9.11.11

Missão libertadora

Se hoje a Igreja (corpo de Cristo, invisível) é a representação de Deus na Terra; a igreja (comunidade visível), assim como o que aconteceu com os Hebreus tornando-se etnia, governo político e “raça humana específica”, a “entidade cristã” também esqueceu o princípio libertador da mensagem divina. Se Igreja age segundo o coração de Deus na inspiração que emana da ligação batismal de Jesus e que ela em sua intrínseca volição exerce o que em mistério lhe é dada, já não podemos dizer o mesmo da comunidade que se apresenta visível.
A missão sempre passa por momentos históricos específicos, nunca pára, mas muda de forma, sendo mesmo necessária esta renovação, apesar de estranharmos quando aos olhos humanos ela perde o sentido, tornando-se morta. A cristandade se identifica muito com o Israel do Antigo Testamento que se em essência é eleito, mas que “tal eleição não é uma marca de favoritismo, mas é antes um sinal de obrigação, o resultado de um povo que vive no pacto ou na aliança com Deus... essa responsabilidade de Israel implica anunciar sua eleição em meio aos povos que têm outras religiões e, portanto, outras histórias de salvação.” (GONZÁLEZ, p. 41) Esta escolha torna-se uma responsabilidade de abençoar os demais povos e para isto deve haver a abertura amorosa da aceitação, do bom exemplo e da justiça. Se a instituição se tornou fundamentalista, por elevar apenas o fator existencial-religioso, perdendo a cosmovisão existente nesta ligação humano-teológica que deve aplicar e que a teologia latino-americana reacendeu graças ao contexto que lhe infligiu tal idéia que trouxe à ativa o Deus hebreu do êxodo numa aplicação contemporânea e pôde dar luz onde parecia que as trevas tinham tomado conta, num período dominado por uma teologia da Europa burguesa que era incapaz de atentar para fatos que não faziam parte da sua realidade, uma teologia que não fazia sentido no Terceiro Mundo, uma teologia que aplicaria apenas o abandono do deus europeu aos miscigenados povos colonizados.
A justiça, parte inerente deste Deus que tanto falamos, se faz presente na libertação integral, onde os pobres têm o direito a igualdade, ao diálogo social, a educação e a saúde, e onde os seres humanos em geral como seres pensantes devem perceber que a criação não é objeto de exploração, mas dádiva do Criador para o perfeito caminhar da criatura pela harmonia da totalidade cósmica que contempla o Deus nesta gratidão pela restauração de todas as coisas que se dá pela missão destinada aos escolhidos.
Como diz um trecho da carta final do Clade II:
“No desejo de que Deus cumpra o seu propósito no mundo, em sua igreja e em nossas vidas, e que os povos latino-americanos escutem a voz de Deus.” (ROCHA, p. 178), assim em cada contexto o Senhor age para que a restauração ocorra por meio dos seus escolhidos para o bem de todos e do Todo.

Diego Marcell
08-2011

Referências:

GONZÁLEZ, Justo L. & ORLANDI, Carlos Cardoza. História do movimento missionário. São Paulo: Hagnos, 2008.
ROCHA, Alessandro. Espírito Santo aspectos de uma pneumatologia solidária à condição humana. São Paulo: Editora Vida, 2008.

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