7.8.17

O budismo e os bonobos



    
Nietzsche disse que o budismo é a religião da humanidade cansada, exausta dela mesma, como parece evidente em nossa era. Eis que em nossa era cansada sobraram apenas mais duas espécies do tronco que viemos, os chimpanzés e os bonobos. Ambos não precisaram do budismo nestes milhões* de anos, os chimpanzés por serem muito bobos pra sofrer, e os bonobos porque encontraram outra solução. Para anularem o sofrimento gerador da guerra eles optaram por resolver tudo através do prazer gerado pela relação sexual. Conseguiram mais que os anarquistas, simplificaram toda existência entre os seus, a uma única lei; se algo nos deixa triste, façamos um papai e mamãe; se me senti inferiorizado, deixe te comer de quatro; ou simplesmente, eu to a fim, me lambe aqui. Lá não existe qualquer valor que os deixe dúvidas, assim o sexo é livre de idade, gênero ou parentesco, importa é que todos tenham ausência de sofrimento sempre. As fêmeas mandam, porque numa sociedade em que ninguém espera fazer guerra os machos não têm porque esconder que “são de boa”.
            Os bonobos possuem o esboço da cavidade da fala, ficaram restritos a nos entender parcialmente e à linguagem de sinais. Minha questão é, será que se tivessem capacidade de falar eles teriam construído tal relação social? Não tenho dúvidas que não, com certeza a fala seria um precedente ao engano, teriam mais meios de entreter o sofrimento, sem saber que estariam gerando mais sofrimento.
            Sabendo disso o iluminado fez jus ao seu fenômeno pessoal ao pôr em prática a partir da sua observância um processo lógico, ensinando sobre a existência do sofrimento e o caminho da cessação do sofrimento. De modo amplo ele ensinou a anulação de todo valor que nossa espécie criou, ao não aceitar a moeda como esmola, ao não usar perfume ou adereços e até mesmo assistir a um espetáculo ele nega o valor atribuído a estas coisas onde o poder por trás destes valores trazem inerentemente o sofrimento, que existe justamente por negar de alguma maneira fatos da realidade da existência.  As tradições e as atribuições dadas devem ser ignoradas em nome de uma cumplicidade da espécie, onde é o caminho do meio, ou seja, da estabilidade.
            Apesar de poder compreender e usar a linguagem de sinais os bonobos nunca precisaram criá-la, pois o ato gerador de prazer físico foi suficiente para suas existências sem sofrimento, assim como as armas mais simples e as técnicas mais rudimentares foram suficientes para sua alimentação.
            Portanto se entendermos a anulação da morte pelo Nirvana como sendo a manutenção de uma espécie que se funde ao mundo e já não “paga” os karmas justamente por transcender esse estado de valores, de fato numa humanidade cansada de sua própria razão de ser que é criar e destruir, o budismo viria como uma forma de preservação não só do homem como da natureza; o problema seria exatamente que com isso anula-se a natureza própria da nossa espécie e aí se questiona então a natureza imanente.

Diego Marcell
05/08/17
Pequenos ensaios

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