Como Deus é o único Ser estático tendo sua personalidade dinâmica, os seres temporais sentem dificuldade de entender vários de seus atributos, entre um dos principais se encontra a fidelidade do Soberano pelas criaturas.
Se em Abraão se manifesta a promessa, o que mais tarde seria institucionalizado pela religião, vemos, porém em seu ponto de partida a semelhança que podemos tomar como exemplo da manifestação pessoal de Deus hoje manifesto no pensamento pós-moderno da mesma forma que ocorreu com Abraão, deixando a possível idéia de um retorno as origens, do ciclo que se apossa do Universo quando os viventes não esperam, mas compartilham do processo mesmo assim.
Se hoje os evangélicos podem errar ao interpretar a vontade de Deus com relação aos não-evangélicos, a leitura do povo judeu do A.T. é passível de atitudes bem mais obscuras quanto a entender a mensagem de Javé.
Se Ezequiel afirma que Javé havia dado estatutos que não eram bons (Ez 20.25), faz parte da teologia primitiva que atribui a Javé deformações que na realidade os responsáveis são os homens (Bíblia de Jerusalém, p.1507); o que gera o imprevisto, portanto, não é a mudança “do pensamento de Javé”, mas a leitura errada que quando apresentada de outra forma surpreende aquela idéia tomada como divina, mas sendo puramente humana, ou no máximo, humana com resquícios de pinceladas divinas.
Existem alguns pontos que o relacionamento do individuo com seu Deus podem exercer, assim como Abraão podia, mas que a religião por ser uma massa não pode, por lidar de forma muito próxima e palpável com quem dela faz parte, porém que se torna prejudicial ao contexto religioso universal. Por isto mesmo que os profetas acabavam sendo marginais da religião e não seus membros participativos.
É impossível para a religião, abolir de um dia para o outro, todos os adereços sociais, culturais e políticos que lhes fazem parte; o grande peso que Moisés representa no judaísmo em decorrência da tradição que se fortalece com o passar do tempo, fez com que fosse impossível abolir certas verdades que se tornaram absolutas, e não apenas no caso de Moisés, mas também de toda forte influência anterior que desencadeia numa grande religião. Na religião cristã isto também é evidente quando trazemos a carga do contexto dos papas, dos reformadores ou dos grandes símbolos da igreja na história para a igreja do século XXI como absolutos para a salvação ou juízo divino sobre o mundo. Com certeza se Jesus tivesse vivido nos anos atuais, teria atitudes bem diferentes das que teve 2000 anos antes, porém em nenhuma delas afetaria a imutável razão de Deus, da mesma forma que ele não poderia exercer a razão temporal de hoje na palestina de seu tempo e nem a que exerceu com todas as cargas temporais de cultura, política e sociedade, nos tempos de hoje; a teologia do antigo testamento reflete isso em todo o texto sagrado, quando a força da religião sobressai a Razão estática, esta surpreende a razão temporal numa fidelidade conectada a Si e à criação, se tornando imprevisível por ser fiel, e a Sua fidelidade sempre é imprevisível porque rompe com a leitura limitada dos homens e da sua religião, mesclando-se com o contexto atual.
Tanto é a fidelidade de Deus que Ele age hoje da mesma forma que agia a 3 mil anos, apesar de que ao levar em consideração a literatura por si só, isto não pareça verdade. Javé, por exemplo, não desejaria nunca sacrifício algum, porém a cultura religiosa que circundava os israelitas necessitava disso de tal forma que para o judaísmo seria impossível não exercer certos ritos. Sendo assim, Javé recebia como bom, conhecendo a vontade do coração daqueles que praticavam, entrando no tempo e na cultura para exercer um juízo imutável que é o da crença do indivíduo em seu deus. A fidelidade como ação e como sendo o próprio Deus, é estático sendo dinâmico quando entra no tempo, continua imutável, o que deixa imprevisível para a mutabilidade do pensamento temporal.
Diego Marcell
08-2011
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