A realidade gera confrontos que tiram da zona de conforto pessoas, povos ou grupos que fazem para si pequenos “mundos” de humanas estruturas e não contam com as incertezas da vida. O que ocorreu com a religião monoteísta possuidora de uma ética que ao ser perdida e ser reinterpretada de muitas formas que fugiram da sua declaração originária deixando a insegurança da estrutura humana possuir a religião que já neste nível se encontrava estatal ou mesmo hoje que se encontra institucional/política e que ao ser confrontada pelos desafios da realidade local e temporal apelam para respostas que não suprem as questões infundidas pela necessidade de seu tempo e que não convencem aqueles que não possuem a solidez necessária também da realidade religiosa, transportando assim pela falência intelectual a falência espiritual.
A sabedoria divina suscita num momento histórico a resolução deste problema com a proclamação profética e ousada de um deus diferente do que se acostumou encontrar pela teologia que apesar de regionalista trazia características também universais, que é a universalidade do conhecimento de deuses regionais. Quando o dêutero-Isaías (Is 40-55) apresenta uma nova proposta de um Deus pessoal referenciado na escolha abraâmica pré-Israel, ele faz com que este Deus faça sentido e se possa ainda ter fé diante de toda adversidade que o povo sofria vivendo no exílio de uma cultura que proclamava a soberania de um deus como Marduk. Nesta proclamação ele dialoga com a cultura babilônica lhe dando respostas teológicas surpreendentes para qualquer contexto oriental, primitivo ou apenas não-grego ocidental. Apresentar um Deus sem origem, que é então o único que possui poder de ação e que executa, faz dele o único que pode ser deus, desqualificando qualquer entidade nacional na declaração da existência de uma entidade universal, sem poder dar-lhe formas específicas este deus age com justiça não tendo a necessidade de cumprir obrigações políticas próprias dos homens, que era a base religiosa deste tempo que tinha em seu rei a representação do divino na terra.
Se hoje uma sociedade laica como o Brasil não pode assumir esta opção, ela o faz dentro da política institucional religiosa imposta por estatutos doutrinais e dogmas que definem a particularidade e a parcialidade dos deuses atuais representados muitas vezes com o mesmo nome, de baixo do mesmo texto sagrado, mas interpretado e “domado” pela vontade dos líderes destas religiões que hoje são os novos reis, ou seja, os atuais representantes do divino na terra. Quando, porém há confrontação proporcionada pela realidade, estas mesmas bases de pouca ou nenhuma solidez encaminham os homens e seus deuses para o abismo da insegurança existencial-espiritual. É preciso ter hoje novas visões proféticas de releitura teológica da presença do Deus universal que age pela justiça e não pela parcialidade da submissão de nomenclaturas que querem requerer direitos instaurados pela própria falha humana.
Se há este Deus que por ser único e soberano em poder e vontade e nele estar o decreto que se manifesta pela justiça, aqueles que buscam a verdade devem buscar na realidade da vida a esperança da justiça, pois a fé quando baseada na realidade não se furta pelo erro da interpretação religiosa. Um Deus universal é este que não é baseado e tendenciado por nada, mas está sobre qualquer entendimento do divino que se possa ter dentro de contextos humanos. O que o faz Deus de Justiça é sua universalidade.
Diego Marcell
08-2011
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