23.7.18

            Os vazios me interessam mais que os engajamentos, tenho preguiça, acho infantil; o intelectualóide, os ideólogos e os formais, quanta infantilidade de era. As crenças que movem o mundo, mas movem para o lado, e ao lado o que se tem senão mais do mesmo, do lado só uma punheta que não satisfaz como a grandiosidade das variantes do avante.
            Os intelectualóides dos anos 60 me encantavam aos 17; se você não se encantava aos 17, mas se encanta aos 30, você pertence ao pobre reino do meio do caminho. Agora, se você não tinha o menor interesse aos 17 e aos 30 permanece sem entender, em sua condenação eterna você pode servir a qualquer senhor. De qualquer forma ambos prejudicam a liberdade e o avanço.
            Mas por que falo estas coisas? Porque há outro contraponto. O da ação. Antes desse filme intelectualóide que me deu sono, vi uma entrevista mostrando justamente o que é o produto da massa, e a conseqüente alimentação por uma gama de produtos de industria cultural de baixíssima qualidade, mas não só, já que carregam corpos de almas vazias, mas diferente do vazio que eu falava no início, este sem nenhum porquê existencial de vazio explicitado em nuances baratas de estética rica; o tal vazio destas almas é uma total falta de conhecimento da própria cultura da qual agora passam a representar. Uma baixeza de humanidade, de espírito humano que valha a representar nossa milenar espécie, justamente num período de mitologização da própria condição de espetáculo que se faz a sociedade, dizendo a si mesmo assim que nossa espécie é o dejeto do que poderíamos ser, elevamos ao máximo a visualidade da pobreza de espírito e proclamamos a efemeridade e o esquecimento em nome do eterno agora.
            É isso que me tira o sono? Não, não é. O que me tira o sono é que a doação que a massa dá ao poder tira de mim a condição de dormir as nove horas que necessito. Pensar que a uniformidade é justa foi o que causou todos os males, e a idéia de justiça por este viés se deu por recalque, por medo de sucumbir ao olhar alheio, pela insegurança e incapacidade de reconhecer-se, ou, se reconhecendo-se, pela incapacidade de suportar a condição, não de diferente, mas de inferior pela covardia, sendo assim, assumir-se covarde e ainda gerar permanência da condição de inferior através de uma barganha com o poder, pois o medo de avançar, ou seja, de viver, lhe toma o corpo. Desta forma reflete-se na tela um produto da mesma forma inferior, mas eleito pela grande democracia representativa que é a sociedade do espetáculo regida pelo domínio da mídia por parte do mercado/Estado.

Diego Marcell

14/05/18

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