17.8.13

Viver, morrer, mas continuar


            Vejo na tevê, na internet ou na rua esta atitude que o núcleo familiar tem em emitir afirmações exteriores: fotos, jantares, afagos, mas principalmente esta cadeia de relacionamentos baseada em pais, filhos, avós. Cria-se por uma mídia do “lindo”, da felicidade na boca, nos dentes, a propaganda que os homens devem construir e construir em todos os setores, inclusive no do Capital que é dos principais, perpassa a noção de família, o sucesso que deve estar impresso no porta-retratos.
            O velho se regozija no neto, já não há perspectiva sua existência, o seu filho, pai da criança, passa pela fase do fazer, que será percebido como vã ao ocupar o lugar de seu pai, a partir de certa idade já nada tem motivo de sonho, este que é efervescido pela juventude que vê o mundo como um troféu a ser conquistado, pois não sabe ainda que troféus são futilidades efêmeras. A criança vive o onirísmo da maravilha, por isso ela não precisa de drogas, e sente repudio pela racionalização do sexo, porém ela cresce e terá de seguir para o fim, quando de lá se aproxima leva consigo inúmeras cargas pesadas que a sociedade lhe despejou sobre as costas para ter na morte o que foge à natureza, sempre que percebemos que viemos para sofrer e não há aceitação desta condição que pesada na balança só desfavorece, assim se faz a cadeia de se ter filhos para ter uma completude diante da falta, assim se coloca no mundo mais um ser para sofrer, para ser consumido por signos de culpa e para produzir e dar sequencia à cadeia, tendo que apresentar seus relatórios de autoafirmação ao mundo neste ínterim. (Já me acusaram de egocêntrico por não querer ter filhos, mas diante dos fatos só concluo como egocentrismo o fato de alguém querer ter filhos, e se alguém dentro desta sociedade quer fazer algo de bom que adote uma criança nascida da desigualdade deste país).
            Contudo penso que nós como seres que diferem do resto e alteramos a natureza deveríamos iniciar o autoboicote para o Melhor, ao não darmos vida a mais um de nossa espécie evitamos assim que mais um sofra e que mais um venha a dar continuidade a esta cadeia de futilidades. Ao criarmos seres amorfos perante uma coerência natural, cheio de deturpações autotorturantes contribuímos para o sofrimento sem razão patrocinado pelo racional, ou seja, a razão acaba por ser a coisa mais contraditória da Natureza, formando um livre-arbítrio numa condição tão arbitrária que desencadeia uma série de contradições abstratas, e se isso se faz no físico é que eu pergunto – por que? Desse jeito acabamos tendo que dar valor à religião, com isso damos vazão a religião que não passa de reflexo objetivo de toda esta contradição maior. Neste contexto de contradições maiores e menores, a religião nos encaminha para este nascimento que tem o único mote a morte como horror de se viver, ou seja, a morte culpada, que não se aceita, se chora, sente a falta, falta também sugerida por uma cadeia de signos e às vezes em particular pelo da posse.
            Se estes seres amorfos não compreendem nem ao menos corretamente seus próprios produtos de razão (e contradição) e encaminham numa proliferação da derrocada que é instigada pela deficiência do sistema social que produz para o bem, mas não completa pela limitação de se abarcar o grande troféu, que é mentira e, portanto, mal, jogando para a contradição novamente este processo que só favorece uma minoria de representatividade do que é a vida. Apesar de ela ser feita pelo sofrimento, é a representatividade minoritária que pode vender os signos que serão seguidos e consumidos pela deficiência geral da razão, esta razão como entidade, coletiva e individual; partidária e sofrível; a razão para se ter a consciência de algo que não se sabe o que é, sendo assim incognoscível e novamente contradição.

Diego Marcell

16-08-2013 

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