1.10.13

Ervilhas astrais lançam o single “Medo de barata”


            Gregor Samsa tem muitas vidas, muitas reencarnações podemos dizer assim, apesar de que na atual Republica Checa ele ser um “rola bosta” no Brasil coube virar algo mais underground, aqui o nome Barata é muito sugestivo em se tratando de língua portuguesa, é uma palavra musical, uma palavra de batucada, uma palavra de malícia, uma palavra que possui aura ambígua e portanto instigante.
            Os inimigos de algum rei que eram liderados por outro inseto já usaram milhões de trocadilhos bregas naquele lado mais trash dos anos 80, o que não deixa de ser divertido por alguns minutos de euforia e chroma keys toscos, mas hoje em dia, em novas leituras e releituras de épocas e eras, temos também novos meios de ver, referenciados que somos por outras cores e texturas, neste contexto a banda que conseguiu aplicar a psicodelia verde de uma ervilha em meio aos astros e que possui um hitmaker em devir como John Barba fazendo por meios simples, mas subjetivos a abstração tornar-se concreto armado na Curitiba solitária, apesar dos aromas universais que esta capital brasileira apresenta; é por meandros assim que desemboca o velho espírito de Gregor no sul da América do Sul.
            Ouvindo Medo de barata vi mutações, antropofagias dos Andrade - Mario e Oswald -, vi o Seu Firmino neto de Macunaíma e porteiro de algum edifício com mais de 40 anos localizado pelas adjacências da rua XV; um narrador oculto e onisciente de tais enredos sociais onde a noite chama a um chope imigrantes do interior com seus subempregos; vi Kafka nascido no Rio dos anos 20 e sendo influenciado por Nelson Rodrigues, colocando dramas suburbanos do terceiro mundo em seus romances, novelas e contos, o que não faria muita diferença de uma Europa do século XIX, pois todos se inspiram pelas batalhas medievais de oníricos retalhos feitos de frio, barro e maquinas a vapor ou bondes elétricos (como ocorreu logo depois), e não podemos esquecer a grana suada, é claro. Fato é que temos narrativas pós-guerra neste discurso radiofônico, temos um som vindo das origens seminais de nossa gente: nativos, europeus e africanos batucando ao mesmo tempo; além de conseguir colocar SKA, Mutantes e Baião sem demonstrar pedantismo pop, fato este só possível a alguns poucos; apresentar um cenário de gibi sci fi sem ET’s é algo que particularmente me fascina, culminando com um refrão marcante típico desta banda que tem vocais e guitarras para suscitar contemplação tanto à aqueles que possuem o embasamento a posteriori quanto para desavisados que passam, ou seja, música boa. Fiquem atentos a seus ouvidos, pois estes certamente não ficarão incólumes a essas melodias.


Diego Marcell

01-10-2013

Um comentário:

  1. Cara ja li umas 5 vezes sua crônica e cada vez fico mais satisfeito. De ter alcançado a atenção tão profunda de uma pessoa a música já valeu a pena.

    Obrigado

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