Eis a aventura
clichê do escritor falido; mas cabendo a responsabilidade de distorcer o clichê
ouçam o relato, que nem sei onde pode dar, já que nem mesmo sei se de fato sou
escritor.
Abandonado
pela esposa, sem contrato, sem celular. Semana para negócios sou tomado por um
vírus, não posso falar, não sinto sabores agradáveis, assim a fome passa apenas
a ser uma resposta automática da máquina que não convence o representante da
espécie humana. Consequencia: ficar comendo a pasta de carne mais barata do
dia.
A garganta
dói. Mesmo assim fumo. Pergunto sobre o chá para isso, mas fumando? Coloco
própolis, no primeiro razoável. Sem açúcar, que exercício, cortar o açúcar, eis
o poder. E a cerveja, essa não foi tanto poder, é que ela estava horrível, com
essa garganta, sem paladar e fumando, melhor cortar a cerveja. Se tivesse
conhaque talvez estivesse bêbado e sem condições de escrever.
O som também é
afetado. Odeio isso.
Além de tudo,
um coquetel. Remédio pra levar o dia. Parei. Me derrubava, parecia que daria
uma parada cardíaca. Deveria fazer um teste alérgico.
Então devo
optar pelo noturno. Junto com as misturas, alcoólicas do primeiro dia, e a
chuva ácida do segundo, um belo sonho por noite. Nas noites perturbadas, das
sedes, dos despertares, um sonho.
Por que
sonharia com aquela baixista justo essa semana? O que uma foto não faz? Sua
pele escura, e aquelas olheiras lindas.
E nesta noite,
porque sonhei com ela? Uma amiga, assim, do nada? Não tão do nada alguns
subconscientes dirão, mas assim? Nesta semana? Quando nunca.
Estou
novamente nesse caminho. Depois do segundo chá, nesse eu enchi do maldito
própolis, achei que era doce, mas é amargo. Então fingi que era um bitter e
mandei ver mais um comprimido pra noite, afinal, bons sonhos sexuais é o que se
espera numa cidade gelada e imprópria para os doentes.
Então,
lá estou eu em meio ao som mecânico das vozes reproduzidas dos aparelhos
digitais dos outros quartos, retiro minha salsicha da água, coloco num pequeno
prato, banho de vinagre e as parto ao meio. Quando reparo num pequeníssimo
cabinho branco de aproximadamente dois milímetros e meio. Ainda cético e apenas
apreciando a ausência produzida pela madrugada, puxo o minúsculo cabo e eis que
noto uma pequena pena, que por um momento questionei se tratava-se de pequena
asa, mas ao apurado perscrutar revelou-se uma pena mesmo.
Guardei-a
num invólucro de plástico.
Nunca
comi uma salsicha tão ruim!
Diego Marcell
04 de agosto de 2017
Pequenos relatos
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