21.10.16

O golpe! (baixo): sobre a moral na política




            O termo “golpe baixo” nos remete diretamente a uma luta de vale-tudo, por exemplo, em que há uma única lei moral concordada sempre implicitamente, não atingir os órgãos genitais do adversário, isso porque as dores e as causas de um golpe aplicado ali é o que ainda nos liga à natureza animal não superada, aquele golpe nos impossibilita de sermos humanos latentes da nossa capacidade, nos impossibilita de usar de toda técnica e ciência criada e conquistada, fazendo com que aquele que intencionalmente aplique tal golpe saia da presença de seus pares e se iguale aos animais que dependem apenas do instinto, para uma luta justa na cadeia social, não se aplica golpe baixo, não porque impomos leis, mas porque nos dignamos a uma moral mínima que nos iguala na capacidade da espécie.
            O homem, contudo, criou outras morais, mas essas não básicas. E o que faz a instalação de uma moral não básica, portanto, partindo de uma minoria, é o poder, a verticalidade inerente ao poder. Só que pra se alcançar altos níveis de poder, para controlar assim mais com menos, transfere-se a moral da minoria através do poder da linguagem à deidade, assim exime-se do júri popular o moralista, pois este é apenas o oráculo daquilo que não se explica.
            Quando a deidade se afasta de tal maneira da prática terrena, a moral toma outras proporções criando assim a separação total da imanência da bondade da natureza, fazendo com que surja o dualismo bem/mal. Isso vai gerar toda uma segmentação na prática do convívio social que agora os moralistas destinam-se a salvação dos homens, e essa salvação almeja levá-los àquilo que emana o bem, ou seja, o mundo separado do espírito. Os moralistas já não sabem da origem da moral, há uma montanha entre eles, são operários telepáticos.
            Quando se iniciam os textos utópicos, aqueles que salvarão a humanidade da corrupção pela política sem deus. Transfere-se, porém a fonte de imanência da deidade ao Estado, sendo este àquele que gerará a moral aos demais, porém não se questionou em nenhum momento sobre os mecanismos que compõe o bem, se antes habitavam nas nuvens dos deuses, agora retornam a terra, mas ainda não aos homens (a não ser pela dita representatividade), instituindo o Estado como agente de imanência do bem. E o que fazem àqueles que se dizem comunistas e socialistas, senão serem uma parte de seres humanos que aceitaram de bom grato a transferência moral intacta da deidade ao Estado, mas esta mesma moral que ainda separada da natureza faz com que não possa ser mexida, apesar de mantê-la com sua ontologia da ignorância que era causa de transferência à deidade, agora que não existe deidade era de se pensar sobre suas fontes de imanência, causalidade, que eram justamente o poder da minoria. Mas como explicitar isso os fariam ser o lado mau da espécie, eles preferem manter estático o bem, ou a máscara caiada na ausência para reassumirem o poder através, justamente do Estado, este que sustentará a moral que eles desejam.
            Visto que essas pessoas, tanto os agentes mor, quanto os servos, que se distinguem talvez pelo nível de conhecimento para se utilizar a moral a seu favor daqueles que pelo nível de ignorância precisam da moral para viver, que esse grupo de pessoas ao serem aqueles que estão do lado do Estado, portanto, do lado do gerador da moral, e por consequencia são filhos do bem, ao interpretarem que de fato há este bem, do qual os servos ascendem velas, enquanto os líderes pintam sua face; é natural que agora a salvação não seja mais do espírito, mas seja transferida ao materialismo, sendo assim o reino dos deuses de que aqui (na Terra, na política) seria apenas uma representação, agora passa a ser real pela construção do Estado, onde todos devem ser agentes para materializar finalmente o bem na terra da Utopia. Ao transferir ao material, há agora a necessidade de a qualquer custo fazer concretizar o bem, se antes a esperança estava no post-mortem, agora é para a espécie que segue; para isso é necessário que os fins justifiquem os meios, ou seja, a liberdade e o indivíduo devem ser anulados porque o bem é superior a tudo. A partir desta dialética é que se chega ao totalitarismo, pois é no valor que há nas moralidades do bem muito mais que nos valores das mentes individuais. É preciso por isso a manutenção do bem para que este cubra a origem das morais que é justamente o financiamento do poder. E aqui já identificamos notas de golpes baixos, quando é justamente termos como “empodeiramento” que são criados para satisfazer a massa, porém por este estar de baixo de uma questão maior que abarca o todo e subjugando-o, ele não passa de falso, quando muito parcial.
            Não se negam as conquistas, mas o que é evidente que elas não são causas deste bem, mas do intrincado jogo dialético do conhecimento que foi possível finalmente através da internet, o que ocorre é a apropriação das conquistas dos homens por aqueles do “bem”, o que já era usado nas tradições religiosas, quando por exemplo, o bom sempre pertencia a deus e a seus representantes, nos livros sagrados uma descoberta não era atribuída ao homem, mas a ideia era divina; aqui essa apropriação permanece, porém com toda ausência de sentido, pois a era da informação possibilita que as cabeças individuais apresentem sua moral num jogo de poder horizontal, ou seja, não há como se instaurar a moral.
            Para então o bem se materializar na terra da Utopia e esta passe a ser Topia, é necessário uma revolução, já que o messias não vem, é preciso fabricá-lo, e para isso é preciso passar por cima da lei vigente e de qualquer um que discorde. Após a revolução, para se encaminhar a concretização do bem, precisamos educar o povo, pois educado ele irá construir essa terra, são as formigas. Por isso o totalitarismo é necessário neste período, só que o homem não é a formiga, e seu instinto não é tão importante quanto sua capacidade de criar, então este se nega a transferir sua existência à humanidade (na forma da sociedade instaurada), em essência ele não é “do bem”, portanto ele também quer ter o poder, e no mínimo, o poder sobre si. O que ocorre então é que os das ideias comunistas e socialistas (os servos, incapazes de ter poder sobre si), acham que aqueles que não aderem as mesmas ideias são os malignos, não percebendo que malignos são seus líderes que querem que os servos abdicam da sua existência construindo o mundo ideal para que os medíocres do futuro possam viver sem trabalhar assim como já o fazem os líderes (ou ao menos em grande escala, na comparativa), então finalmente o que o profeta judeu previu de o carneiro andar com o leão será vivenciado já não pela ideia deísta, mas material quando o servo andará com o líder, só que até lá, os líderes que se sucedem mantém-se no poder vivendo como querem enquanto os servos constroem a utopia abdicando da existência por aquilo que não existe de fato.
            Apesar de termos chegado num ponto histórico que ficou claro a furada que era a ideia discorrida acima, ainda assim, aqui nas terras brasileiras, sul-americanas deste terceiro-mundo, elas permanecem martelando na cabeça daqueles que não enxergam além da montanha, e onde os mitos ainda parecem dizer mais que o conhecimento. Por isso se realizam com tanto sucesso alguns mecanismos que fogem à lógica. São mecanismos usados para se fazer a revolução (por incrível que pareça no século XXI o terceiro-mundo ainda pensa em revolução para a terra da Utopia).
            Como o mundo globalizado é sustentado por outros modos de comunicação entre as nações e as culturas, a cultura da humanidade e os aspectos que transcendem as pequenas morais, este é um dos principais fatores que fazem comunistas/socialistas odiarem tanto a globalização, pois exigiu que seus partidos (os oráculos do bem) se adequassem aos modos de mercado e relações econômicas, políticas entre nações, além das questões éticas sobre a violência causada por conflitos com armas cada vez mais potentes. Sendo assim passa a ser muito arriscado formas de revolução à maneira do século XVII, exigindo deles chegar ao poder por outras vias, evidentemente, não completamente honestas, já que a revolução não se pretende honesta, como foi falado anteriormente, em nome do bem que é maior que tudo, pode-se destruir outros valores que se consideram menores, como ética, lógica, liberdade, direitos humanos. Alguns já não se fazem possíveis sem alto risco, por isso vemos recentemente as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia depois de tantas décadas se render a um acordo de paz, pois percebeu-se que com a mudança informacional do mundo certas coisas já não são aceitáveis e para se tentar chegar ao poder é preciso fazer um jogo mais humano. Não que isso os transforme em iguais, mas para não perder o jogo de cara, e continuarem a sua trajetória (que se apresenta cada vez mais incoerente, já que fica cada vez mais difícil justificar o bem) era preciso aceitar certas regras construídas socialmente pela diversidade dos homens.
            É por isso que ao chegar ao poder no Brasil o Partido dos Trabalhadores armou logo um esquema de várias frentes para se manter lá “democraticamente”. Ao inserir a ideia de estado grande, fornecedor de serviços, ele amarra uma rede de corrupção que gera subsídios velados para manter-se perpetuamente. Uma cadeia que também precisa da moral do bem presente na base da pirâmide intelectual e da sua consequencia prática na base da pirâmide financeira, que é a materialização do bem em subsídios, porém restritos apenas ao interesse para uma classe operária, não no sentido literal, mas operária como aquela que opera pela sua passividade a manutenção do poder, através da falta de questionamento, questionamento quanto a existência, pela ausência de autonomia, sempre delegada à força maior e externa que intervém por nós por ser o bem em si.
            Os agentes servos, que são o meio entre os operários e os lideres, é que fazem o trabalho mais absurdo, pois incorporados do espírito desta ideia sãos os diáconos a propagarem na sociedade aquilo que ouviram da boca dos superiores. Isso me lembra um fato ocorrido na faculdade, na licenciatura em artes visuais há uma matéria chamada Organizações Educacionais Contemporâneas, daquelas matérias que são aplicadas por pedagogos sem qualquer conhecimento do curso e do qual não me prenderei pois já tratei sobre em outro texto; mas a aula em questão falava sobre pragmatismo e a professora começou a discorrer sobre o poder da palavra que sobressai a verdade; exemplificava sobre a mídia, quando a Globo fala algo que “não necessariamente era bem aquilo”, ou quando o político fala tal coisa... mas aí instantaneamente me vinha a mente os discursos do Lula nos sindicatos e sua descarada criação de fatos através das palavras, quanto a isso porém, ela jamais admitiria. Assim como jamais faria qualquer estardalhaço se quem tivesse aplicando a reforma na educação fosse a então presidente Dilma, inclusive omitindo qualquer envolvimento da mesma com o assunto.
            Se queremos chegar ao bem (no caso da professora que se diz marxista) através do PT então importa-nos a reprodução do que é dito pelo grande líder dentro do partido, independente se corresponde a alguma verdade, pois o inimigo deve ser combatido não pela via das regras do jogo horizontal entre a humanidade, pois não se joga com um igual, mas com os discípulos do diabo, ou seja do Capitalismo, aqui o bem é quem dita o meio, e neste meio aplica-se o golpe baixo, assim, em nome de algo que nos difere do outro o instinto presente na selvageria do golpe baixo serve não para uma vitória como no reino animal que a selvageria é igualitária, mas serve ao abdicar da conquista de todos que é o conhecimento conquistado pela razão, fixar um tronco de raiz única que necessita anular o diferente para dar seus frutos para o ditame de uma nova espécie para manter o poder de certa minoria que deseja arbitrariamente ver sua moral instaurada para manter-se lá eternamente.
            Esses mecanismos de revolução que são envoltos de comportamento desde já totalitarista, percebem-se instaurados nos agentes servos quando usam descaradamente os próprios atos que ao serem transformados em palavra, falada ou escrita são transferidos ao adversário. Assim, se os revolucionários de Bakunin (que é um falso anarquista) botavam fogo nas barricadas, ele escreveria nas suas cartas das sociedades secretas inventadas pra satisfazer malucos, que os adversários, os comerciantes capitalistas, imperialistas, é que haviam feito (perdoe o anacronismo histórico quanto aos termos). Vamos a uns exemplos da nossa realidade: quando o governo petista pede impedimento de mandato de todos os governos eleitos democraticamente no Brasil recente, nada consta, mas quando o mesmo ocorre com eles ao estarem no poder e, porém ao ser confirmado seu impedimento argumentam ser um golpe, pode-se entender que grande recalque eles sentem com o fato, partindo assim não à lógica, mas passando a utilizar dos golpes baixos. E neste sentido pode-se fazer uma lista incontável apenas se utilizando dos discursos do partido e dos seus fiéis com os fatos. A manipulações dos fatos através do discurso, fácil de convencer preguiçosos que precisam da salvação e de utilidade aos criminosos, aos de alma criminosa.
            Claro que alguns aprendizes de agentes servos talvez não sejam criminosos nem preguiçosos, apenas ignorantes, já que novatos, mas a estes não precisamos nos dirigir, pois se em dado momento haver o despertar de suas existências a natureza resolverá. Porém, o caso das ocupações às escolas é um exemplo de que o espírito totalitarista apesar de anacrônico à sociedade global permanece emitindo seus mecanismos revolucionários. Não vou focar nos detalhes nem nos méritos e deméritos das causas, que creio todos serem muito discutíveis, mas tomarei apenas algumas atitudes como exemplificação do que venho falando. O caso ocorrido com o rapaz do canal Mamaefalei ao realizar um vídeo na ocupação do Colégio Estadual do Paraná, mostra o uso dos mecanismos revolucionários de sobrepor a verdade de forma descarada. Pois toda narrativa das fontes da ocupação se fazem oralmente, porém não se comprovam em imagens (e nesta sociedade hiper audiovisualizada é algo que instiga certa dúvida quanto a credibilidade de ainda se agir assim), há momentos que podem ser acompanhados tanto com imagens feitas pelos ocupantes quanto pelo rapaz do canal - que lá foi para fazer várias questões - em dado momento, quando chega o advogado, nota-se no vídeo dos ocupantes, que há toda uma narrativa sobressaindo os fatos, - que impedem - impediam a mim como espectador tirar minhas conclusões do que estava ocorrendo, pois eu era impossibilitado de ouvir os diálogos, já que o rapaz que filmava ficava emitindo afirmações que não eram identificáveis nas imagens. Já no outro vídeo, do Mamaefalei, você consegue acompanhar as falas de ambos os lados, inclusive quando um dos ocupantes faz uma afirmação, então o rapaz do Youtube reintera aquela afirmação e em seguida ouve-se alguns berros dizendo que ninguém havia dito aquilo, tentando claramente pela altura e quantidade de vozes e palavras vencer o fato. Pra quem quiser pode acompanhar todo material produzido por ambos os lados e tirar as próprias conclusões, inclusive quanto aos depoimentos póstumos dos ocupantes que afirmam atos de agressão que não se comprovam em imagens a não ser por parte dos próprios ocupantes. Isso serve pra ilustrar a maneira utilizada por aqueles que aderem a estes ideais de anulação da diversidade para se impor a moral da qual se crê, ou seja, eles baixam ao nível do instinto, aplicam o golpe baixo, através da capacidade linguística para afetar onde é a ação da espécie humana, ou seja, sua capacidade de falar, criar, raciocinar; eles utilizam isto como animais que negam sua própria natureza humana e construtiva, destruindo pela capacidade física a eles destinada a fonte que é a capacidade intelectual de agir para si como espécie e como indivíduo, como espécie por parte dos preguiçosos e como individuo por parte dos criminosos.
            O preguiçoso aplica o golpe baixo porque é incapaz de lutar utilizando todas as potências, que adormecidas pela falta de exercício sucumbiria facilmente. O criminoso aplica o golpe baixo porque seu caráter é mau, o que o faz não respeitar a lei moral básica, mínima, desejando sobrepujar completamente o outro por ser dominado por ganância, este entregue à falta de domínio dos desejos abdica da conquista do conhecimento possibilitada pela racionalidade, comete assim, crimes contra a humanidade; sendo inepto a condição humana.
            Por isso o golpe baixo é qualidade da selvageria da qual fomos libertados pela natureza. O homem só deve aplicar golpe baixo quando a selvageria atenta contra sua vida, por isso ensina-se nas aulas de autodefesa a chutar o saco do bandido e sair correndo. O homem não pode competir com a selvageria, mas imaginando viver entre iguais apenas pelas capacidades de emitir ideias com palavras ele prova assim que a sua espécie é justamente aquela que encerra-se no um, pelo que compõe as propriedades desse um concluímos ser a liberdade o maior valor da nossa sociedade, isso apesar de nos por em risco ao permitir que este direito seja dado também aos de caráter mau, mesmo assim entendemos que este incomparavelmente deve permanecer como o direito fundamental, pois mantendo esta chama, a liberdade, não damos chance à criação das aberrações em nome do poder. A linguagem por ser de fácil manipulação do intelecto não pode ditar sobre os atos de liberdade, ou seja, o que foi dito não pode ser julgado com a força do julgamento sobre o fato.
            Desta forma deve permanecer a vitória do indivíduo sobre qualquer ideia coletiva, pois é o indivíduo que compõe e fabrica de certa forma a humanidade, gerando o poder unicamente sobre si o individuo formulará sua moral compondo-a pela leitura subjetiva do que lhe é próprio. Estando no mundo ele vai à luta e pelos golpes válidos de serem aplicados ele desenvolve o autoconhecimento que é forjado pela dialética social, enquanto que a ideia do pensamento coletivo vai brigar para anular a dialética para que sua patologia (ou seus pecados capitais) permaneçam vencendo no mundo, seja a preguiça ou a ganância, mas como para se manter perante a espécie sendo assim, eles precisam vestir as roupas do bem para ainda serem aceitos na luta, agora precisamos ter consciência que aceitar não significa que haverá a dialética para uma luta e assim, portanto, com a permanência dessas ideias arrastando multidões faz com que a humanidade ainda tenha que passar grande parte da sua existência se esquivando dos golpes baixos.

Diego Marcell
21/10/2016

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