Em
meio ao caos da cidade entre guerras civis, um gordo vestido de homem-aranha se
arrasta pelo chão até alcançar a porta de madeira de uma velha loja de
quadrinhos, ele tenta abrir, mas ela está fechada e no vidro colado o aviso –
fechado por tempo indeterminado __/__/1957.
Damos
um salto de tempo e o anão vestido com macacão bege fala com voz jovem enquanto
se arrasta de costas pelo chão e com destreza se levanta escorando na parede,
ele tem uma espécie de chapéu capacete e me manda comprar um aplicativo que irá
me ajudar na “vida louca”, eu um tanto confuso não sabendo se saio deste misto
de barbearia e boteco e pego carona no caminhão da moça que vende arquivos
pirateados.
Antes
de toda essa história, um grupo de amigos havia me levado a uma antiga estação
de trem abandonada que em época de cheia servia de reservatório onde as pessoas
pagavam para se banhar, pois achavam que era medicinal; meus amigos diziam que
eu estava precisando muito do tal banho.
Lembro
que a fila era enorme, eu na cara de pau entrei direto, disse que só ia dar uma
olhada, acho que os porteiros não acreditaram mesmo que eu tava a fim de
banhar-me, alguém foi comigo, quatro ficaram no fim da fila mesmo eu garantindo
que não ia me misturar com aquela porquice.
Quando
entrei e dei de cara com aquele banhado, era como um quintal cheio de lama, uma
espécie de charco, lembro de ter falado que aquilo nem era fundo, mas alguém
dentro da água me garantiu que aquele pedacinho o cobria.
Era
um clima de fanatismo religioso, todos com risos delirantes, e eu o único mal
humorado, apesar de irônico.
Saí
pelo canto, uma escada velha de metal, subi correndo cuidando para não
tropeçar, outra escada, desta vez já dentro da antiga estação, chamei de longe
o resto da turma, havia junto uma menina que não sei se a conheço apesar de me
parecer tão familiar, branca, classe média, ruiva, cabelo bem curto, andrógina,
minha esperança dela ser a única ali que não propagaria as ideias antiquadas do
socialismo, que ela fosse a salvação que há no outro lado, no outro mundo, num
mundo mais clean e menos místico, mais racional.
Voltamos
para admirar o charco numa espécie de cena bucólica do inferno, sentados
próximos a escada enferrujada, não lembro das suas palavras, só lembro da
naturalidade com que lambi sua orelha.
Diego Marcell
2014
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