22.8.17

Acaso e performance




O acaso se apresenta em minha obra, desde sempre, mesmo que ainda não conceituado e entendido como tal, ali sempre esteve como ator de todos os desejos.
            Quando junto com Marcos Worms, Diogo Padilha e Mide criamos a banda Dogma 85, e antes mesmo quando já almejavam as composições sem ao menos ter qualquer noção e habilidade musical, mas já muito influenciado por questões beirando o hibridismo, e optar por uma característica prática punk porque eu via também aquilo como performance. Nossos longos ensaios improvisando[1], apesar de várias musicas compostas e que adorávamos ter composto, nos divertíamos, (a meu ver principalmente ou talvez apenas eu e o Marcos (também pelas influencias do rock progressivo e psicodélico que ouvíamos naquele tempo), que não deixava de ser visto também como performance) muito mais com aquela liberdade que o momento e aquele som nos proporcionava como reação direta do ato performático.
            Quando fiz meu primeiro “filme experimental” Memórias do meu mundo[2] tem-se o acaso quase que como causa, e onde o erro sempre foi desejado como provocação do fenômeno de arte, aí também proporcionado pelo acaso presente nas referencias diretas ao Cinema Marginal, não só tendo em Sganzerla e Bressane, mas também em Glauber Rocha e aquela queda maravilhosa no final de Deus e o diabo na terra do sol. Sendo que todas essas referencias vão se tocar em outros momentos, na ligação de Helio Oiticica, Lygia Clark, os concretistas e tudo mais que está entorno das questões que resignifico ao meu tempo, pelo interesse apenas do que importa e faz bem, o antropofágico deve ser inteligente.
           
            A arte e a filosofia tenderam a se mesclar em minha criação de forma natural, pra mim fazer filosofia é como fazer arte, não sei como os outros filosofam, ou escrevem conceitos, eu quando faço penso em formas, e quando faço arte, faço sob um conceito, não faço gratuitamente, e não o faço por técnica[3], nem escrevo por técnica. Lembrando que o verdadeiro sentido de poética - que tanto usam nas faculdades de arte é o de criação inspirada, criação pelos sentidos e que irão fazer você executar, e não aquele texto que escrevem e nem sabem o que dizem, aquilo é apenas uma tentativa de formar um conceito sobre sua arte.
            Mas as pessoas pensam que há beleza no texto, mas a forma bela não é textual, é de construção narrativa que leva a vislumbrar além, que te leva, por isso parece belo, mas é que te faz pensar, não necessariamente entender. Na literatura isso também ocorreu como experiência natural em minhas investigações pessoais; suscitado pela estética dos anos 1980 que só depois vim a saber que se tratava da pós-modernidade pensada naquele tempo histórico, por uma identificação puramente sensitiva instigada por raras memórias urbanas que me foram postas em curto espaço de tempo. A memória sendo sempre este mote dos artistas, no meu caso manteve-se fiel a uma identificação cinematográfica, representação na grande mídia e uma estada de um ano em Curitiba com três anos de idade, isso somados nunca mais houve separação, a estética urbana seria sempre a utopia de quem nasceu no mato (no meu caso, é claro!).
            Acho que pelas possibilidades de acaso dada por este fluxo de caos da metrópole, que envolve antes de tudo a diversidade de ideias, a diluição das normas, é que tal possibilidade e acaso propiciam ao performer ser. Onde a descoberta não finda e não é barrada.
            Assim a reflexão em meu processo artístico também é um expurgo, ou seja, um mote, como eu dizia anteriormente, o artista recorrendo novamente às memórias.

Diego Marcell
2015 / 8-2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário