Sergio
Faraco disse que não basta uma vida para ler tudo, por isso lê os clássicos;
isso me gerou outra reflexão, por que ler os clássicos? Apareceu na minha
estante o livro do Ítalo Calvino e estou prestes a me desfazer dele sem ao
menos abri-lo, hoje morreu o João Ubaldo Ribeiro, um cara que sempre quis ler,
a Nélida Piñon falando sobre ele disse em certo momento que o romance não pode
ter o autor nas personagens, o que me gerou outra reflexão: criar. O que é
criar? Criar uma obra de ficção que combine conveniências literárias, o que
importa isto para a vida? Hoje também postei uma foto que tirei em Israel, num
bairro afastado de Jerusalém que eu chamava de hipster, uma espécie de adega ou
restaurante italiano, não sei, onde logo na entrada havia uma bancada com
garrafas de vinho e uma mensagem em inglês que dizia para se aproveitar a vida
agora, porque isto não é um ensaio. Então? Devemos ler os clássicos? Devemos fazer
conveniências literárias? Talvez sim para a primeira pergunta; talvez não para
a segunda.
A
ficção é só argumento em mim, é a própria vida, por isso responde primeiro a
segunda pergunta, não quero conveniências literárias, criar jogos, é fake, o jogo se caracteriza pelo acaso,
pela liberdade, mesmo que sob regras, o romance investigativo, o cúmulo da
besteira, criar um mundo conveniente à finalidade histórica, sem nenhuma gota
de incerteza e fraqueza humanas, por que iria querer me iludir de tal forma se
a própria existência já exerce este propósito?
Vou
colocar mais uma problemática antes de responder a primeira, e mesmo porque lhe
faz parte, de certa forma. Hoje conheci um autor curitibano, falávamos sobre a
filosofia acadêmica, ele me dizia que gostava da filosofia “audível”
(interpretação livre de minha autoria), ou seja, não devemos todos ter acesso
ao pensamento filosófico? Era algo que já trabalhei de leve em meu livro “Crônica
da filosofia brasileira”, mas que após a colocação dele e que converge com a
história dos clássicos, ... o mundo mudou, (acho até que já escrevi isto) e em
consequencia a filosofia mudou, a academia não nos aceita, porque não masturbamos
os antigos (talvez só os contemporâneos, o que torna a suruba mais democrática),
na literatura acontece o mesmo, juro que tentei ler Balzac, ouvindo muitos
falarem que o cara é o melhor e talz,
mas como pular tamanha descrição de folhas amarelas caindo sobre a rua que eu
nem sei onde ela vai levar? Aliado a talvez algum TOC com relação a não deixar
passar nada, deixar nada incompleto, sendo o mesmo que a nulidade! Assim abandono
Guy de Maupassant, onde todos os contos repetem outros três em conflitos
corruptos de nossas almas temporais. Pode ser que eu queira ler os clássicos,
mas a realidade não deixa, e esta realidade é o excesso de ensaio, quem sabe
velho na biblioteca escura, isto se os cyborg’s não me atraírem mais que
Homero, o que é bem provável, apesar de eu gostar das simbologias mitológicas mais
que do Mito em si.
Às
vezes a vida pode se transformar numa ficção de si, transpus isto de tal
maneira que abandonei o cinema, ficou ultrapassado; o teatro ainda me instiga
pelo fenômeno que ele é, vivencia como diria Oiticica. O filósofo poderia
simplesmente tentar uma alteração de consciência canábica e sair pela noite,
isto seria um evento, televisionado e tudo, na pior das hipóteses, ou, no pior
dos mundos, mas em seu melhor seria apenas fenômeno, fenômeno estético sobrepujando
o histórico-social, assim como a turma do Baudelaire, mas em outro nível, entre
maquinas e mentiras, e onde estariam os clássicos a esta hora? Debaixo da
primeira lata de romantismo, com seus labirintos da linguagem, mesmo que alterados
pelo absinto inglês. É isto que quero dizer, não haverá um mundo amanhã, sinto
pelos clássicos, mas somos os últimos trazidos do seu império intelectual, e
amanhã? Bom, às 11 o Bar Tio Sam vai estar de luto enquanto toda nossa geração
no sul ainda nem terá saído debaixo das cobertas, lendo seus clássicos não importa
de que época.
Diego Marcell
18/7/2014
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