25.9.11

Sócrates

Segundo histórias contadas por seus contemporâneos, Sócrates era o típico inquieto, combatente da comodidade do sistema; possuidor de grande argumentação e capacidade de raciocínio, ao ponto de atrair e ser seguido por vários jovens, que se não houvesse a interferência socrática em suas vidas, haveriam de acabar como seus pais, como peças de manipulação da estipulada máquina chamada sociedade que era influenciada por um sistema governamental e religioso da época; essa elite vendo uma ameaça de suas peças de reposição não fazerem mais parte desta “ordem” pouco aberta ao individualismo e a uma ainda desconhecida redescoberta do ser, acabou gerando medo e inveja em alguns, dentre eles um poeta chamado Meleto, que acusou o filósofo de corromper a juventude e crer em deuses que não eram os tradicionais da cultura ateniense.
Sócrates instigava nos jovens a busca de algo mais profundo, não apenas o que lhes eram jogados e determinados, assim como a poltrona e a tevê de hoje. Na argumentação refletida para escapar da ignorância por si só. Se formos ignorantes que sejamos conscientes do nosso grau de ignorância, e não uma ignorância camuflada de realidade quase enquadrada em “absoluta” (reflexão particular). É viver cavando o buraco sem fim, quanto mais eu descubro, mais sei que nada sei.
Sócrates buscava a consciência nas ações e nas afirmativas, mas não pretendia se subtrair as normas estabelecidas e as exigências dos preceitos das instituições sociais, políticas e religiosas. Não deixaria seus valores nem na hora da morte. Para não trair sua consciência, recusa-se a declarar-se culpado, consequentemente entrega-se a morte; e não desrespeita a lei, quando seus amigos lhe preparam a fuga nega-se a ir, pois não seria digno viver fugindo em terras estranhas como um fora da lei.
Porém, o homem Sócrates, por ele mesmo não é possível conhecer, pois somente por alguns relatores de sua época que de certa forma o transformaram em mito, decorrente da influência socrática que os discípulos carregam, ou a comicidade que algum teatrólogo decide usar para representá-lo caricaturalmente em seu trabalho; ou admiradores ou adversários, já que ele teria escolhido a comunicação direta e viva do dialogo oral, torna-se difícil reconstruir com fidelidade sua vida e seu pensamento, mas podemos perceber um pouco da sua essência através destes relatos.
Como o editor do livro Sócrates – Os pensadores relata,
Assim, enquanto a atividade pedagógica dos sofistas tinha como conseqüência política facilitar a ascensão na vida pública daqueles que dispunham de recursos suficientes para pagar suas caras lições – e que, portanto, já detinham em suas mãos o poder econômico -, a de Sócrates, exercida em nome do espírito religioso, abria-se a qualquer um que manifestasse situação psicológica favorável à realização do processo de autoconhecimento. Essa forma de seleção dos interlocutores-educandos tornava democratizadora a pedagogia socrática.
A grande preocupação socrática é a alma do ser humano, o que o tornava um perigo a democracia ateniense da época, que analisada ao que nós hoje chamamos de democracia é bem diferente, já que mulheres, escravos e estrangeiros não possuíam direito a cidadania; porém, para Sócrates, se qualquer um pertencente a essas classes excluídas, possuísse “potencial”, Sócrates dialogaria com estes para o aprofundamento das varias questões que podem envolver e pertencer a um ser humano.
Ainda o editor diz que,
É a partir de Sócrates – ou pelo menos é na literatura referente a ele e que se seguiu a sua morte – que surge a concepção de alma como sede da consciência normal e do caráter, a alma que no cotidiano de cada um é aquela realidade interior que se manifesta mediante palavras e ações, podendo ter conhecimento ou ignorância, bondade ou maldade. E que, por isso, deveria ser o objeto principal da preocupação e dos cuidados do homem.
Aí que entra a evolução da pessoa para chegar a ser boa ou má, na busca pelo autoconhecimento; se conseguir decifrar-se, então isso a impedirá de cometer erros, segundo Sócrates.
Percebo uma grande dose de humildade na sabedoria, o sábio reconhece não saber nada, ao contrário do que se acha sábio e sabe menos que aquele que pensa nada saber, porque o que faz dele “sábio” (não num sentido exclusivo da palavra) é o fato dele saber que há muito mais a descobrir e saber que mesmo ele a cada dia sabendo mais, ainda continua sem conhecer grande parte do que há para descobrir. Colocar-se no seu lugar diante do Conhecimento (conhecimento totalitário, inalcançável para o homem) e perceber que há níveis muito mais profundos do que se vê ou percebe.
Encontrei em seu pensamento, muita coerência ao pensamento bíblico, vou dar um exemplo:
...em verdade, o sábio seja o deus e queira dizer, em seu oráculo, que pouco valor ou nenhum tem a sabedoria humana; evidentemente se terá servido deste nome Sócrates para me dar como exemplo, como se dissesse: “O mais sábio dentre voz, homens, é quem, como Sócrates, compreendeu que sua sabedoria é verdadeiramente desprovida do mínimo valor”Ou seja, o menor é o maior. Veja o que diz no livro de Jó, capítulo 28, versículos 12 e 13: “Apesar de tudo isso, o homem não sabe onde encontrar a sabedoria, e a verdadeira compreensão da vida. O homem não conhece o valor da sabedoria; por isso é impossível encontrar um homem verdadeiramente sábio”.
Assim como o grande pregador e teólogo francês Bossuet que o chamou de “divino”; o pregador britânico Spurgeon o comparou a Moisés: “Era Moisés meditando e filosofando em grego”. E o pregador francês Bernard de Clarivaux que elogiando Sócrates e Platão disse: “fontes iluminadas pelos esplendores do gênio, aureoladas pela glória do saber, consagrados e abençoados pela memória dos homens, mas que também se curvaram, humildes e reverentes, diante das provas da existência de Deus, e, a seu modo, o adoraram”.
Um pouco antes de morrer, Sócrates deixou mais dois exemplos éticos (e até divinos) que também são preceitos bíblicos. Quando ele diz: “Não me insurjo absolutamente contra os que votaram contra mim ou me acusaram”; é como se dissesse: “tem misericórdia destes, porque não sabem o que fazem”. E quando ele manda seus discípulos castigarem e atormentarem seus filhos (os de Sócrates) com os mesmos tormentos que ele afligiu a todos, para que não caiam nas banalidades e prazeres do mundo; é como se dissesse: “Ajude seu filho a formar bons hábitos enquanto ainda é pequeno. Assim ele nunca abandonará o bom caminho, mesmo depois de adulto” (Pv. 22:6).

Diego Marcell

REFERÊNCIAS

PLATÃO. Apologia de Sócrates, in Sócrates – Os Pensadores. Editora Nova Cultural, 2004.

BIBLIA VIVA. Editora Mundo Cristão, 1999.

REVISTA FIEL. Editora Central Gospel, nº 49, junho de 2009.

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