“Achava muito natural o
sacrifício de Abraão, pois teria imediatamente matado pai e mãe, a uma ordem
vinda do Alto; e nada segundo seu ponto de vista, podia desagradar ao Senhor
quando o propósito era louvável. (...)
Perguntava à freira:
- Então, irmã, acha que
Deus aceita todos os meios e perdoa o fato quando o motivo é puro?
- Quem poderia duvidar
disso, madame? Uma ação censurável em si mesma, muitas vezes torna-se louvável em
razão do pensamento que a inspirou.
E assim prosseguiam desenredando os desígnios divinos de
Deus, prevendo as suas decisões, fazendo-o interessar-se em coisas que, na
verdade, não lhe diziam respeito.” (Guy de Maupassant.
Bola de Sebo e Outros Contos. Martin
Claret, São Paulo. 2001. p. 37)
Assim segue quem se veste de
santidade, quem vê tão proximamente Deus que possui liberdade para declarar as
palavras diretas dele em sua conotação mais certeira de vontades e desígnios. Essas
vontades e desígnios que contrariam a ordem natural e humana da Razão numa
distorção divina de um deus inconstante que muda de ideia em situações
esporadicamente especiais para iluminados, mostrando assim sua falta de domínio
sobre a própria criação, declarando sua não-soberania. Isso desde a leitura de
Abraão à profecia de algum crente pentecostal, à afirmação (oração) de um líder
neopentecostal ou à indução servil de algum Hare Krishna capitalista até às
oferendas aos deuses do panteão afro-brasileiro que refletem seu povo no que
diz respeito a fome e ao vício pela cachaça.
Na beleza forçada da devoção às
vidas futuras pelo aprendizado das vidas passadas, das provas num mundo vago em
algum sistema fantástico que reproduz nosso mundo físico, em mensagens de
escritores incansáveis que tornam como trapaceadores da vida terrena quando
depositam informações usando dos seus Chicos e Joãos para perpetuarem seus
talentos de uma de suas vidas mais nobres sobre outras tantas, esquecidas.
Ou dentre tantas seitas cristãs que proíbem
os seus de lerem e saberem de qualquer coisa que não seja produzido por
seus/suas profetas e suas casas publicadoras.
Realmente para todos estes os fins
justificam os meios, ou melhor, para realizarem seus meios colocam um deus nos
confins dos seus argumentos.
Diego
Marcell
31-12-2011
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