17.2.16

Dostoiévski via Nelson Rodrigues


            Dostoievski via Nelson faria um conto sobre o professor que transava com as alunas e as tratava bem na escola, mas às tratava super mal na rua, onde elas ficavam traumatizadas e o chamavam de monstro, chorando. Ele então repelia tais atos dizendo
_ É bom irem se acostumando porque depois de casados vocês se acostumarão a ponto de verem a naturalidade de tal ato!
            O conto era pensado pelo escritor que no coletivo havia sentado atrás de um homem cafuzo e um velho descendente de índios do Paraná e no banco ao lado um homem negro do exercito brasileiro.
            O índio de cavanhaque branco não olhava para o lado exceto ao passarem as moças de legging; já o mameluco encarava nosso cabo, este assustado, nervoso, se mexia, mexia em algo, no bolso, na carteira, parecia com medo, parecia o alvo, era o alvo de uma divida anônima, antiga, então o ônibus parou, o negro de pé, o escritor de pé mais atrás, os outros dois sentados, o negro parou, o escritor continuou, facada no crânio, e a mente do homem em coma repete – Dostoiévski via Nelson faria um conto... -.
            O médico, a mãe, o sogro, a enfermeira, a faxineira, todos ouvem ele balbuciar
_ Dostoiévski via Nelson faria um conto.
Voz de bêbado, ele está chapado de remédio na veia.
            Ou então ele para, e não seria nenhuma grande bosta aos dois.

Diego Marcell

7/11/2014

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