Se
a espécie humana aparece porque surge a razão e esta se apresenta na linguagem
então toda futilidade passa a ter lugar no mundo, como potencia contida neste
novo ser o fútil vai com o tempo ser o fim, importância da vida do homem, ou
seja, a razão gera seu antagonismo, talvez saia daí o entendimento oriental da
vida. Por lógica a arte nasce do próprio homem como individuo, a arte habita
este homem e o homem por ser homem (humano) é artista, mas o que seria a arte?
A
arte surge quase simultaneamente com a religião, se religião é função e arte é
futilidade explica-se sua completude, mas também podemos analisar pelo lado de
bom e mal, se a arte é o que surgiu de bom e a religião para a ruína? Este
prisma pode ser inverso ou nulo ou duplo, não importa muito, importa é que a
causa foi a mesma, junto a isto a droga tem papel fundamental tanto à religião
quanto à arte, então atrelado à razão, de inicio ela não foi suficiente, mas a
droga, a causa de alucinações extra-naturais é que nos possibilitaram o estado
metafísico, a mente não é suficiente como evolução à razão, agora tudo é
possível, expandir ficou a cargo deste novo ser, talvez um ser que tenha virado
deus, mas não sendo divertido o bastante deu vida a deuses sobre si, deuses deste
estado da sua mente.
Lá estava a primeira
obra de arte, a arte rupestre de acesso somente ao próprio artista/xamã, por
isso se alguém argumenta sobre a necessidade do outro na arte, vê que grande
bobagem que isto significa, pois se o artista/xamã quis se expressar ali ele
não fez ao outro de sua tribo, mas aos deuses, ao estado de êxtase, à
libertação desta mente; aqui já entrava em vigor a teofagia, pois o espírito da
caça que conduziu o caçador ao estado de xamã, de escolhido, de iluminado, de
iniciado e de artista. A arte então serve para alguma coisa? Não, se pensar que
a serventia envolve o outro, mas se trata de necessidade egocêntrica, um
remédio que esta própria mente em expansão produz para se salvar. E a religião?
Serve como substituto do peso que caiu sobre a espécie que não suportaria sua
condição de deus, passando assim aos espíritos esta responsabilidade.
Ao
passarmos ao termo, ao mundo já cheio da complexidade dos léxicos, percorremos
três povos diferentes e referenciais para analisarmos em suas próprias
expressões. Em alemão o termo “kunst” deriva de “können” (ser capaz de), muito
próximo de “ars” do latim, que é habilidade, mas isso é coerente com o que se
designa por arte hoje? Em grego o termo techne,
ou seja, técnica nos proporciona varias possibilidades e distância a correlação
com nossa origem discorrida acima e mais próxima à concepção de Schopenhauer
sobre o Belo. Por isso distingo a arte como origem e como conceito de belo
diferente dos termos arte como meio. Posso dizer que o artista pode produzir
uma expressão que não seja necessariamente arte, e nem por isso deixar de ser
artista, já que é muito difícil atribuir a tudo que se chama arte e se é
produzido por artistas não só no mundo contemporâneo, mas já a algum tempo, que
exerça o papel do Belo que é a contemplação pura, destituída de conceitos e
contextos, destituída de razão, fazendo aquilo que já abordamos antes, o
retorno ao ponto de origem, ou seja, a futilidade produzida pela capacidade de
conscientização de utilidades.
A
técnica remete à função, a função à necessidade, contudo aliamos o design em
função da forma, isto o faz belo, o exemplo que podemos tomar no caso da
arquitetura de suma importância, a tecnologia auxilia para que o design seja
ousado e que a técnica exerça o papel destinado neste contexto, mesmo que se apliquem
os estudos de estética neste meio, porém não podemos dizer que aqui se enquadra
a arte pura, o Belo.
A
que manifestações podemos atribuir este Belo? No mundo contemporâneo e repleto
de signos, inundado de informações, dificilmente conseguiremos aplicar o
conceito, com exceção de alguma musica (sem discurso), mas nem ao menos àquela
primeira expressão, a pintura, conseguiríamos remeter uma contemplação que
beire o irracional, talvez deixando este estado mais próximo a acontecimentos
do acaso, o que nos aproxima dos movimentos artísticos ocorridos após a segunda
grande guerra, não que estes fenômenos humanos nos tragam necessariamente a
contemplação como sublime, mesmo porque a partir de agora temos a arte não mais
como belo, mas como grotesco, porém o happening e a performance são
transmutações históricas da arte, em decorrência de todo o histórico, é claro,
mas que nos leva ao pós-arte, o que explicarei em breve, mas compreendendo que
esta Arte não se fez estática na cultura, mas teve suas caminhadas em função
das necessidades dos homens de diferentes sociedades, em vista de diferentes
formas de pensar. Meu objetivo não é contar a historia da arte, que interessa a
mim nem a vocês, por isso não vou adentrar nos detalhes temporais com exceção
de um momento histórico que vai nos levar à definição de conceitos.
É evidente que há o
culto a arte e ao artista dentro da sociedade (pelo menos ocidental) onde este
é colocado ou se coloca como semi-deus (talvez querendo Freudianamente remeter à
sua origem de deus que abandona o cargo), e se falar de arte ou colocar
questões sobre a arte atinge muito o ego das pessoas, porém não o ego criador,
mas o ego deficiente e de baixa autoestima, geralmente, pelo menos no Brasil
que é onde conheço melhor, por nossa gente se levar muito a sério, ou melhor, apresentar
falta de equilíbrio, pois ou somos comediantes onde tudo é piada, do nascimento
à morte, ou somos uns revoltados e ufanistas umbilicais onde a opinião se torna
arma pronta a ferir o próximo no menor lapso de discurso, portanto nem
adentrarei em questões que poderíamos discorrer por muitas e muitas paginas,
sobre os novos objetos de arte surgidos a partir do século XX, isto ficará para
próximos tópicos onde nomearei cada objeto para analise, agora me restrinjo a
colocar o tema, mesmo que não pretenda fecha-lo ou literalizá-lo por conta de
nossa - falha, porém, superior - linguagem, a fala e a escrita de palavras,
quero dizer que nem sempre um charuto é só um charuto, mas enfim, deixo aos
revoltosos que se revoltem e aos livres que divaguem:
Vou
pular vários movimentos de arte, mesmo que fosse imprescindível conhecer para
isto os do final do século XIX pelo menos (que se faça a pesquisa), e também
não especificarei as causas contextuais de tais movimentos, todos possuem um ou
mais, para isto também se faça a pesquisa; quero colocar como ponto culminante
o dadaísmo, este é o ápice da arte e como tal seu fim, fundamental e banal, que
todo iluminismo encontra seu absurdo com a primeira grande guerra e finda-se aí
a modernidade, o dadaísmo tem em fim a compreensão pelo viés do absurdo o que é
esta arte, aqui fecha o ciclo que surge na caverna do xamã/artista, aqui o
polos se juntam e tem inicio um novo mundo cultural, agora unificado, como se o
deus homem tivesse em seus avatares inversos, ou seja na projeção (subida) aos
espíritos seus salvadores por um mundo transcendente que “encarnaria” na
historia, pois só fenômenos existem enquanto discursos a serem emitidos e este
mundo é uma sequencia de fatos. O que
vem após o dadaísmo pode às vezes ainda parecer muito com alguns movimentos
antecessores, mas aqui já se discute outra coisa, ou mundo, outra sociedade; se
o artesanato primitivo era a serialização dos objetos a arte de museu torna
chique este fato, e a indústria transforma o artesanato em grandiosidade, mas o
fato filosófico continua o mesmo, idêntico, somente substituímos a família pela
empresa, S/A; temos o cinema para as classes populares e temos o “fino” exposto
e gargalhado na cara das academias – o hard-edge – e toda variação de coisas
que surgiram após o nazismo neste novo mundo “sob a égide da ONU”, como dizer
então o que é ou que é arte isto?, podemos dizer sim que os artistas estão aí,
mas a morte da arte já foi anunciada naquele cabaré chamado Voltaire em
Zurique, e isso não é nada de ruim como pensam os puritanos, isso é evolução,
já não vivemos lá com eles, também somos historia e é preciso ter consciência
de como se manifesta isto hoje, evidentemente há uma fácil solução a todo este
problema, hoje tudo é arte, pois nada é arte, ou seja, a vida por si só é arte
e basta, pois é a vida desta espécie, esta espécie de Razão que tem a vida que
não tem sentido, aprendeu a fazer perguntas porque é a única espécie que não
tem respostas, as demais espécies não possuem duvidas, pois possuem o instinto,
este sendo a melhor resposta do mundo, enquanto nós em nossos conceitos temos
que conceituar aquilo que nasceu para ser além-conceito, arte/religião que se
religa consigo ou com a duvida, quando chegamos a alta tecnologia e aos mundos
digitais nossa arte também é afetada por isso, já se nota toda essa influencia
na própria academia de “belas-artes” onde a antiarte predomina, isso é ruim?
Repito que não é, mas é arte? Insisto mais uma vez negativamente, mas este
negativo não deprecia, é parte inerente, natural de nosso tempo, precisamos
aceitar esta posição antes que façamos uma terceira guerra mundial por falta de
conhecimento teórico, e onde o Brasil seria um dos que menos podem afirmar
ainda, apesar de todo seu movimento emergente, porém esporádico; agora, aliás,
ninguém apresenta identidade, o oriente continua lá ideologicamente pelo menos,
em seu universo paralelo, e o ocidente já não reconhece o velho continente,
nosso pai foi ultrapassado por um filho rebelde, pois agora a arte indígena tem
o mesmo peso daquilo que trouxeram nossos colonizadores.
Diego Marcell
06-10-13
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