18.3.16

Analise semiótica da pintura Morfose de Sanannda Acácia


Elementos

Signo: A pintura Morfose de Sanannda Acácia
Fundamento do signo: A ideia de formação da mulher com toda carga de opressão cultural partindo de um elemento pantanoso e tudo que isto envolve representado no réptil de um âmago essencial.
Objeto dinâmico ou referente: A condição do gênero feminino em elementos que o formam e cercam.
Objeto imediato: O efeito da morfose do réptil/mulher,
Interpretante dinâmico: Uma saída incompleta de um estado que o ente se encontra.
Interpretante imediato: Um ser hibrido, mutante, causa e efeito de uma condição.

Análise sintática

Do suporte
Feito num papel recortado, (mais ou menos) 20 x 20 cm, em técnica de aquarela.
Da composição
Realizado de forma a manter o equilíbrio tradicional da composição visual, suas formas e cores movem-se proporcionada pela característica da tinta aquarela, porém mantendo o peso e a densidade temática pela escolha das cores e sua aplicação pictórica, fornecendo uma leve distorção que flerta com o onírico, onde a mensagem se adapta a estrutura material ou vice-versa.
            Seu enquadramento mantendo a figura temática central também centralmente no espaço. Com a linha do horizonte compondo dois terços da estrutura do quadro. As formas não são representações exatas dos objetos presentes, com seus traços que não dão prontamente um signo indiscutível, mas trazem a mensagem de forma mais ampla de possibilidades, remetendo até a alguns traços de animação. Ficando a identificação por aproximação.
A pintura realizada em aquarela que remete à suavidade das possibilidades da técnica, que, porém, pela combinação das cores deixando que o quadro ganhe certo peso, pela maneira utilizada sobre o papel.
           
Análise semântica

            As pinturas, da qual esta faz parte, envolvem o universo feminino da artista com relação à sua sexualidade, são sentimentos referentes à sua iniciação sexual. Ela diz que há um culto entre seus 12 e 14 anos e a forma como ela encarou isto; tendo ela passado por um autojulgamento muito forte na pré-adolescência.
            Na Morfose, mais especificamente ela fala do surgimento do julgamento intelectual e moral sobre as coisas, uma passagem de deixar de ser uma vida passiva, o animal que reage por instinto e medo, porém sem abdicar por completo dele, sendo-o ainda de alguma forma, mas agora com capacidade de julgar e avaliar a própria existência, mesmo que possa parecer uma maneira ainda “torta”, como explica a própria Sanannda.
            Por haver também uma referência a organização do espaço da infância sua representação dos cenários levam a sensação infantil na sua espacialidade e em sua perspectiva.

Analise pragmática

A composição envolvente do objeto de Morfose em si corrobora com o mesmo sem deixar evidente qualquer discurso que clarearia demais a essência do objeto principal na obra, pois pode-se perceber o ar pantanoso, mas não pode-se vê-lo com evidencia, ao mesmo tempo que na parte inferior da pintura se é levado mais ao ambiente marítimo, enquanto a parte superior pode-se crer num ambiente mais árido, infernal (tendo como referência imagens apresentadas não apenas na história da arte, mas na literatura clássica, principalmente), um limbo e até um planeta específico como representação deste mundo em que se insere o motivo primeiro. Onde este se apoia, ou seja, o centro da imagem serve como habitat (ao menos temporal) do fenômeno, a clareira pode indicar o momento prévio, mas também indica ao que se dirige, neste caso, a si mesmo, morfado, já que quem parece conduzir não possui olhos, o réptil de olhar perdido então, só poderia andar em círculos, enquanto a visão encoberta da figura feminina conduz a lugares não de desejo, mas de insatisfação apenas, possivelmente propulso da força externa.
            Apesar dos braços descobertos, a figura feminina se forma com uma espécie de burca, que neste caso pode não ser necessariamente referencia direta à uma religião, mas a um estado social, já que vem ainda adornado com uma cruz. Assim também o jacaré é símbolo de várias culturas, em algumas como morte, em outras como renascimento, em casos específicos como na cultura egípcia, seus olhos representam o sol, o que nesta composição levaria a outra orientação por parte da determinação direcional do ser. Sendo ainda mais dúbio. Por estarem os braços nus, podem ser estes os únicos que se apresentem livres, neste caso, indicando uma vontade. Na tradição chinesa o jacaré é o controlador do ritmo do mundo e da vida, se o fosse aplicado neste caso, então nada mais natural que estas forças de poder centralizador e patriarcal viessem como opressão sobre este ser, levado agora a decisões sob tal véu. Aplicando outras representações atribuídas ao animal em questão como a proteção, a clarividência e a transformação energética, no contexto da pintura, o jacaré (ou réptil similar) vem como uma primitividade que de alguma maneira mantém-se ali, apesar de que o título indica um ato contínuo, sendo que morfema é um ato de dar forma, ou seja, a obra expressa um ínterim, causado e causador, um processo.
A efemeridade do ato quando registrado como motivo da pintura vem para chamar a atenção a uma especificidade, ainda mais devido a junção de signos religiosos distintos num mesmo objeto que tem a clara representação feminina, assim atentamos sem muito esforço o discurso sobre a condição feminina, tão presente na atualidade, ainda mais sabendo tratar-se de uma obra de 2014. Isto já basta para levantar a reflexão sobre a temática, mas deixa a dúvida quanto qualquer posicionamento mais direto, o que permite à discussão não apenas no âmbito da cultura, mas nos leva à conexão estética primeiramente por sua presença surrealista, o que não abdica ainda, as relações próprias da psicanálise presente no surrealismo, muito mais que o discurso politizado de grande parte da arte que suscita o discurso de gênero feminino na atualidade.

Diego Marcell Ferreira Martins
Curso de semiótica da faculdade de Artes Visuais
FAP-UNESPAR
Prof. L. A. Salgado

Março de 2016

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