24.8.17

Áudioperformance



Há algum tempo em minhas visitas a exposições de arte contemporânea, principalmente de arte digital, o que mais me prendia eram instalações de áudio sem imagem. Mais ou menos ao final de 2013 e 2014 inicio uma exploração com áudios, realizando uma série de horas ininterruptas de gravação, inclusive gravação ambiente. Culmina ainda no final de 2014 realizarmos o Papo pós-moderno na Rádio Gralha, creio que por aproximadamente dois meses, onde os programas eram de fato performances. Presumo que não consegui gravar uns dois ou três programas. E em um destes dias, numa saída da rádio, gravei o primeiro áudio intitulado áudioperformance, que eu defino o termo no próprio áudio. Já trabalhava no conceito de autoexplicação da coisa em si, que como é ator extensão, passa a ser performance em linguagem/suporte. O artista-propositor e, portanto, performer por natureza, está presente, expondo e atuando, trabalhando com sentidos específicos. Lendo Paul Zumthor enxerguei a performance contida na tradição oral pelo fato dela determinar valores, por ser um corpo agente com mais poder que a escrita, sendo que esta é um corpo código que deve ser decifrado, mas que para tal possui um enorme abismo até o corpo real do performer; já a voz, mesmo que gravada, já dá mais corpo a ser conhecido; o autor suíço diz que considera a voz “não somente nela mesma, mas (ainda mais) em sua qualidade de emanação do corpo e que, sonoramente, o representa de forma plena”[1].

Diego Marcell
22/08/2017


[1] ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. São Paulo: Cosac Naify. 2014. p. 31.

Nenhum comentário:

Postar um comentário