiplicidade e variedade de relações,
caindo assim tantas leis rígidas baseadas em valores antigos de dominação e padronização
por medo do diferente. Se a diversidade reina, o diferente passa a ser uma
regra tão ampla que não permite mais uma unificação de poderes, fazendo com que
todos sejam aptos à sociedade.
Com a manutenção da tradição pelos “bons”
- Nietzsche anuncia incrivelmente em seu texto além de profecias do século XX
como guerras e o nazismo - o que me chama a atenção pra essa onda dos
conservadores apoiadores de Bolsonaro, onde todos nós sentimos na pele, tendo
um pai, uma tia, um vizinho, uma amiga que cegamente e sem raciocinar aderem a
este discurso tão antiquado e moralista; que vejo o quanto sofremos debaixo
dessa repressão católico romana e o modelo militar para que queiram no século XXI
eleger um presidente que represente tudo que lutamos para destruir, sabendo que
é uma balela seu discurso de bondade, sendo que não respeita o que não se
enquadra no padrão destes valores predefinidos. “Homens bons jamais falam a
verdade. Falsos portos e certezas ensinaram-vos os bons, nas mentiras dos bons
fostes nascidos e mantidos. Tudo foi distorcido e mentido até o âmago pelos
bons”. Toda ideia de respeitar a tradição e manter seus valores é para que a
massa siga igual, estagnada por gerações, sem questionar, reproduzindo o
preconceito que segmenta e favorece ao poder vestido de ideal; manter o mito em
vigência acalenta a alma dos fracos e aprisiona os livres, pois há assim uma
massa de policiais, covardes com medo do que a diferença pode causar, desta
feita seguem as palavras de Zaratustra:
Os
bons – eles não podem criar, eles são sempre o princípio do fim – eles crucificam
aquele que escreve novos valores sobre novas tábuas, eles sacrificam a si o
futuro, eles crucificam todo o futuro dos homens!
Os
bons – eles foram sempre o princípio do fim...
E
sejam quais forem os danos que possam causar os caluniadores do mundo, o dano
dos bons é o mais danoso dos danos.
Diego Marcell
Setembro de 2018
[i] Todas as citações foram
retiradas do texto “Por que eu sou um destino” de Nietzsche in Ecce Homo.
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