14.2.17

Teatro das sombras




Os lideres falam mal de alguém, odeio ficar de frente pra fontes de luz, devem ser uns nove em nossa roda, no horizonte um microponto luminoso vermelho em plano-americano pendula e se aproxima até banhar a dimensão discernível, uma silhueta vampiresca, satanicamente invocada de mundo não-dualista, objeto de êxtase, fenômeno estésico, contemplação para os estetas, que materializada, banhada de vermelho como se dela transpirasse suco em mundo vindouro, mas que em acaso premeditado ou por pura metafísica seguisse cena de filme B, se formasse, ao ser interrompido com sequencia tão típica que comprovou-se passível de realidade como de fato se deu, uma gaveta da vida-performance.
            Portas pesadas, obstáculos de circo, catarse espacial, personagens multidão a serem cenário, política à ser pathos marginal de um curta-metragem jamais montado. Eu poderia ser o cara loiro de terno azul calcinha num estado norte-americano, ou o galã dos filmes de Antonioni, mas era só acaso, tiro à esmo em vidraça de açúcar; via uma mímica burlesca a me paralisar, pois quase não sustento seu esvair a sumir entre imagens estáticas, ia em construído blasé e natural sedução para a sensação decaída em noite fria; rosto e bunda a dividirem minha fixação; desejo, mistério e paralisia me consomem em perdida existência, em devaneios niilistas a desejar o vazio preenchido de forma.
            Oh dia da miséria humana a sustentar meus casos, ocaso contingente do abandono de sonhos, mas corpo vivo de vontade, sangue latino sem América para suportar, sou vigilante das criaturas etéreas pois me aproprio das ilusões para decantar a experiência que é ter, mesmo que não se presuma tempo, colho flores de uma marchetaria composta de  silicatos, grafite e outros alótropos do carbono que explodem nas telas de plasma. Eis o elixir de veneno em seringa ausente no pântano sem perspectiva que tateio sem precisar decifrar, ou melhor, que não quero decifrar, mas apenas ser consumido para dentro como que sugado às outras dimensões dos buracos negros.
            Passe seu véu de incenso vertiginoso pelo meu pescoço, e me sugue com seus lábios de serigrafia para que me torne mácula das gerações esquecidas, como fagulha na história que repete genes mal decifrados.
            Vulto incansável das criações vadias me leve às sendas secretas dos seres sem contas de email e sem digitais. Levante a tampa provisória que esconde o silencio mas que ninguém parece notar, e lancemo-nos como olímpicos vândalos das naturezas contemporâneas a ridicularizar passeatas em nome da moral. Assim luto contigo criatura do assombro, já não peço medalha, apenas tesão invocado, composto do que constitui o próprio tesão, sem narrativas nem signos, ser apenas orla de madrugada nem imerso nem secura, fio de navalha a respingar sobre lençol grito de espasmo o sangue das cortinas de seda, o baforar de tabaco em luminária enferrujada, eis tua pele, plexo anônimo que parto sem perceber, numa vingança de espíritos sem casa, são cães que desejariam vestir terno e sentar-se à mesa com um caro pino noir. Mas estão a solta dividindo crimes construídos a base de sanguessugas coléricas, e eu só desejo anulá-las pelo agora, pela ausência de cosmologia e de câmeras de segurança.
            Você é só imagem que pode deformar a cada tempo e resignificar a matéria, o resto passa a ser chama que consome, fogueira em concreto, madeira inflamável sob o risco de romper em histeria e farinha de trigo.
            Os melhores seres são aqueles que aprendemos a invocar sem mantras e sem ritos, sem manuais, sem combinação de palavras, sem dialetos e sem locais sagrados. São os seres imã de poderes naturais sejam naif’s, sejam senseis, a coisa nunca está aí.

Diego Marcell
07/09/2016

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