Nietzsche disse que o budismo é a religião da humanidade cansada, exausta
dela mesma, como parece evidente em nossa era. Eis que em nossa era cansada
sobraram apenas mais duas espécies do tronco que viemos, os chimpanzés e os
bonobos. Ambos não precisaram do budismo nestes milhões* de anos, os chimpanzés
por serem muito bobos pra sofrer, e os bonobos porque encontraram outra
solução. Para anularem o sofrimento gerador da guerra eles optaram por resolver
tudo através do prazer gerado pela relação sexual. Conseguiram mais que os
anarquistas, simplificaram toda existência entre os seus, a uma única lei; se
algo nos deixa triste, façamos um papai e mamãe; se me senti inferiorizado,
deixe te comer de quatro; ou simplesmente, eu to a fim, me lambe aqui. Lá não existe
qualquer valor que os deixe dúvidas, assim o sexo é livre de idade, gênero ou
parentesco, importa é que todos tenham ausência de sofrimento sempre. As fêmeas
mandam, porque numa sociedade em que ninguém espera fazer guerra os machos não têm
porque esconder que “são de boa”.
Os bonobos possuem o esboço da
cavidade da fala, ficaram restritos a nos entender parcialmente e à linguagem
de sinais. Minha questão é, será que se tivessem capacidade de falar eles
teriam construído tal relação social? Não tenho dúvidas que não, com certeza a
fala seria um precedente ao engano, teriam mais meios de entreter o sofrimento,
sem saber que estariam gerando mais sofrimento.
Sabendo disso o iluminado fez jus ao
seu fenômeno pessoal ao pôr em prática a partir da sua observância um processo
lógico, ensinando sobre a existência do sofrimento e o caminho da cessação do
sofrimento. De modo amplo ele ensinou a anulação de todo valor que nossa espécie
criou, ao não aceitar a moeda como esmola, ao não usar perfume ou adereços e
até mesmo assistir a um espetáculo ele nega o valor atribuído a estas coisas
onde o poder por trás destes valores trazem inerentemente o sofrimento, que
existe justamente por negar de alguma maneira fatos da realidade da existência.
As tradições e as atribuições dadas
devem ser ignoradas em nome de uma cumplicidade da espécie, onde é o caminho do
meio, ou seja, da estabilidade.
Apesar de poder compreender e usar a
linguagem de sinais os bonobos nunca precisaram criá-la, pois o ato gerador de
prazer físico foi suficiente para suas existências sem sofrimento, assim como as
armas mais simples e as técnicas mais rudimentares foram suficientes para sua
alimentação.
Portanto se entendermos a anulação
da morte pelo Nirvana como sendo a manutenção de uma espécie que se funde ao
mundo e já não “paga” os karmas justamente por transcender esse estado de
valores, de fato numa humanidade cansada de sua própria razão de ser que é
criar e destruir, o budismo viria como uma forma de preservação não só do homem
como da natureza; o problema seria exatamente que com isso anula-se a natureza
própria da nossa espécie e aí se questiona então a natureza imanente.
Diego Marcell
05/08/17
Pequenos ensaios
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