Esta talvez seja a única
manifestação social que não tenha me causado náusea nas últimas eras do
digital, de fato a expressão por parte das mulheres numa tentativa de através
da união manifestar aquilo que seria o bem de todas ao repudiar um candidato
machista me alegra ao escancarar o mal possível na concretude de tal pessoa no
poder. Posso estar enganado, mas “ele não” se tornou um grito contra o
retrocesso, todavia, um grito um pouco segmentado, sendo que o retrocesso
expresso no caso é apenas um exemplo, pois o retrocesso é muito maior que o
brio feminino e diz respeito a todos os cantos da sociedade.
2014 é passado, Dilma está morta,
Aécio virou pó, não existem mais passeatas, nem panelas amassadas, não eram
apenas vinte centavos, teve Copa, e daqui quatro anos continuarão a fazer da
corrupção espetáculo. Neymar caiu, Pelé o poeta calado cambaleia, Romário
tabela com Tiririca na grande área, Ronaldo brilha muito. Cala a boca Galvão,
cala a boca Magda, quem se importa com o superfaturamento da camisa do meu
time?
Tem gente acendendo vela pra tudo
que é santo, senta na igreja e se diz comunista sem qualquer teologia da
libertação. Tem gente que diz que vai matar em nome de Jesus, nunca mais dar a
outra face, fascismo, teologia feminista, eu preferiria ser uma cyborg que uma
deusa, mas elas acham que menstruação significa alguma coisa. Tem gente que é
pra frentex e vota em conservador, tem gente que ama tanto o filho gay que
coloca machista no poder, tem gente que ama tanto quem vive no mesmo teto que
faz de tudo pra este ser morto na rua.
Todo mundo agora é santo e policial.
Todo mundo tem suas razões, mesmo que sejam irracionais, todos tem um anjo que
fala ao ouvido as revelações mais exclusivas. Todo mundo que é do deus de amor
sabe como desrespeitar ao próximo, todo artista social sabe como inflar sua
hipocrisia.
A massa, os bois, o homem gado, acha
que só por exprimir signos sonoros está a viver, crê ser o transcendental, o
escolhido, mas não passa de um condicionado reprodutor de milenares
conformismos auto-indulgentes. Soluções de varejo, comerciantes de produtos de
quinta qualidade viralizados em hashtag’s impulsionadas por robôs muito bem
pagos.
Mas eis que o céu se abre e numa
misancene no que há de melhor nos conflitos do antigo testamento, o enviado vem
de uniforme militar, podia ser Che, Fidel, Sargento Pincel, mas em 2018 o seu
nome é Bolsonaro; onde ficou Ciro, Marina, Enéas? Não sei, fodam-se os partidos
e suas causas de legenda, só não vê um bom e velho homem grão, parafuso de
máquina, ao modo dos antigos tempos modernos a serviço de um funcional
taylorismo, eis que o homem massa acha que o messias está entre nós, se
agarrando como pode em suas saias, no cabo da pistola de um mito necessário aos
primitivos ou nas utópicas barbas de um profeta do proletariado, a massa
repartida em caprichoso e garantido segue ululante até quando troca de camisa
ao final da partida.
Toda instituição humana é uma
farsa, Jesus está repartido em relicários defenestrados do céu, já não há uma
gota de homem-deus em toda boca que pronuncia o significado de Cristo, mas
mesmo assim a massa segue a escolher seu Barrabás pra depois fazer cópia de
gesso. Ao final ainda devemos nos curvar diante do rei nu e pagar-lhe um
boquete, todos querem o maná, mas ninguém quer lavar a louça.
Em tempos de politização e
exposição ideológica proporcionada pelo século XXI aos seres do século XX
percebo apenas o vexame da nossa espécie animal. Passaram-se quatro anos, não
aprendemos nada com toda perda de amizades nas redes sociais e novamente
estamos aqui realizando o lava-pés no carrasco. Confesso que entre gritos de
“Bolsonaro 2018” e “Lula livre” da até uma saudade do FHC, quando a social-democracia
tinha lá suas vantagens, mas fato é que o sistema é podre e acaba sendo
confortável dizer que alguém é “menos pior”, ou qualquer bobagem do tipo, só
porque no fundo todos tem medo do que o sistema pode fazer com suas digitais
digitalizadas, antes fosse uma bela teoria da conspiração, mas no dia marcado
todos irão à famigerada urna eletrônica cumprir seu papel de cidadão, pobres coitados,
empalados de moralidade irão se reproduzir instintivamente condicionados, o
homem continua a ser o seu lobo, mas agora na barriga do Leviatã, por isso eu
vos digo, ao invés de preencher o trono do deus morto com qualquer parlapatão,
vão vocês mesmos ao trono, nem que seja ao vaso sanitário, defequem como nunca,
uma diarréia purificadora e fétida, para enfim limparem-se unicamente com seus
próprios títulos de eleitor, para depois ainda impregnado de odor enviar via
postagem simples pela nossa única e oficial empresa os Correios com destino à
nossa capital federal.
Diego
Marcell
19/09/18
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