O acaso se apresenta em
minha obra, desde sempre, mesmo que ainda não conceituado e entendido como tal,
ali sempre esteve como ator de todos os desejos.
Quando
junto com Marcos Worms, Diogo Padilha e Mide criamos a banda Dogma 85, e antes
mesmo quando já almejavam as composições sem ao menos ter qualquer noção e
habilidade musical, mas já muito influenciado por questões beirando o
hibridismo, e optar por uma característica prática punk porque eu via também
aquilo como performance. Nossos longos ensaios improvisando[1],
apesar de várias musicas compostas e que adorávamos ter composto, nos
divertíamos, (a meu ver principalmente ou talvez apenas eu e o Marcos (também
pelas influencias do rock progressivo e psicodélico que ouvíamos naquele tempo),
que não deixava de ser visto também como performance) muito mais com aquela
liberdade que o momento e aquele som nos proporcionava como reação direta do
ato performático.
Quando
fiz meu primeiro “filme experimental” Memórias
do meu mundo[2] tem-se o acaso
quase que como causa, e onde o erro sempre foi desejado como provocação do
fenômeno de arte, aí também proporcionado pelo acaso presente nas referencias
diretas ao Cinema Marginal, não só tendo em Sganzerla e Bressane, mas também em
Glauber Rocha e aquela queda maravilhosa no final de Deus e o diabo na terra do sol. Sendo que todas essas referencias
vão se tocar em outros momentos, na ligação de Helio Oiticica, Lygia Clark, os
concretistas e tudo mais que está entorno das questões que resignifico ao meu
tempo, pelo interesse apenas do que importa e faz bem, o antropofágico deve ser
inteligente.
A
arte e a filosofia tenderam a se mesclar em minha criação de forma natural, pra
mim fazer filosofia é como fazer arte, não sei como os outros filosofam, ou
escrevem conceitos, eu quando faço penso em formas, e quando faço arte, faço
sob um conceito, não faço gratuitamente, e não o faço por técnica[3],
nem escrevo por técnica. Lembrando que o verdadeiro sentido de poética - que tanto usam nas faculdades
de arte é o de criação inspirada, criação
pelos sentidos e que irão fazer você executar,
e não aquele texto que escrevem e nem sabem o que dizem, aquilo é apenas uma
tentativa de formar um conceito sobre sua arte.
Mas
as pessoas pensam que há beleza no texto, mas a forma bela não é textual, é de
construção narrativa que leva a vislumbrar além, que te leva, por isso parece
belo, mas é que te faz pensar, não necessariamente entender. Na literatura isso
também ocorreu como experiência natural em minhas investigações pessoais;
suscitado pela estética dos anos 1980 que só depois vim a saber que se tratava
da pós-modernidade pensada naquele tempo histórico, por uma identificação
puramente sensitiva instigada por raras memórias urbanas que me foram postas em
curto espaço de tempo. A memória sendo sempre este mote dos artistas, no meu
caso manteve-se fiel a uma identificação cinematográfica, representação na
grande mídia e uma estada de um ano em Curitiba com três anos de idade, isso
somados nunca mais houve separação, a estética urbana seria sempre a utopia de
quem nasceu no mato (no meu caso, é claro!).
Acho
que pelas possibilidades de acaso dada por este fluxo de caos da metrópole, que
envolve antes de tudo a diversidade de ideias, a diluição das normas, é que tal
possibilidade e acaso propiciam ao performer ser. Onde a descoberta não finda e
não é barrada.
Assim
a reflexão em meu processo artístico também é um expurgo, ou seja, um mote,
como eu dizia anteriormente, o artista recorrendo novamente às memórias.
Diego Marcell
2015 / 8-2017
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