Essas
histórias de contas de banco online são um problema, conta em banco em si já é
um problema. Toda essa burocracia para o funcionamento da sociedade, eu até
entendo, mas é um grande problema, ainda mais pra mim, que sou escritor, que me
escondo e fujo de muita coisa, certa vez me obrigaram a abrir uma conta no
Paypal, é que eu havia ganhado um premio, mas não tinha nada a ver com
literatura, era um premio fotográfico de países de língua portuguesa, mas sendo
fotográfico não precisaria necessariamente ser de língua portuguesa os países
do premio, quem sabe era só pra delimitar a coisa. Tirei o terceiro lugar e então
eles me enviaram o dinheiro numa conta Paypal, cerca de R$2700,00, o que deu
para pagar a edição do meu 1º livro; desde então nunca mais usei a conta, e já
estou no 13°, o segundo com editora, apesar de pequena, ela porém envia o
dinheiro pra minha conta no Banco do Brasil, ainda assim não gosto, sempre acho
que saio perdendo.
Um
dia recebi um email dizendo que minha conta Paypal estava com problema, mas não
liguei muito, já que não havia mais dinheiro nela. Porém depois de três meses
recebendo email resolvi acessá-la, não consegui, mudaram a senha. Então fiz
todo aquele procedimento para requerer nova senha, duas semanas depois
finalmente entro na conta online e vejo os dados todos trocados, os dados são de
uma tal Tereza Alencar do Amapá, sabe quantas Terezas Alencar existem? No Amapá!
Anotei
todos os dados e fiquei muito puto por não poder terminar “O jovem audaz no
trapézio voador” de Willian Saroyan, abri a geladeira cortei uma fatia grossa
de queijo e enquanto mastigava pensava na filha da puta da Tereza do Amapá,
urbanamente falando, prestes a sair minha barriga ainda roncando e meu livro
abandonado no sofá, restando três peixes crus enrolados na cebola, também conhecidos
por rollmops, num vidro na mesma geladeira que havia pego o queijo, rollmops
sempre sustenta por um bom tempo, mais que o queijo amarelo.
Enquanto
eu comia tive outra ideia, a tempos que eu queria comprar uma série de livros
novos nestas megastore’s, uns autores brasileiros reeditados, tudo novinho, no
plástico, chega de comprar em sebo, ratifiquei.
R$389,90
na conta compartilhada com a tal Tereza, livros que terei prazer em abrir e não
ler.
Três
dias depois o telefone toca, é o meu editor, quer que eu vá à editora para
acertar umas questões do ultimo livro.
Marcão
Alvarez me recebe com seu jeito dúbio de sempre e me pergunta:
_ Você já ouviu falar em Paypal?
_ Já (respondo reticente).
_ Estamos pensando em usar uma conta
Paypal para fazer algumas transferências pra você.
Entra um funcionário com um livro meu.
_ Veja como ficou...
_ Deus ex-machina.
_ Ainda não – diz Marcão – pra ser
óbvio, tome um cigarro.
_ Não é gudang.
_ Não é gudang.
_ O Tiago tem gudang – diz o
funcionário. Ele sai da sala, as luzes da editora se apagam, ficamos eu e
Marcão nos olhando em silencio, depois de certo tempo Marcão se serve com
whisky.
_ Você não vai me oferecer?
Ele
continua como se eu não estivesse ali, a não ser como imagem, ele então bebe e
fuça uns papéis, tira da gaveta um livro velho, um livro meu, dos primeiros,
ainda sem editora, um livro de poucas impressões, é o quarto mais precisamente,
e começa a folhá-lo.
_ Este livro é ótimo, infelizmente nunca
venderia, a não ser por uma mulher.
_ Esse papo de livro de homem e livro de
mulher é balela.
_ Quem é o dono de uma editora?
_ Então me diga o que tem neste livro?
_ Paixão!
_ Balela.
_ Você sabe de onde eu sou?
(clec)
Alguém
abriu a porta. Uma mulher muito negra e muito sexy usando um chapéu vermelho e
um sobretudo bege, igual aqueles dos filmes.
_ Esta é Tereza.
_ Tereza Alencar?
_ Tereza Valentin García Lobo.
_ Ela é...
Interrompo.
_ Proprietária da conta? Alencar?
_ Valentin García Lobo!
_ E o Alencar é artístico? Não pode.
_ Não tem Alencar, pare de fazer isso
com a moça.
_ Tudo bem. (Ela responde com seu tom
cada vez mais sexy).
_ É pelo dinheiro dos livros que vocês
me chamaram?
_ Não. Diz Marcão.
Confesso
que estou um pouco assustado.
_ Olha aqui rapaz! (Marcão levanta a voz).
Eu
agarro ele pela cintura derrubando-o e no chão aplico um katagatame lembrando
meus anos de luta na adolescência. A tal Tereza tenta me soltar, ela diz que
ele desmaiou, então eu o solto. No desespero proponho:
_ Vamos, não temos muito tempo.
_ Pra onde?
_ Pro Paraguai, talvez.
_ Eu não quero ir ao Paraguai.
_ Você tá de carro?
_ Sim. É o Escort preto.
_ Vamos pro litoral, lá deve estar um
pouco quente e poderemos baixar a capota.
Eu
só pensava como era bela a noite em movimento fora do carro, e como era linda
essa tal de Tereza que dirigia o Escort conversível.
_ Mas, afinal, por que você fez aquilo
com seu antigo editor?
_ Antigo?
_ Sim, ele não chegou a te contar?
_ O que? Que ele faz parte de uma máfia
que trabalha na fronteira do Amapá com a Venezuela e que eles roubam conta de
banco online?
_ Não, seu bobinho.
_ Ele não é da máfia?
_ O Amapá não faz divisa com a Venezuela!
Diego Marcell
28/7/2014
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