19.4.16


Não me coloquem em lugar nenhum, não criem caixas pra me enquadrar, se não conseguem distinguir um discurso em meio ao dualismo dessa sociedade retrógrada de herança industrial, é resultado de que deu certo o projeto positivista brasileiro, que é uma deficiência prática, por consequencia gerou uma sociedade cognitivamente prejudicada.
Se não há juízo crítico para ler qualquer expressão que não seja sob o viés de esquerda ou direita, é sinal que deu certo o projeto de guerra instaurado sobre a noção de classes (sejam que tipo de classes possam ser, como transferência ao abstrato), é sinal que vocês subiram na nau e seguem o destino das Índias, ou seja, aquele que vai dar em outro lugar e vai devastar esse lugar, e esse lugar é a nossa alma de brasileiros, é o espírito humano transformado em couro seco na estrada entranhado de pó.
É sinal que o slogan convenceu os intelectuais com seus conceitos emocionais, com suas cores de tinta estatal, com a foto do salvador estampada a cada 500 metros na avenida.
É sinal que o fascismo foi transformado em capacidade motora pra conduzir às formigas em veias bem sedimentadas do subsolo da existência, prestes a cair quando já não forem controladas e enfim a bebida forte tenha-os tomado às vontades.
Enfim, que agora oficialmente transferimos qualquer chance de autonomia aos homens mais podres da sociedade, lhes demos nossa certificação para que devorem nosso cérebro e se lambuzem com nosso sangue, entregamos à escória da sociedade, esquecemos num branco total que existimos além dos processos burocráticos, que o amor é sentimento presente do ato presente, é sensação, sensibilidade aflorada.
Reduzimos o diálogo, o discurso e a retórica a “memes” do lugar comum, a visualidade do outdoor do escárnio, a menosprezar a autoexistência em nome da ideologização que é ilha sem diversidade que tem como guardiões os Bolsonaros e Jeans Wyllys da vergonha de tudo que a humanidade construiu, revertido em puro mecanismo simplificador de movimentos básicos e alimentados por ração, destituindo todo prazer que há nos pequenos atos, nos atos tomados e notados por quem o faz!
Criamos altares ao ego corrompido, como glitch, impossibilitado de caminhar pelo inédito, assim tornamos a meditação numa espécie de coma induzido, reconfigurado já não podemos alcançar seus valores espirituais, pois o espírito berra surdo numa tela de plasma, como se a beleza do absurdo pudesse ser ainda percebida, mas não pode, olho vidrado é regado por objeto biônico para manter votos bissextos.
Artistas transformados em passistas em marcha na espetacularização da falta de reconhecimento do que há logo adiante, para corroborar com as notícias criadas pelos escritórios especializados, fui muito ingênuo ao confiar de que certas pessoas que tenho afeto (e se afeto existia é porque os considerava iguais), de que estes pensavam quando tomavam decisões, mas mal sabia que haviam a muito transferido qualquer noção de liberdade quanto a si para as normas, os padrões e os carimbos das respectivas gavetas indicadas por etiquetas. Por isso só acredito em artistas anarquistas, não estes que precisam pintar um A na jaqueta jeans, mas artistas sem Estado, artistas devidamente sujeitados unicamente à liberdade de criar e de destruir!
Minha tristeza é saber que a caminhada é solitária pelos desertos âmagonicos habitados por larvas-angústias a nadar em aridez e contemplação. Ao tocar minha pele transfere por dedos com unhas sujas à pneumas e Razões os combates luxuriantes da exaustão que chega ao limítrofe da morte. Pois então se assim o é, não abdicarei de mim pela companhia que só pode reproduzir discursos prontos, de massa que possui hino decorado; peço que se vierem ao meu encontro, tragam unicamente uma coisa, a espontaneidade, sabendo que para alcançá-la é preciso uma investigação incansável por todas as guerras possíveis que só se dão no interior dos seres honestos consigo!

Diego Marcell
19/4/16
  


Nenhum comentário:

Postar um comentário