A grande questão é: onde comprar um
bom calzone?
Deitado num lugar avacalhado. Deliro
enquanto me levam na maca. Oh enfermeiros, que bela profissão, estou com fome,
vamos procurar um cachorro-quente. Não deve ser recomendado neste caso. Uma pizza.
Ou pede um china. Pizza de gorgonzola. Ou cachorro-quente com purê e
gorgonzola. Como são pessoas boas. Qual a sua especialidade?
A verdade é que já não se sabe
quando a ataraxia, o nirvana ou o ceticismo se dividem quando algumas coisas
doem.
Fazer um gesto de cinema já bastava
às sensações tristes. O problema é andar entre duas dimensões. Os trabalhos estão
atrasados, não há desenvolvimento. As regras estão insustentáveis, insuportáveis.
Deveria pensar em cenas, mas já não há estruturação, senão referências
dispostas ao método de um poema dadaísta.
E o que é verdade, o que é ficção? Todos
se questionam. E importa? São apenas ações.
As ideias boas pra ficção, me vieram
algumas, cenas.
Tosse.
Tantos sintomas juntos e nenhuma
estranheza além da anima rala tão frequente.
As referencias agora se dão
organicamente na vivência, dado a própria vivência, referencia.
No Lado B, a banda como muitas não se
houve o vocal. Ela se encosta em mim e no fliperama, assim como eu me encosto
nele. Ela nem faz meu estilo, muito montada no black. Me pergunta: O que ta achando
da banda? Me aproximo... Ainda (respiro) não (beijo) decidi.
Ela mora ali perto, me carrega pela
rua, cerveja quente, noite úmida. Eu grudo ela na grade, é o meu tipo, pequena.
Porque ela está me levando com tanta pressa? Será um ritual. Você mora com mais
alguém? Uma amiga. Será que a tosse é dessa noite? Essa noite nem ocorreu. Ocorrera.
Jamais saberemos o que ela fez comigo.
Gosto estranho na boca. Larguei o álcool
faz três dias, talvez eu volte na sexta.
Tenho ótimas histórias sobre a
realidade, senhores; mas tenho uma preguiça maior ainda para contar. A verdade
é que o personagem talvez esteja escrevendo seu autor para eximir-se de
qualquer culpa, remorso ou egocentrismo, a ultima partícula de uma glória inútil
por ser efêmera.
Há tantas notas a deixar, aos médicos,
psiquiatras, filólogos, críticos de arte. O autismo, o scanner, a economia de
mercado e o quanto ela afeta a saúde.
Tão desorganizado, para isso e tão
extremamente oposto para aquilo.
Num buraco no centro dessa cidade. A
gente perde a noção de certas coisas. Mas se acostuma com as promoções. Terça é
dia do frango.
Preciso anotar, preciso beber,
preciso só sentir. Impus meus limites quando não me senti confortável. Mas nada
nunca esteve confortável.
Quando quero contar algo, me
desorganizo, talvez por medo da verdade... mas quando é ela de verdade?
Não a culpo por me largar, a culpa é
minha, me faltou interesse em comprar o verdadeiro amor, mas parece que fui
além, e ainda a vendi a ojeriza. No fundo é um teste. Um teste extremo, mas que
serve para matar de vez qualquer projeção, utopia, esperança.
(26/10/17)
O que elas querem de mim? Eu as
desejo – no fundo – para saber sobre mim. Conhecer-me por elas. O que pensava
quando me olhava tão fixadamente? Como esperam que eu reaja? Isso sou eu, a
criação desta vida sob os valores criados para cada contrato. Ah merda com o
termo “contrato”. Busquemos outro conceito às nossas relações, chega de nos
enquadrar nos joguinhos da sociedade jogada no jogo de poder.
Não aceitarei mais termos jogados a
esmo sobre mim sem sabatiná-los!
Ainda que eu more numa valeta quem
poderá instituir realidades exteriores à que se vive?
Considero a fama um grande incomodo,
a verdade é que eu desejaria ter dinheiro suficiente para comprar a amizade de
um médico. De um dentista, do motorista.
Sempre penso em Demócrito em sua
caverna. Mas Pollock precisa pingar. Vamos explodir a escola. Pouco importa a
escola, vão querer pôr outra coisa tão prejudicial quanto no lugar, eles sempre
fazem isso. Demócrito ria. Pollock pintava. E a inteligência artificial ignora
tudo porque ela não precisa sentir. A humilhação que sentimos partirá de nossa própria
pequenez. Se agimos, portanto, é para nos distanciarmos da consciência da
efemeridade de quando já não há mais público e a solidão nos faz mais humanos percebedores da dor, que artistas.
Diego Marcell
2017
/pequenos
relatos
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