Gregor
Samsa tem muitas vidas, muitas reencarnações podemos dizer assim, apesar de que
na atual Republica Checa ele ser um “rola bosta” no Brasil coube virar algo
mais underground, aqui o nome Barata é muito sugestivo em se tratando de língua
portuguesa, é uma palavra musical, uma palavra de batucada, uma palavra de
malícia, uma palavra que possui aura ambígua e portanto instigante.
Os
inimigos de algum rei que eram liderados por outro inseto já usaram milhões de
trocadilhos bregas naquele lado mais trash dos anos 80, o que não deixa de ser
divertido por alguns minutos de euforia e chroma
keys toscos, mas hoje em dia, em novas leituras e releituras de épocas e
eras, temos também novos meios de ver, referenciados que somos por outras cores
e texturas, neste contexto a banda que conseguiu aplicar a psicodelia verde de
uma ervilha em meio aos astros e que possui um hitmaker em devir como John Barba fazendo por meios simples, mas
subjetivos a abstração tornar-se concreto armado na Curitiba solitária, apesar
dos aromas universais que esta capital brasileira apresenta; é por meandros
assim que desemboca o velho espírito de Gregor no sul da América do Sul.
Ouvindo
Medo de barata vi mutações,
antropofagias dos Andrade - Mario e Oswald -, vi o Seu Firmino neto de
Macunaíma e porteiro de algum edifício com mais de 40 anos localizado pelas adjacências
da rua XV; um narrador oculto e onisciente de tais enredos sociais onde a noite
chama a um chope imigrantes do interior com seus subempregos; vi Kafka nascido
no Rio dos anos 20 e sendo influenciado por Nelson Rodrigues, colocando dramas
suburbanos do terceiro mundo em seus romances, novelas e contos, o que não faria
muita diferença de uma Europa do século XIX, pois todos se inspiram pelas batalhas
medievais de oníricos retalhos feitos de frio, barro e maquinas a vapor ou
bondes elétricos (como ocorreu logo depois), e não podemos esquecer a grana
suada, é claro. Fato é que temos narrativas pós-guerra neste discurso radiofônico,
temos um som vindo das origens seminais de nossa gente: nativos, europeus e
africanos batucando ao mesmo tempo; além de conseguir colocar SKA, Mutantes e
Baião sem demonstrar pedantismo pop, fato este só possível a alguns poucos;
apresentar um cenário de gibi sci fi
sem ET’s é algo que particularmente me fascina, culminando com um refrão
marcante típico desta banda que tem vocais e guitarras para suscitar
contemplação tanto à aqueles que possuem o embasamento a posteriori quanto para
desavisados que passam, ou seja, música boa. Fiquem atentos a seus ouvidos,
pois estes certamente não ficarão incólumes a essas melodias.
Diego Marcell
01-10-2013
Cara ja li umas 5 vezes sua crônica e cada vez fico mais satisfeito. De ter alcançado a atenção tão profunda de uma pessoa a música já valeu a pena.
ResponderExcluirObrigado