Quando
trato que comunistas, Sartre e agora anarquistas são românticos, quero dizer
que estes possuem um ideal, acreditam na idealização de algo, almejam um
paraíso, o romântico que se suicidava pela amada, o cristão que se entregava
por esta fé, o anarquista ou comunista que busca na revolução a mudança. De
todos, porém, os cristãos são os menos piores (ou absurdos) pois não são filhos
do conceito de “bom selvagem” de Rousseau, ao contrário, sabem que não prestamos
e que o mundo sob nossa égide está fadado ao fracasso, assim ausência de
governo é coisa natural, mas seres de cultura e portanto de artificialidade, imantados
de vontades e paixões, antinaturais do cosmo instintivo, não podem viver sem
governo, sua ausência não me assegura a diferença de ser e poder existir em
segurança; esta é a liberdade, mas para eles “a garantia do bem-estar de todos
será pré-requisito da garantia do bem-estar de cada um”[1],
ou seja, passo a ser governado por um espírito
de massa alheio, uma “natureza” artificial do social que pode anular-me por ter
o poder de reconstruir este cosmo humano, tal poder de anular a natureza usando
seus mecanismos, a primeira contradição aqui.
Na
atual era dos Black bloc’s, os cybers-anarquistas
e anarquistas do século XXI que ao
ouvirem os ensinamentos de “lutarem contra a iniquidade, mentira e injustiça”
se colocam em outras contradições, a primeira é de lutar por uma vida que não lhes
é vivida, ou seja, continuamos no campo do ideal, o que parece ser o grande
argumento de orgulho de Kropotkin quando diz no inicio de sua conferencia que “admite-se
de boa vontade que o anarquista possui um ideal”[2],
o que deixou claro na história que ter ideal foi o grande erro de nossa
espécie, e anarquistas tendo ideal e se orgulhando disso... partiremos então a
outra contradição, a da anulação de algo para a liberdade, eles dizem que
deve-se acabar com a igreja, por exemplo, numa análise ampliada o
anarco-comunismo quer encerrar a religião pois esta é uma prisioneira do
intelecto, e neste ponto concordo plenamente, menos com a parte de acabar com
ela passando por cima de seus crentes, pois isto se torna contraditório e antilibertário,
pois a religião também é manifestação do espírito de nossa espécie e como tal
no contexto social, uma necessidade, se pela evolução da mesma dentro de sua
natureza ela vier a se tornar obsoleta, aí sim teremos mostrado que demos um
passo adiante, o que me parece impossível, mesmo porque sempre haverá alguma espécie
de substituto para este espírito, sendo que o comunismo marxista é um deles. Então
a contradição toma ares patológicos quando a escritora Elsa Cerqueira faz uma
citação assim: “reconhecemos a plena e inteira liberdade do individuo: queremos
a plenitude da sua existência, o livre desenvolvimento de todas as suas
faculdades (...). renunciamos a mutilar o individuo em nome de um ideal seja
ele qual for”[3]. Então
devemos cancelar objetos de cultura em nome de um novo modo social generalizado
por uma ausência de uma construção histórica, mas por “novas relações sociais,
sob a forma de um contrato voluntariamente consentido”[4]
passível de um concilio de idiotas totalizadores (?), o que é outra evidente
contradição até com qualquer conceito basilar de anarquismo.
Kropotkin
coloca a Anarquia como uma filha das ciências naturais a contrapor as
crendices, até por isso ele elabora esta nova forma de natureza, que está muito
além das ciências naturais, mas é uma espécie de deus de laboratório, ou
melhor, um Big Bang filosófico de laboratório que deseja mudar a ordem natural através
do artificial. O problema é que o preço pago por tal tentativa de revolução é
demasiado elevado e sua garantia de sucesso quase evidentemente nula, por isso
a meu ver a anarquia individualista e a anarquia como espírito que se dispõe a
transvalorar as condições morais é que são o caminho mais seguro e viável para
uma mudança, mesmo que isso faça com que a revolução se camufle na complexidade
da construção cultural que a sociedade realiza diariamente.
Diego Marcell
17/4/14
Nota:
KROPOTKIN. A Anarquia – sua filosofia, seu ideal. São Paulo: Imaginário, 2000.
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