22.8.13

Mundo esquecível


            O “ser é perceber e ser percebido” de Berkeley hoje com outra concepção torna-se o meio de vida que mais se destaca na contemporaneidade, este individuo que remixa, que garimpa e que aparece, ele existe diante da massa que também é significante e não mais anônima, mas o ícone pop está além, ele exerce a teoria do filósofo iluminista em níveis avançados da percepção do que é “luz”.
            Se pensarmos que o mundo só existe no individuo, ou melhor, que o mundo é o mundo do individuo, que a dor é do individuo e que o produto do mesmo já não existe para o produtor morto, então retornamos a este estado particular que toda significação é nula se não há significante, estes que na cadeia das relações se fazem significar no outro significante na efemeridade de toda significação, que é neste sentido a efemeridade do mundo, se o mundo só existe para o existente, cada mundo tem seu curto prazo numa esfera de utilização feita através dos vários seres.
            Eu só existo enquanto memória espelhada, após a morte de que valerá ter vivido? Somente como significado na memória alheia até que este outro mundo também se desfaça. Até mesmo a imortalidade da obra deixa de fazer sentido fora do próprio imortal, pois é fato que ele não é e, portanto, jamais saberia que tem tal obra e que é imortal diante de tais mortais até que estes deixem de ser e num acaso já não haja em “outros tempos” um alguém que perpetue isto a outros que virão, o que também não faz diferença alguma.
            Assim como conversava com um mestre em filosofia, este falava da necessidade e do bem das obras adaptadas ao povo infantil, ao discordar e perguntar qual a razão de se adaptarem tais obras ele dizia ser pela cultura, que é fundamental a pessoa saber sobre aquilo e que sendo a obra original do Homero (o exemplo usado) muito difícil até para nós mesmos. Mas se Homero como consequencia da Natureza por uma causa qualquer não viesse a existir isso faria com que toda a historia fosse reduzida, fosse inferior a que ocorreu? E que cultura é esta para o Brasil? E os habitantes originais do Brasil são relegados a quê neste contexto? O que esta cultura grega antiga acrescenta à criança sul-americana filha de bugres no interior de Santa Catarina? E no Japão então onde a cultura tem outra dimensão, eles não pertencem à mesma espécie que eu? E os povos que não tiveram acesso a obra Macunaíma, por exemplo, são inferiores ou a obra de Mário de Andrade não é digna de nada perante a obra de um russo? A cultura verdadeira é a europeia? Então descartaremos todo produto colonizado reduzindo cultura a importações ou se muito quando há interesse das leis federais de exportar um país com seus maracatus remendados? Essas e muitas outras questões podem ser formuladas, mas é importante perceber e atentar que toda esta realidade se faz da futilidade e dos argumentos também compostos âmagonicamente desta futilidade, sem querer dar respostas, ser demagogo quanto à necessidade intelectual que sofremos desta cultura, mas retratar a percepção deste mundo que esvai e que já se faz novamente, mas muito diferente de antes, mais materialmente aplicando à frase de Berkeley que era muito religioso e tem nesta frase atualizada todo oposto da sua fé, que se reverte para uma coisa oca, mas pouco importa, pois ele mesmo já não tem consciência disso, pois para ele esta frase nunca foi dita (pensada) e Homero na sua imortalidade nunca existiu, nem mesmo para o próprio Homero.

Diego Marcell

21-08-2013

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