Dedicado a Nelson
Rodrigues, Diogo Mainardi, Lobão e outros contemporâneos
Inspirado após a
leitura do conto Misere, Domine de João Manuel Simões
_ E se essa vida não passar de uma
teoria da conspiração metafísica?
Assim
pensava o ex-seminarista deitado no sofá de sua kitinete no centro da cidade,
já faziam três anos que abandonara o seminário, um antes de se tornar teólogo,
iria defender a predestinação em Santo Agostinho, agora, porém, já não sabia.
Queria
se dedicar aos romances e às prostitutas, já que crescera sob a pressão da
extrema religiosidade católico-romana, o próprio bispo de Hipona já era uma reivindicação
de tudo, mas estranhamente admirava mais o escritor das Confissões antes mesmo
do maniqueísmo; pois enquanto o Jesus pré-adolescente ensinava os eruditos na
sinagoga, o santo africano roubava laranjas, e isto sim era divertido, ou pelo
menos fazia algum sentido, pensava ele.
_ Nunca saberemos por que tantos signos
se apossam da linguagem e nos remetem sempre à infinidade do universo que deve
esconder algum Deus, mas que provavelmente não vem nos visitar ou no mínimo
usar aves como instituição celestial de mensagens. É fato que pode ter alguém brincando
com nossa raça e só a nossa, já que os coelhos estão em paz (inclusive com
relações aos ativismos animais que só pensam nos cães), mas também não penso
que sejam estes Ufos tão concorridos, não seria tão óbvio assim, mas como o óbvio
ulula na população, grande parte é atraída por estas bobagens, já a questão religiosa
não chega a ser tão óbvia como pensam os ateus, pois nascemos nestes contextos
culturais, o trabalho é nos desprendermos disto, nos limparmos, tomarmos a pílula
que Orfeu nos oferece e adentrarmos nos bastidores da Matrix, assim como o índio
nasceu ouvindo sobre Tupã (ou seja lá quem são seus deuses, no seminário e na
escola pública nunca estudamos afundo estas questões territoriais) nós o
fizemos com relação ao Cristo, não falo dos fundadores das seitas, isto está
muito longe de nossas existências que seguem à contingente morte, seria outro
tipo de suposição, essas que eles adoram investigar nestes canais de história e
na revista Super (des)Interessante, futilidades para alimentar a minoridade
intelectual da sociedade, se não fosse por Kant, por Nietzsche, por Pondé,
haveriam de surgir outros, mas importante é conspiração por suposição, prefiro
a conspiração silenciosa e cética que pinga na alma do individuo sobre estas
conspirações impostas por comunas degenerados pelo poder, mesmo que ainda
apenas em potência, prefiro o niilismo de teopossibilidade, já que o niilismo
ateu torna tudo fácil de mais e covarde demais.
Ele
remoia essas ideias furtadas em seu escuro e empoeirado microapartamento e
pensava que precisava de um som melhor para ouvir Ella Frizgerald com
qualidade; nisto pensou que Adorno deveria se
foder, com sua posição em relação à música, principalmente ao jazz, que
restringisse a teoria ao cinema, já que ele nutria grande simpatia pela critica
da Escola de Frankfurt, só não queria perder mais tempo, desta vez sobre as
conspirações acadêmicas.
No
tempo da utopia morusiana do seminário
era fã inconteste de Leonardo Boff, hoje ao vê-lo apoiar o partido dos
trabalhadores sem nenhuma razão “cósmica”, passou a achá-lo só mais um, assim
como sua candidata o decepcionava ao se juntar aos velhos socialistas da
segunda divisão. Em meio ao tiroteio, bem menos transcendental, mas também não muito
calvinista como exposta por Weber, se deparando aos restos de excrementos indígenas
das esquinas (ou será de mendigos?), num misto de repulsa social e orgânica ele
tomava consciência de sua pequenez diante dos fatos, mas ainda assim num
refluxo socrático se via melhor que todos àqueles que emitiam opiniões chulas
na tevê logo cedo; um país de empirismos que lapida seus ícones sobre a
miscigenação de soteropolitanos sem soterologias, uma de suas matérias preferidas
e mais divergentes dentro da teologia.
_ Descubro que minha natureza é má até
como artista, aqui sou falho e a arte só vai importar daqui para frente, fora
da caverna.
E
assim saiu em busca de animais, agora talvez os deixassem viver e só iria
copiá-los, plagiá-los, mimésis como no Kung Fú, estes animais já não se
encontrariam em seu estomago, a não ser por fome fisiológica, queria escorpiões,
já que o acaso destinado lhe empurrava para longe de qualquer filiação Estatal,
o grande demônio fantasiado de Abraxas, com ele não funcionou, lhe destinaram o
profetismo às avessas, que é aquele que luta contra dois, ou seja, contra
todos.
_ Prefiro esperar Godot que esperar o
amor!
A
frase que retumbava sua mente. Já tinha comprado o livro, mas ainda não havia
lido, e aquilo lhe fazia fumar, não conhecia mais quem pudesse lhe vender um
baseado, então fumava o velho cigarro careta aguardando quem seria o próximo que
cruzaria seu caminho com noticias de lá.
Ligou
para o senhor Rouanet e a telefonista responsável pela recepção atendeu, então o
ex-seminarista deixou a mensagem fulminante:
_ Não me enviem mais suas cartas místicas
de carisma, pois não desenvolverei projetos para imbecis julgarem e
protocolarem no nome dos canonizados da tropicalidade e seus filhos e devotos
eternos que desde já foram entronizados no além e nos anais da cultura
celestial.
Diego Marcell
25-10-13
hahaha... é ótimo!
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