Elementos
Signo:
A
pintura Morfose de Sanannda Acácia
Fundamento
do signo: A ideia de formação da mulher com toda carga de
opressão cultural partindo de um elemento pantanoso e tudo que isto envolve
representado no réptil de um âmago essencial.
Objeto
dinâmico ou referente: A condição do gênero feminino em
elementos que o formam e cercam.
Objeto
imediato: O efeito da morfose do réptil/mulher,
Interpretante
dinâmico: Uma saída incompleta de um estado que o ente se
encontra.
Interpretante
imediato: Um ser hibrido, mutante, causa e efeito de uma
condição.
Análise
sintática
Do
suporte
Feito num papel
recortado, (mais ou menos) 20 x 20 cm, em técnica de aquarela.
Da
composição
Realizado de forma a
manter o equilíbrio tradicional da composição visual, suas formas e cores
movem-se proporcionada pela característica da tinta aquarela, porém mantendo o
peso e a densidade temática pela escolha das cores e sua aplicação pictórica,
fornecendo uma leve distorção que flerta com o onírico, onde a mensagem se
adapta a estrutura material ou vice-versa.
Seu
enquadramento mantendo a figura temática central também centralmente no espaço.
Com a linha do horizonte compondo dois terços da estrutura do quadro. As formas
não são representações exatas dos objetos presentes, com seus traços que não
dão prontamente um signo indiscutível, mas trazem a mensagem de forma mais
ampla de possibilidades, remetendo até a alguns traços de animação. Ficando a
identificação por aproximação.
A pintura realizada em
aquarela que remete à suavidade das possibilidades da técnica, que, porém, pela
combinação das cores deixando que o quadro ganhe certo peso, pela maneira
utilizada sobre o papel.
Análise
semântica
As
pinturas, da qual esta faz parte, envolvem o universo feminino da artista com
relação à sua sexualidade, são sentimentos referentes à sua iniciação sexual.
Ela diz que há um culto entre seus 12 e 14 anos e a forma como ela encarou
isto; tendo ela passado por um autojulgamento muito forte na pré-adolescência.
Na
Morfose, mais especificamente ela fala do surgimento do julgamento intelectual
e moral sobre as coisas, uma passagem de deixar de ser uma vida passiva, o
animal que reage por instinto e medo, porém sem abdicar por completo dele,
sendo-o ainda de alguma forma, mas agora com capacidade de julgar e avaliar a
própria existência, mesmo que possa parecer uma maneira ainda “torta”, como
explica a própria Sanannda.
Por
haver também uma referência a organização do espaço da infância sua
representação dos cenários levam a sensação infantil na sua espacialidade e em
sua perspectiva.
Analise
pragmática
A composição envolvente
do objeto de Morfose em si corrobora com o mesmo sem deixar evidente qualquer
discurso que clarearia demais a essência do objeto principal na obra, pois
pode-se perceber o ar pantanoso, mas não pode-se vê-lo com evidencia, ao mesmo tempo
que na parte inferior da pintura se é levado mais ao ambiente marítimo,
enquanto a parte superior pode-se crer num ambiente mais árido, infernal (tendo
como referência imagens apresentadas não apenas na história da arte, mas na
literatura clássica, principalmente), um limbo e até um planeta específico como
representação deste mundo em que se insere o motivo primeiro. Onde este se
apoia, ou seja, o centro da imagem serve como habitat (ao menos temporal) do
fenômeno, a clareira pode indicar o momento prévio, mas também indica ao que se
dirige, neste caso, a si mesmo, morfado,
já que quem parece conduzir não possui olhos, o réptil de olhar perdido então,
só poderia andar em círculos, enquanto a visão encoberta da figura feminina
conduz a lugares não de desejo, mas de insatisfação apenas, possivelmente
propulso da força externa.
Apesar
dos braços descobertos, a figura feminina se forma com uma espécie de burca,
que neste caso pode não ser necessariamente referencia direta à uma religião,
mas a um estado social, já que vem ainda adornado com uma cruz. Assim também o
jacaré é símbolo de várias culturas, em algumas como morte, em outras como
renascimento, em casos específicos como na cultura egípcia, seus olhos
representam o sol, o que nesta composição levaria a outra orientação por parte
da determinação direcional do ser. Sendo ainda mais dúbio. Por estarem os
braços nus, podem ser estes os únicos que se apresentem livres, neste caso,
indicando uma vontade. Na tradição chinesa o jacaré é o controlador do ritmo do
mundo e da vida, se o fosse aplicado neste caso, então nada mais natural que
estas forças de poder centralizador e patriarcal viessem como opressão sobre
este ser, levado agora a decisões sob tal véu. Aplicando outras representações
atribuídas ao animal em questão como a proteção, a clarividência e a
transformação energética, no contexto da pintura, o jacaré (ou réptil similar)
vem como uma primitividade que de alguma maneira mantém-se ali, apesar de que o
título indica um ato contínuo, sendo que morfema é um ato de dar forma, ou
seja, a obra expressa um ínterim, causado e causador, um processo.
A efemeridade do ato
quando registrado como motivo da pintura vem para chamar a atenção a uma
especificidade, ainda mais devido a junção de signos religiosos distintos num
mesmo objeto que tem a clara representação feminina, assim atentamos sem muito
esforço o discurso sobre a condição feminina, tão presente na atualidade, ainda
mais sabendo tratar-se de uma obra de 2014. Isto já basta para levantar a
reflexão sobre a temática, mas deixa a dúvida quanto qualquer posicionamento
mais direto, o que permite à discussão não apenas no âmbito da cultura, mas nos
leva à conexão estética primeiramente por sua presença surrealista, o que não
abdica ainda, as relações próprias da psicanálise presente no surrealismo,
muito mais que o discurso politizado de grande parte da arte que suscita o
discurso de gênero feminino na atualidade.
Diego Marcell Ferreira Martins
Curso de semiótica da faculdade de Artes
Visuais
FAP-UNESPAR
Prof. L. A. Salgado
Março de 2016
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