6.8.13

A utopia na morte


Criar significa salvar-se provisoriamente das garras da morte. (CIORAN, p. 21)

            O Nada me leva aos pontos extremos da vida, como Cioran ensina, devemos morrer a sós, para que a completa solidão nos faça viver conscientemente e ao extremo – nós – nesta morte, mas me aproximar da Utopia me assusta, tomar consciência do fato utópico leva a realidade ao absurdo e transforma o Nada em fé profunda e instigante. A Utopia é o fato mais real da existência, como Heidegger declarou, nossa única certeza é a morte, mas a consciência e suas abstrações que impulsionam o ser não consegue assimilar esta certeza e a transforma em Utopia, fazendo desta a única Verdade. A Verdade sempre nos levará à não-existência, assim dizia o evangelho, a Verdade libertará, aliada a algumas crenças platônicas que nos colocam presos a matéria, portanto o fato de estar vivo e não se prestar atenção à Utopia da morte faz com que a vida seja uma mentira, ou – a Mentira – pelo menos como seres da natureza que pensam a própria condição nesta natureza. Se fossemos somente seres de natureza e não de cultura ou política como disse o outro filósofo, então estaríamos naturalmente na Verdade e não haveria Utopia.
            Por que criamos? Uma das razões é para esquecer a Utopia e viver mentiras imediatas, acabamos transformando utopias em brinquedos e queremos construir uma eternidade com pecinhas. Quando o ser humano se desespera diante da Luz da Verdade quase transpondo a Utopia ele pode tomar diversas novas concepções sobre o que é e o que foi até ali, mas suas mentiras estarão, possivelmente, ainda disputando um espaço com a natureza não-abstrata, dando a entender que ainda há Utopias.

Referencia

CIORAN, Emil. Nos cumes do desespero. São Paulo: Hedra, 2011.

Diego Marcell

03-06-13

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